Banner 24 outubro, 2024
por Redação PerifaCon

O Quarto ao Lado: Amizade, desapego e luto

Pedro Almodóvar, Tilda Swinton e Julianne Moore equilibram dor e humor em um drama sobre os laços que nos sustentam até o fim.

 

Texto por: Pierre Augusto

O diretor espanhol Pedro Almodóvar tem como mérito sua incrível versatilidade em contar histórias, já tendo abordado gêneros como drama, suspense e comédia, com uma maestria de dar inveja a muitos diretores. Em “O Quarto ao Lado”, temos a perfeita combinação do que seria um drama mórbido com um humor de igual morbidez, ao tratar dos pequenos prazeres de uma amizade e do desapego à morte.

O longa adapta o livro “O que Você Está Enfrentando”, de Sigrid Nunez, autora que auxiliou no roteiro ao lado de Almodóvar, recebendo o prêmio Leão de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Veneza 2024.

A escritora de autoficção, Ingrid (Julianne Moore, de Magnólia e Jogos Vorazes), volta a se conectar com uma antiga amiga, a repórter de guerra Martha (Tilda Swinton, de Okja e Suspiria), que agora está à beira da morte devido a um câncer em estágio avançado. Ambas compartilham momentos nostálgicos e voltam a ter uma ligação depois de tanto tempo distantes. Ingrid se torna a confidente das dores que Martha vem passando devido à quimioterapia, até que sua amiga pede ajuda para lidarem com a morte juntas.

A retomada da amizade entre ambas as personagens parece repentina a princípio, mas em pouco tempo a afinidade de suas conversas nos conecta com ambas, especialmente com Tilda, que desabafa sobre a relação distante que possui com sua filha. A veracidade transmitida pelas atrizes é essencial para nos conectarmos com a trama, não só por serem o núcleo principal, mas por estarem no foco das cenas em praticamente 100% do longa, dividindo momentos com a breve participação de Damian (John Turturro, de The Batman), antigo caso de ambas as amigas.

Falar sobre a morte e as dores da vida por quase duas horas pode parecer uma receita para um filme maçante e, no mínimo, melancólico (no sentido ruim da palavra), mas o que os grandes nomes dessa produção fazem é não apenas trazer reflexões sobre o valor do apoio em uma amizade, mas também sobre como encarar o pesar do luto com “humor”. O timing cômico dos diálogos dá ao tema uma leveza linda, muitas vezes nos fazendo questionar se é certo rir em uma situação tão trágica.

Como guia para a reação do público, Julianne Moore se encarrega de uma atuação mais contida, com esporádicas explosões de choro ao lidar com situações nada cotidianas desencadeadas pela personagem de Tilda, que aqui é responsável por despertar cada emoção que sentimos durante essa amizade.

A habilidade para lidar com ambos os temas e sentimentos com a sutileza de “O Quarto ao Lado” exalta o talento do diretor, que, em seu primeiro longa-metragem em língua inglesa, prova que ainda dá aula ao nos conduzir para onde deseja.

Para os amantes das principais características visuais de Pedro Almodóvar, podem ficar tranquilos: está tudo aqui. As cores vivas ditam a personalidade dos personagens e elementos, ao mesmo tempo que o verde, o amarelo e o berrante vermelho (marca registrada do diretor) se misturam nas cenas sem parecer algo deslocado no ambiente. Apesar de conduzir este drama de modo convencional, é extremamente notável a marca do excêntrico diretor espanhol.

Estreia nos cinemas em 24 de outubro.