por Sandra Vasconcelos
Além da Trend: “Amina”, de Tasha & Tracie, é ancestralidade e protagonismo da mulher negra
Rainha nigeriana inspira novo single bem-sucedido das rappers brasileiras Após dois anos sem lançamentos musicais, com exceção dos feats, as rappers e irmãs gêmeas Tasha & Tracie voltaram com um lançamento solo: o single “Amina”, produzido por Retro Boy e lançado em 10 de julho. A música, que rapidamente se tornou um fenômeno no Instagram, […]
Rainha nigeriana inspira novo single bem-sucedido das rappers brasileiras
Legenda: “Amina” marca novo ciclo artístico de Tasha & Tracie
Após dois anos sem lançamentos musicais, com exceção dos feats, as rappers e irmãs gêmeas Tasha & Tracie voltaram com um lançamento solo: o single “Amina”, produzido por Retro Boy e lançado em 10 de julho. A música, que rapidamente se tornou um fenômeno no Instagram, no TikTok e nas plataformas de streaming, vai muito além de um simples viral.
Antes de chegar oficialmente à cena, “Amina” já intrigou o público. Em uma entrevista ao Podpah, em março de 2025, as gêmeas esclareceram que o título não é um trocadilho com “a mina”, como muitos imaginavam, mas sim uma homenagem à rainha guerreira Amina, da Nigéria. A escolha se evidencia no refrão:
“Amina, domino essas ruas igual Zazzau; Malibu, com suco de abacaxi natural; Capital, nóis emboscando, pra nóis é o normal”.
Quem foi Amina, a guerreira de Zazzau?
Amina, ou Aminatu, foi uma lendária rainha guerreira que governou o povo Hauçá em Zazzau — hoje Zaria, na Nigéria — por cerca de 34 anos (1576-1610). Nascida por volta de 1533, Amina realizou treinamentos militares desde cedo e, após a sucessão de dezesseis reis, foi nomeada a primeira mulher a comandar o reino.
Segundo as crônicas de Kano, um compilado de tradições orais nigerianas, a rainha inovou ao expandir territórios, investir na produção de metalurgia e abriu novas rotas comerciais. A história conta que Amina teria falecido em batalha no século XVII, impactando negativamente a força politica e comercial da cidade de Zaria.
“Somos arte, somos rua, somos África”
Se Amina veio do Norte da Nigéria, Tasha e Tracie cresceram no Jardim Peri, na Zona Norte de São Paulo. Filhas da brasileira Roseane Aparecida do Nascimento e do nigeriano James Okereke, as irmãs trazem em seu sobrenome uma conexão direta com a terra natal de seu pai, a mesma de Amina.
Em 2014, Tasha & Tracie criaram o blog Expensive $hit, onde mostravam looks montados com peças de brechó, sob o lema:
“Somos arte, rua, África e não damos a mínima pras suas etiquetas”
Desde 2019, as artistas transformam o hip-hop nacional misturando o rap e o funk. Suas letras abordam a cultura negra, o cotidiano da periferia e a ostentação como um símbolo de superação. Elas se tornaram referências em um gênero historicamente dominado por homens, seguindo os passos de pioneiras como Negra Li e Dina Di.
Por meio da figura ancestral de Amina, a dupla destaca o pioneirismo feminino e a força da mulher negra na cena do rap paulistano.
O clipe oficial, dirigido por Steff Lima e Lucas Zetre, fortalece essa mensagem com uma estética urbana e intensa, celebrando a vitória e a autonomia feminina. Nos versos, Tasha & Tracie celebram a vitória por meio de conquistas materiais, citando artigos de marcas como Adidas, Tommy Hilfiger e outras, e quebram expectativas sociais impostas às mulheres, como nos versos a seguir:
“Não existe rivalidade, eu nem lembrava da sua existência […] Preocupar se ele tá com outra? Minha preocupação: Qual carro eu compro?”
