Colunas 9 novembro, 2023
por Redação PerifaCon

O flop injustificado de “As Marvels”

Uma surpresa cômica: a brilhante química familiar de “As Marvels” no meio do gênero saturado de super-heróis

 

Texto por: Hyader

As Marvels é um filme que conquista o público com sua abordagem divertida e fluida. Apesar da trama não trazer muitas surpresas e apresentar cortes bruscos, consequência de mudanças e refilmagens de última hora, a química do elenco brilha intensamente mesmo com diálogos cheios de clichês, resultando em um filme satisfatório em meio à saturação do gênero de super-heróis no cinema.

Sua profunda dependência do universo expandido pode ser um desafio para o público, que precisa assistir pelo menos três séries: Ms. Marvel, WandaVision e Invasão Secreta, para compreender o contexto e a origem de certos personagens. As Marvels é uma continuação direta da série Ms. Marvel, com referências mais evidentes a WandaVision do que Invasão Secreta, esta última parece se mostrar praticamente descartável. Embora eu pessoalmente tenha apreciado essa experiência durante o lançamento das séries, reconheço que isso não foi tão bem aceito pelo público em geral.

A direção de Nia DaCosta, embora sofra com uma sensação de parecer genérica, talvez devido às interferências do estúdio, algo que já se tornou uma marca registrada em alguns diretores do Universo Cinematográfico Marvel, parece bem mais contida e sufocada quando comparada ao seu magnífico e esplendoroso trabalho anterior no reboot de Candyman

A sequência performa bem, em grande parte, graças ao domínio de Nia DaCosta no set e à sua capacidade de extrair o melhor de seu elenco. As performances do elenco se tornam notavelmente mais orgânicas devido a confiança depositada na direçao, conferindo uma autenticidade palpável à dinâmica familiar de “As Marvels”.

Mesmo com esses pontos fortes, os pontos fracos se sobressaem, e a produção tropeça em alguns aspectos cruciais devido à sua natureza de universo compartilhado, que acaba prejudicando a compreensão da trama ao se concentrar excessivamente em conexões desnecessárias, em vez de desenvolver a vilã do filme, interpretada por Zawe Ashton (Bar-Benn), que Infelizmente, ao subir dos créditos, a personagem se torna mais uma vilã inesquecível em meio a outras que já passaram pelo vasto universo Marvel na última década.

Os elementos narrativos podem parecer um tanto previsíveis para aqueles que estão bem familiarizados com o gênero de super-heróis, uma vez que muitos desses filmes seguem uma fórmula que se tornou gradualmente genérica ao longo de uma década do Universo Marvel. Isso pode levar alguns espectadores em busca de reviravoltas impactantes a ficarem desapontados. A produção consegue compensar a previsibilidade por meio de uma abordagem enérgica e ágil no decorrer da história.

Como já era de se esperar, o elenco brilha com performances carismáticas, transformando personagens recém-introduzidos em figuras icônicas e genuinamente cativantes. A interação entre eles é um verdadeiro deleite para os olhos, enriquecendo significativamente o efeito de imersão do filme com atuações excepcionalmente naturais e uma dinâmica familiar que funciona ao apostar inteiramente no carisma de seus intérpretes, que parecem estar se divertindo a cada troca de diálogo, principalmente entre o quarteto protagonista composto por Brie Larson (Capitão Marvel), Teyonah Parris (Monica Rambeau), Iman Vellani (Ms. Marvel) e Samuel L. Jackson (Nick Fury), cujas interpretações elevam a trama a outro patamar graças à fluidez de suas interações em cena.

Repleto de cenas de ação coreografadas com meticulosa atenção aos detalhes e complementadas por efeitos visuais imersivos que ressaltam, de maneira vibrante e distintiva, os variados poderes das três protagonistas em cena, “As Marvels” oferece um entretenimento genuinamente envolvente para os ardorosos fãs da saga.

Ao mesmo tempo, no meio das explosões coloridas de energia, o filme reintroduz os personagens que estrearam nas séries com grande estilo, destacando especialmente a atuação notável de Teyonah Parris. Neste papel, ela finalmente tem a oportunidade de brilhar mais alto, mais longe e mais rápido, passando por uma jornada de autodescoberta, demonstrando habilidades incríveis como Fóton. Parris assume o papel de mentora intelectual do grupo ao dar vida à Capitã Mônica Rambeau, mantendo constantemente sua perspicácia racional e compartilhando seus conhecimentos como cientista para desvendar conceitos científicos da trama para o público.

Vellani interpreta Kamala Khan (Ms. Marvel) como o coração pulsante do grupo, irradiando emoção e alegria. Sua presença eleva a energia da equipe com comentários fervorosos, dignos de uma fã em êxtase ao encontrar seu ídolo.

A função do corpo fica a cargo de Larson, que interpreta de forma intencional uma heroína fora de órbita, desengonçada e introvertida, evidenciando os impactos da solidão no espaço, quase como uma representação simbólica dos temas abordados na canção “Starman”. É como se a personagem estivesse lidando com os desafios emocionais e mentais de estar isolada na vastidão do espaço e, por consequência, da sua própria vida, algo que a canção do Bowie também aborda em sua narrativa cósmica.

Sob a direção de Nia DaCosta, “As Marvels” passa uma atmosfera descontraída de sessão da tarde, proporcionando uma trama divertida impulsionada por um elenco sinérgico. DaCosta demonstra sua versatilidade ao entregar uma comédia com super-heróis intergalácticos mesmo com a presença de uma vilã genérica. A sequência de Capitã Marvel, com expectativas moderadas, se torna uma excelente escolha para aproveitar o final de semana.

As Marvels | Trailer Oficial 2 Legendado