Banner 22 agosto, 2022
por Redação PerifaCon

O folclore nacional através das animações brasileiras

No Brasil, filmes animados cumprem o papel de defender a preservação da cultura popular do país No dia 22 de Agosto (ou, hoje) é comemorado o chamado DIA DO FOLCLORE. A data, que tem como objetivo celebrar a cultura popular do país , foi oficializada no Brasil em 1965. Naquela época, cultura popular nacional já […]

 

No Brasil, filmes animados cumprem o papel de defender a preservação da cultura popular do país

No dia 22 de Agosto (ou, hoje) é comemorado o chamado DIA DO FOLCLORE. A data, que tem como objetivo celebrar a cultura popular do país , foi oficializada no Brasil em 1965. Naquela época, cultura popular nacional já era amplamente pesquisada há anos, já que em 1951 foi assinada a Carta do Folclore Brasileiro, durante o I Congresso Brasileiro de Folclore, que defendia a importância do estudo e pesquisa da cultura popular brasileira. 

O dia 22 de Agosto foi escolhido por ser a data em que o termo “folclore” teria sido utilizado pela primeira vez, pelo arqueólogo William John Thoms, em 1846. A palavra “folclore” é considerada ofensiva por muitos pois seria uma forma de diminuir e esvaziar crenças e costumes de origem indígena, reduzindo-as a “ficção” ou “mitologia” e não valorizando-as como o patrimônio histórico e cultural que são. Todavia, o termo (originado do inglês “folk lore” que significaria algo como “sabedoria dos povos”) segue sendo utilizado pelos que o estudam e divulgam justamente por ser um termo guarda-chuva que engloba o estudo de costumes e conhecimentos da nossa cultura, e práticas e saberes que são transmitidos  de geração para geração.

Engana-se quem pensa que a cultura folclórica é resumida aos personagens que coloríamos na infância em atividades da escola, isso seria somente a área de “mitos e lendas”. Os costumes brasileiros são boa parte do que é estudado sobre o nosso folclore.

Arte do projeto Folclore BR. Reprodução: Folclore BR – Uma Nova Visão

“O folclore não são só personagens. Folclore significa “sabedoria do povo”, e isso não está parado em mitos e lendas. Existem também danças, simpatias, costume. Meu projeto é partir do senso comum para mostrar o que verdadeiramente é o folclore”, disse Anderson Awvas, em entrevista ao Portal PerifaCon.

Awvas criou em 2013 o projeto Folclore BR: Uma Nova Visão, um movimento cultural que busca ampliar os horizontes sobre o que se entende como folclore brasileiro. Como parte do projeto, o ilustrador tem contato e se envolve com diversas iniciativas que visem trazer visibilidade ao folclore. Um desses projetos é o curta-metragem animado Eu Sou Caipora, no qual Awvas está atuando como produtor executivo. A produção é uma parceria do FolcloreBR  com o estúdio Mutua e tem direção de Thibiz Vieira, roteiro de Roger Bravo, artes conceituais 2D de Leonardo Neto, produção de Iara e artes 3D de Natan Ernani. Confira o trailer:

 No trama da animação, a personagem Luana (voz de Fernanda Ribeiro) é uma garotinha do interior de São Paulo que ama a natureza e embarca numa aventura quando seu amigo, o macaco-prego Quiquinho, é sequestrado por contrabandistas de animais. Motivada a recuperar seu amigo das mãos dos malfeitores, Luana resolve agir como a Caipora, mito folclórico que a menina conhece por histórias contadas por sua avó Marinete (voz de Tânia Vivana), e derrotar os vilões em uma tentativa de proteger a natureza.

Quando o curta decide colocar “caipora” em seu título e uma outra personagem (uma menina real) como protagonista, ele diz ao público que o que está sendo passado de geração em geração não é necessariamente a “lenda” mas sim os valores e o conhecimento que é transmitido pelo povo, tanto que Awvas cita como representações folclóricas do curta não somente a figura da caipora mas também costumes como “desvirar o chinelo” para evitar que um ente querido morra. 

