Colunas 29 março, 2022
por Talita Lopes

Madonna: relembre os 10 anos da era MDNA

O álbum foi marcado por muita polêmica, algo comum na carreira da Rainha do Pop. Madonna é uma das vozes mais conhecidas do mundo pop e da cultura e no último dia 23 completou exatamente 10 anos do lançamento do seu décimo segundo álbum de estúdio, intitulado de MDNA, um título que não é por […]

 

O álbum foi marcado por muita polêmica, algo comum na carreira da Rainha do Pop.

Madonna é uma das vozes mais conhecidas do mundo pop e da cultura e no último dia 23 completou exatamente 10 anos do lançamento do seu décimo segundo álbum de estúdio, intitulado de MDNA, um título que não é por acaso.

A cantora se consolida como uma das maiores artistas dos últimos tempos    com seus quase 40 anos de carreiras estabelecidos, Madonna tem 62 anos de idade de pura jovialidade, resistindo a décadas na indústria musical onde se reinventa e nem o tempo ou envelhecimento, nem as mudanças de épocas e estilos podem parar a sua vontade de fazer o que realmente gosta: arte e revolucionando em cada uma delas.

As polêmicas são apenas um plus em sua carreira, já que a mesma é um ícone para diversas gerações, representando empoderamento feminino e sendo um símbolo para a comunidade LGBT e ativismo em diversas áreas e públicos.

Com influências marcadas por Bowie, Basquiat, entre outros nomes, seu primeiro álbum veio em 1983 e de primeira alcançou a fama mundial. Tendo hoje em dia 14 álbuns de estúdios, 10 turnês mundiais, mais de 20 filmes e mais de 300 milhões de cópias vendidas. Madonna também coleciona Grammys, Globo de Ouro e seu nome no Rock & Roll Hall of Fame, além muitos outros prêmios e reconhecimento.

A ERA MDNA 

Em fevereiro de 2012, Madonna fez sua apresentação no maior evento de Futebol Americano do mundo, o Super Bowl, um show transmitido para diversos lares, além da apresentação ao vivo. O que marcou assim o início dessa nova era. Ela se apresentou com dois nomes conhecidos já da música, polêmicos e de sucesso, a cantora M.I.A e Nicki Minaj. Na época, Madonna alcançou a maior audiência no pico do programa com o seu show. Um verdadeiro espetáculo que fez um passeio por seus antigos sucessos e apresentou seu novo single Give Me All Your Luvin’.

Nesse tempo, Madonna começou a encarar uma nova realidade, novos fãs, e também novos artistas que elevaram o pop na época a outro nível, mas em especial, teve que lutar contra o preconceito com a idade. 

É certo que ela nunca perdeu o seu posto para outro artista, mas as coisas ao entrar nos anos 2010 em diante mudaram e diferente do momento sua entrada no mundo da música, aqui ela precisou se encaixar novamente no mundo em que ela já conhece para conquistar novos públicos, isso se quisesse que suas músicas fossem pedidas na rádio.

Sim, de certa forma levar o nome Madonna não é uma garantia que suas músicas ainda serão tocadas. A cantora chegou a comentar algumas vezes das dificuldades de se inserir nesse novo mercado e nas novas premissas das rádios. Seus fãs foram ficando mais velhos, e conquistar um público mais novo num meio tão diverso e globalizado, acabou tendo um efeito diferente para artistas de outras épocas. 

Esse acesso a internet permitiu que as pessoas tivessem contato com a música muito mais rápido e com a criação de aplicativos – Itunes, Spotify e Youtube, nos deixou conectados por mais tempo com os artistas e seus trabalhos novos e antigos, foram mudadas as formas que a popularidade dos artistas fossem afetadas. 

Madonna durante o Superbowl em 2021.

Fazer sucesso nesse tempo parece ser muito mais fácil que antigamente, mas não. Públicos e disposições diferentes, a compra de uma vaga na rádio, a contabilização de streamings dentro de aplicativos e vendas de singles e álbuns digitais foram reformulados. As brigas entre os artistas, que nunca foi novidade alguma, sendo elas falsas ou de verdade, também se adequaram às necessidades extremas de cada época.

Um meio que já era competitivo, tornou-se ainda mais brutal. E isso significa que o artista precisa usar todos os meios para se destacar no sistema predatório, e as mídias e redes sociais contribuem em peso nisso tudo. São como as revistas de época, mas com as informações muito mais rápidas e fugazes.

