por Thaís Hern
Quando a arte imita a arte: De Hopper à The Batman
O cinema tem o poder de proporcionar um mergulho numa sequência de imagens que nos afetam de alguma forma. Essa construção normalmente não é aleatória e intencionalmente nos leva a um lugar de reflexão, mesmo que a gente não goste do que está assistindo. Para construir essas imagens que se impregnam em nossa mente existem […]
O cinema tem o poder de proporcionar um mergulho numa sequência de imagens que nos afetam de alguma forma.
Essa construção normalmente não é aleatória e intencionalmente nos leva a um lugar de reflexão, mesmo que a gente não goste do que está assistindo.
Para construir essas imagens que se impregnam em nossa mente existem alguns processos criativos envolvidos, começando pela pesquisa e busca de referências estéticas que vão transformar o texto de um roteiro em um produto final lotado de igual personalidade em boa parte dos casos.
Alguns cineastas realizam trabalhos muito específicos, aplicando diretamente as imagens que desejam em suas obras a partir de seus desenhos, como o sketchbook do Guillermo Del Toro.
Outra parte importante desse processo é o storyboard, etapa em que é criado um esboço sequencial de ilustrações ou imagens com a função de pré-visualizar o filme.
Na maioria dos casos, essa função é destinada ao designer de produção, responsável por concretizar os conceitos apresentados no roteiro em parceria do diretor. Um dos exemplos mais relevantes desse caso é o trabalho de Alfred Hitchcock que ao lado de artistas como Harold Michelson e Dorothea Holt, usou sua experiência como desenhista para criar imagens que refletiam exatamente o que a câmera deveria capturar.
Muitas vezes a inspiração para a criação de imagens cinematográficas nasce de diversas influências, como músicas, poemas e pinturas.
Podemos encontrar uma lista enorme de grandes obras que diretamente forneceram elementos para estética de diversos filmes, desde a pintura A Coluna Partida de Frida Kahlo em O Quinto Elemento à O Mistério do Horizonte de René Magritte em Trainspotting.
Mas do meu ponto de vista, ninguém foi mais influente do que o artista Edward Hopper e sua obra Nighthawks.
Hopper é descrito como um pintor cinematográfico, influenciado pelo cinema expressionista alemão e também pelos filmes noir que se apresentam em seus quadros na escolha de planos, sombras, contrastes e temáticas. O cineasta alemão, Wim Wenders, declarou que as pinturas do artista são como ‘o início de um filme’ ou ‘uma cena de abertura a partir da qual você poderia construir uma história cinematográfica’. Já o diretor Ridley Scott disse que durante as gravações de Blade Runner, “estava sempre a acenar com uma cópia desta pintura debaixo do nariz da equipe de produção para ilustrar o aspecto e a sensação que procurava para o filme”.
A influência de Hopper se estende a outras mídias, como no anime japonês Texhnolyze, em Os Simpsons, Bojack Horseman e até mesmo no álbum de Tom Waits, Nighthawks at the Diner.
E se você chegou até aqui se perguntando o que The Batman tem a ver com isso, não se preocupe. A obra mais famosa do pintor também serve de referência para a mais nova aventura do homem-morcego em uma cena que não irei detalhar por motivos de SPOILER.
Edward Hopper faleceu em maio de 1967, pintando até a velhice, mas seu trabalho continua vivo e se reciclando como referência estética para inúmeras gerações de artistas que enxergam beleza e inspiração nas suas criações. É a arte gerando arte.