Banner 16 janeiro, 2025
por Redação PerifaCon

Flow: água e luz são destaques na animação vencedora do Globo de Ouro

Com uma mistura de contemplação e mistério, Flow convida o espectador a embarcar nessa odisseia junto a uma trupe improvável de animais

 

Texto por Willian Rodrigues

Antes de tudo, é preciso tirar o elefante branco da sala: Flow não tem um único diálogo em todos os 84 minutos do filme. E nem é preciso. Dirigido por Gints Zilbalodis, que também o roteirizou, o filme vai tão direto ao ponto que não sobra espaço para preâmbulos como nomes pessoais ou histórias prévias. O mundo é este e os animais seguiram suas vidas no que restou das edificações outrora habitadas por pessoas. Acompanhamos um simpático gato preto que se vê em meio a uma inundação, o levando a uma viagem com um grupo de bichos.

O cineasta letão brinca com diversas situações envolvendo esse improvável time, e por vezes induz o espectador a esperar comportamentos humanos desses animais, para segundos depois nos lembrar que essa história não envolve os humanos. Essa brincadeira é recorrente em toda a película, que aposta na contemplação de cenários. E nesse ponto, me permita fazer um elogio, ele acerta de uma forma belíssima, com iluminação digna de jogos de vídeo game, com suas tecnologias de “ray tracing” e afins. O problema é que essa alma contemplativa pode cansar espectadores que não estejam envolvidos com a história.

Os paralelos com os videogames continuam na forma como a história é conduzida. Em diversos momentos, me peguei relembrando jogos como Flower (2009) e Journey (2012), que se propõem a ser experiências narrativas e não simples jogos. Em vários trechos, torcemos pelo bichano, especialmente as crianças. Mas há também semelhanças com o filme As Aventuras de Pi (2012), pela dinâmica entre o grupo de animais, que, além do felino, inclui uma capivara, o “capitão”; um lêmure, o personagem “avarento” do grupo; um simpático cachorro; e um serpentário — ave semelhante a uma garça — que representa a força do time. 

Há uma curva de aprendizado entre os personagens, seja no desapego ou no senso de proteção dos demais, mas, de novo, esses são apenas sentimentos humanos que o diretor emula nesses animais. Essa não é a primeira aventura do diretor em longa metragens. Em 2019 ele dirigiu Away, que ganhou a premiação de melhor animação do Festival Europeu de Cinema Fantástico de Estrasburgo, onde já demonstrava uma tendência à contemplação de paisagens exuberantes. 

Em diversos momentos os próprios personagens contemplam o lugar onde estão (Foto: Reprodução/ MFA+ FilmDistribution)

Flow levou a melhor sobre grandes medalhões da Pixar e da Dreamworks no Globo de Ouro, no início de janeiro, muito em função da relação entre a água e a luz, responsáveis por alguns dos melhores momentos do filme, seja pela liberdade de movimentação que dão à câmera, ou pela apoteose da contemplação em um show de luzes. Em março deve haver um tira teima, com chances do filme do pequeno país europeu se colocar entre os grandes da história. E vale lembrar que há uma cena pós crédito, portanto, fique até o final dos créditos.

Flow tem distribuição da Mares Filmes e estreia no Brasil no dia 30 de janeiro.