por Redação PerifaCon
Maria Callas traz versão contemporânea de uma genuína tragédia grega
O filme, que abriu a 48ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, está concorrendo às principais Categorias em várias premiações.
Texto por: Ester Nascimento
Será que é verdade que as DIVAS nunca morrem? Em Maria (no original) ou Maria Callas acompanhamos de perto o motivo de certas pessoas serem imortalizadas pela arte. O drama biográfico escrito por Steven Knight(Peaky Blinders) dirigido por Pablo Larraín (Jackie e Spencer), conhecido por produzir cinebiografias de grandes mulheres em momentos sensíveis de sua vida, e estrelado por Angelina Jolie chegou aos cinemas brasileiros em 16 de janeiro de 2025.
Dona de uma voz marcante, beleza excêntrica e angulosa perfeita para os palcos, a artista greco-norte americana era uma menininha pobre nascida em Nova York em 02 de dezembro de 1923 e faleceu em Paris no dia 16 de setembro de 1977 por ataque cardíaco.

Na cinebiografia fictícia passeamos entre o presente e o passado – em preto e branco com figurinos impecáveis – entretanto com uma construção narrativa confusa baseada num recurso que só prejudica a trama: transformar um dos muitos remédios que Maria usava sem a prescrição (mesmo doente) em um repórter. O Mandrax (Kodi Smit-McPhee) tem o objetivo de captar um documentário sobre a mesma enquanto ela simplesmente vivia.
Esse tipo de abordagem tira em partes o peso dramático do que é uma mulher como essas perder a voz, e o significado disso naquela época onde o corpo feminino sempre teve que se submeter a inúmeras situações para sobreviver, até mesmo, para quem estava rodeada de privilégios.
A tragédia não fica por aí, por Maria viver reclusa junto de seus cães e sua governanta (Alba Rohrwacher) e seu mordomo (Pierfrancesco Favino) depois de ter passado boa parte da vida sendo desejada, apesar de nem sempre ser da maneira que gostaria.
Independente dessa trajetória inconsistente, a performance sóbria, contida e moderada de Angelina representou muito bem o que é ser alguém que não faz questão de diferenciar a fantasia da realidade (que pode até fazer alguns chorarem em certos instantes) tem potencial de render à atriz seu segundo Oscar sendo o primeiro foi em 1999, como Melhor Atriz Coadjuvante por “Garota, Interrompida“. Até o momento, a atriz já recebeu indicações ao Globo de Ouro e ao Critics Choice pela produção.
Outro ponto relevante que ocupa bastante tempo de tela é o caso de 9 anos entre a soprana com o magnata Aristotle Onassis (Haluk Bilginer) que afetou significativamente sobre a perda de sua voz, seu holofote e os palcos sem deixar de lado o glamour misturado aos traumas de toda uma vida revisitada pela assombração da excelência do que já se foi um dia.
O ego artístico marca presença de uma das faces desta moeda da garotinha de Atenas que conquistou o mundo, o outro lado é de alguém que deu a vida pela arte se entregando de corpo e alma ao realizar o inimaginável de tirar o som do seu âmago até ele sair pela boca da forma mais sentimental possível,como uma verdadeira musa. A lição que fica sem dúvidas é de que a vida e morte de Maria Callas foram a ópera, e na ópera não há razão.