Sendo um ícone da reinvenção, Madonna também não tinha mais nenhuma necessidade de se provar como qualquer outra coisa. Ainda assim, tendo 53 anos de idade e 30 de carreira e se quisesse continuar se inserindo no meio, precisaria mostrar ao mundo que você conseguia lidar com o que a época diante de novos nomes no pop que foram surgindo pediam. Lady Gaga, Beyoncé, Katy Perry, Rihanna, são exemplos que chegaram e atraíram toda a atenção do cenário. Esse e outros nomes são frutos que saíram direto da geração em que Madonna ajudou a construir e cada um usou a influência em sua música e estilo para construir seu próprio caminho.

Talento não era o empecilho, mas o etarismo sim. O preconceito com a idade não é um problema exclusivo da Madonna, já que diversos outros artistas da sua época, principalmente mulheres, foram caindo no ostracismo diante da mídia, e obviamente elas continuam sendo reconhecidas pelos grupos que as acompanham ou uma parcela mínima que se interessa por sons antigos, mas não como fenômenos que ainda fazem música e vivem de dar o sangue para conquistar o apelo de novos públicos. E o fato chave, elas não são mais “atraentes”. Mesmo que suas músicas se encaixem com o momento, suas imagens não são mais algo que vendem.

O diferencial está na ambição dos artistas e Madonna tem isso de sobra. Ambição, energia e criatividade. Ambição sempre esteve presente em seus álbuns, e em cada um deles ela procurou destacar em canções e videoclipes os problemas de sua época. Para uma artista que já foi excomungada pela Igreja Católica ao falar abertamente sobre sexo e tabus sexuais, dar espaço para falar sobre a AIDS e apoiar homossexuais numa época conservadora, ela pareceu estar totalmente preparada para encarar uma nova realidade do envelhecimento. 

O álbum MDNA 

A temática do envelhecimento foi diversas pautas da sua era, o álbum MDNA pareceu ser bastante uma releitura visual de seus trabalhos antigos e uma prova que ela conseguia fazer tudo que qualquer outro artista mais jovem fazia. Além de dividir opiniões artísticas, com músicas descartáveis e inesquecíveis, assim como alguns singles chicletes com participações icônicas de Nicki Minaj e M.I.A, o álbum tem suas boas particularidades, como uma sonoridade agradável que facilmente nos leva a pista de dança.

Com quase 52 minutos de duração, algo padrão, o MDNA é um álbum composto por 12 faixas e 3 singles oficiais: “Give Me All Your Luvin”, “Girl Gone Wild” e “Turn Up the Radio”. Suas faixas transitam entre diversos estilos musicais, mas predominantemente o POP e o Eletronic Music Disc

O álbum também teve suas edições especiais em alguns países, dispondo novas faixas e remixes. Além da edição ao vivo, junto com um DVD da turnê mundial.

Além das faixas com aquela pegada de autodeterminação da cantora, muitas das letras ainda se referem ao seu antigo casamento, com o diretor e produtor britânico Guy Ritchie, no qual Madonna teve o seu segundo filho biológico. Mas além de amor e arrependimentos, o álbum também fala muito sobre outros sentimentos humanos como traição, vingança, alegria e até momentos mais banais e cruéis. 

Madonna também é completamente envolvida com a produção dos seus discos, trazendo junto consigo até mesmo sua filha, Lourdes Léon, com participação vocal em algumas faixas. 

Definitivamente, esse não é o pior trabalho da cantora, também não chega nem perto de estar entre os melhores, mas é um adjunto para que ela mostrasse que está ali ainda e quer competir e também podia rodar o mundo com a sua turnê. 

Rivalidade com outros artistas

A época também foi marcada pela rivalidade quase que animalesca entre Madonna e Lady Gaga, muitas vezes mais alimentada pela mídia do que pelas duas de fato. A mídia aproveitava das influências e semelhanças entre as produções de Lady Gaga e os trabalhos antigos de Madonna e usava como argumento que eram como cópias. 

Madonna na MDNA Tour durante a performance de ‘Express Yourself/Born This Way’.

Alimentada pela provocação, Madonna respondia com língua de chicote a todas as manchetes em que envolvia seu nome em relação a Gaga. Apesar de que em certo ponto, Madonna elogiava o seu trabalho e achava fantástico. Diferente do que os tabloides mostravam. Durante um bloco da THE MDNA TOUR, mandou cantou um trecho de Born This Way de Lady Gaga, que constantemente era comparada com um dos maiores sucessos de Madonna Express Yourself. As músicas além de similaridades na composição, também se pareciam com sonoridade. E isso ficou marcado para sempre, já que ela sabia como levantar o barulho do público de fora.