Reprodução: Mutua Filmes

A ideia de trabalhar a história de forma que “caipora” seja mais uma atitude que Luana adota ao invés de uma personagem mantém a intenção do trabalho de Awvas com o folclore: mostrar que a sabedoria dos povos é algo que está em nós em muitos níveis além dos personagens.

Entretanto, os mitos e as lendas que integram a cultura folclórica brasileira precisam de divulgação e pesquisa tanto quanto as outras áreas de conhecimento contidas em estudos folclóricos.

Um outro projeto de animação cobre essas necessidade de defesa e preservação de mitos e lendas enquanto ato de conservação e celebração do conhecimento dos povos que o folclore representa. O projeto é o longametragem animado Além Da Lenda – O Filme que estreou nos cinemas do país inteiro no dia 04 de Agosto de 2022 e conta com direção de Marília Mafé e Marcos França, roteiro de Bruno Antônio, Erickson Marinho e Ulisses Brandão, que também assina a produção executiva do longa ao lado de Gustavo Correia.

O filme, que é o primeiro longametragem animado produzido no estado de Pernambuco, é mais uma extensão do universo da série animada Além da Lenda, que já conta com uma série de livros infantis e também um podcast disponível em diversos agregadores como o Spotify e a Apple Podcasts

Confira o trailer do longa:

Na história, a preservação de mitos e lendas da cultura nacional (em sua grande maioria de herança e origem indígena) é tema central, já que ícones folclóricos brasileiros precisam proteger um livro que preserva as lendas brasileiras e lutar contra vilões que representam o Halloween e a “invasão cultural” que mitos e lendas de outras culturas realizam no imaginário popular brasileiro. Os vilões que representam a celebração estrangeira são o Trio Dia Das Bruxas, formado pela gata-bruxa Witchka, o espantalho Jerry Moon e o espectro Midgnight.

Enquanto na trama a exposição à mitos e lendas de outros países é imposta e representada como uma ameaça antagônica à preservação cultural de conhecimento e cultura popular, o roteirista Erickson Marinho explicou em entrevista ao canal Jornada Animada (de Ana Bassan) como é possível tirar vantagem da presença desse conteúdo estrangeiro na hora de popularizar as narrativas e levá-las para um público jovem e que não possui tanto contato com tais culturas.

“A gente também é muito ligado na cultura geek e pop que está muito em alta hoje em dia, essa linguagem de games e super-heróis (com esses dez anos de filmes da Marvel) e nosso público alvo cresceu com essas narrativas e essas histórias. Então nós procuramos se apropriar um pouco dessa cultura pop.[…] Nós procuramos deixar as lendas mais próximas do conteúdo que nosso público alvo está acostumado a consumir, só que no lugar de ver um homem de armadura ou um homem loiro e musculoso com um martelo, ele vai ver a Comadre Florzinha, o Curupira e ver que eles também são legais que podem servir de referência.”

Reprodução: Boulevard Filmes

Chega a ser irônico (mas não cômico) que a defesa da divulgação e perpetuação de costumes, hábitos e conhecimentos populares como o folclore seja tão presente na área das animações nacionais enquanto o próprio cenário de animação recebe pouco investimento e também carece de mais divulgação.

 É uma via de mão dupla.

O folclore serve de temática para que animações primorosas sejam produzidas (tanto em técnicas 2D ou 3D), assim abrindo portas para que o cenário de animação brasileira siga progredindo. Enquanto isso, projetos como Eu Sou Caipora e Além da Lenda – O Filme  ajudam a levar para as crianças a ideia de que, por mais que o conteúdo de outros países seja divertido e tenha seu papel na formação delas, a valorização de narrativas brasileiras é necessária e valiosa, não só por suas histórias mas também nos significados que essas histórias carregam.