Tour Mundial

Seus últimos trabalhos foram sucesso como sempre. Os títulos Confessions on a Dance Floor e Hard Candy renderam bastante entre tour e venda de álbuns. Trazendo os sucessos com a Confessions Tour e Sticky & Sweet. A S&S tour, em particular, arrecadou ao redor do mundo $489 milhões de dólares. Sendo a artista feminina e solo mais rentável em tour até o momento. Enquanto a The MDNA Tour conseguiu faturar $339 milhões de dólares. Passando pela Europa, Oriente Médio, e as Américas.

A turnê também foi visualmente bonita, dividida em blocos e figurinos chamativos e com referências a suas outras décadas, que deram sentido às letras atuais dispostas no álbum, assim como adicionando alguns clássicos da sua carreira entre elas. Foi a sua maior turnê no total, com 90 shows e passando por diversos locais que a cantora não tinha ido antes. 

Madonna durante a performance de ‘Vogue’ na MDNA Tour.

Madonna descreveu sua apresentação como uma jornada das trevas para a luz, os blocos chamados de Transgression, Prophecy, Masculine/Feminine e Redemption. No início, muito polêmico por sinal, a cantora aparece com um fuzil e um teor violento, que vai se misturando com apresentações de skyline e vários efeitos especiais distribuídos ao longo de 3 gigantes painéis. Além do palco contar com uma estrutura triangular que permitia a passagem e interação da cantora com os fãs, numa espécie de área vip. 

Outras passagens do show é sobre o encerramento, como uma grande festividade onde as similaridades era com uma confraternização com flores e mais grandes clássicos, como Like a Prayer, o que determinava a chegada da “Luz”. 

Outro especial que Madonna sempre trazia ao chegar em diversos países, era usar palavras diferentes tatuadas em suas costas, sobre algum tema político ou acontecimento, além de mudar o seu repertório ou temas referente ao local. 

Problemas Políticos e Religiosos 

O título do MDNA trouxe bastante controvérsias. A abreviação do nome MADONNA e DNA,  foi explicado pela cantora, que ao mesmo tempo também disse que poderia ter outros significados, como o nome da droga MDMA, o ecstasy que libera a dopamina, a euforia e o prazer. O que causou um pouco de controversa entre as pessoas da política antidroga. 

Imagem da MDNA Tour com o rosto de Marine Le Pen, líder da extrema-direita na França.

Em seus shows, Madonna fez também o que fazia de melhor: provocar líderes políticos ao redor do mundo em todos os aspectos. Ela chocou o mundo ao colocar uma suástica no rosto de Marine Le Pen, líder da extrema-direita na França que na época foi criticada pelas políticas de segregação racial. A foto da política aparecia rapidamente durante a exibição de um vídeo de fundo com a música Nobody Knows Me. Marine ameaçou Madonna de processo se a mesma não retirasse o símbolo do seu rosto. 

Outro problema foram as diversas referências a armas em forma de protesto, além das constantes manifestações religiosas e consideradas profanas por diversos países. Madonna chegou a exibir seu seio no show e também criticada publicamente na  Rússia por grupos conservadores que não aceitavam as manifestações pró-LGBT da cantora em seus shows. Madonna também foi alvo de ameaças terroristas por promover propaganda homossexual. 

Mais um sucesso mundial

Apesar de todos os bafafás, a era MDNA conseguiu ser um sucesso total para Madonna. Como artistas, ela se consagra mais uma vez por alcançar números incríveis e diversas avaliações positivas sobre seus shows e disposição para viajar o mundo com uma grande equipe. Como uma artista altamente visual, ela conseguiu mais uma vez alcançar números gigantescos, sendo que em muitos lugares os ingressos dos shows se esgotaram em questão de minutos após a abertura das vendas. 

Madonna durante a Rebel Heart Tour.

A questão da idade continua se perpetuando, Madonna continua rebatendo essas críticas como pauta das suas músicas até hoje e está disposta a deixar seu nome marcado por mais algumas gerações. Após o MDNA, Madonna lançou mais dois álbuns de estúdios – Rebel Heart e Madame X, e fez mais duas turnês para promovê-los. Com a quantidade de shows reduzida nos países, ainda assim ela deu conta do recado. 

Ela sempre deixou claro que queria marcar e dominar o mundo de uma forma ou outra. E a cada ano ela continua reescrevendo seu nome na história musical. Talvez ela não seja a artista mais popular da rádio da semana, mas com certeza seu legado será reconhecido ainda por mais algumas gerações.