Banner 16 janeiro, 2024
por Redação PerifaCon

Explorando a perfeição voyeurística e o sabor agridoce de ‘Fim’

A nova série original da Globoplay promete abalar seu público com uma história sensível, visceral e envolvente sobre o começo, o meio e o fim da vida.

 

Texto por Hyader Epaminondas

A série “Fim“, inspirada no livro de Fernanda Torres lançado em 2013, mergulha de forma profunda na narrativa da vida e da morte de um grupo de amigos, explorando os desafios e experiências vividas por uma geração durante a transição do século XX para o XXI.

Dividida em dez episódios magnificamente dirigidos por Andrucha Waddington e Daniela Thomas, a série intercala entre as cores quentes do passado e as cores frias do presente, adotando um tom poético que ressalta a efemeridade dos próprios personagens. O uso da paleta de cores como um elemento simbólico é habilmente desenvolvido ao longo da trama.

A diversidade dos personagens permite que a série discuta diversas questões sobre convivência social. A narrativa se molda a partir desses indivíduos, absorvendo detalhes tanto individuais quanto coletivos, ilustrando de forma precisa o mosaico complexo em que o grupo de amigos se encontram, interligados por escolhas feitas na juventude e forçados a encarar as consequências dessas decisões.

O elenco, composto por Emílio Dantas, Débora Falabella, Marjorie Estiano, Fábio Assunção, Thelmo Fernandes, Bruno Mazzeo, David Júnior, Heloísa Jorge, Laila Garin e pela própria autora Fernanda Torres, se destaca ao ultrapassar seus limites individuais para transmitir a intensidade necessária aos seus personagens. Com uma sinergia orgânica e palatável, esses talentosos atores são tão bons em suas atuações que chegam a desaparecer para dar voz e vida de forma autêntica aos personagens que interpretam.

A trilha sonora é um personagem próprio e é conduzida e construída em torno da canção “Divino, Maravilhoso”, sendo um pilar fundamental para a elaboração da narrativa e no desenvolvimento dos personagens. Lançada durante os anos de regime militar no Brasil, a música se tornou um hino de resistência e liberdade. Sua presença ao longo da série não apenas adiciona camadas emocionais, mas também carrega consigo um contexto histórico significativo, ecoando os anseios e o momento histórico daquela época.

O impacto de momentos-chave, como a frase marcante proferida por Ciro, “A vida acabou com a gente“, ecoa profundamente ao longo de toda a série. Essas palavras não são apenas uma expressão de desespero, mas também servem como um eco doloroso das escolhas, desilusões e amarguras enfrentadas pelos personagens ao longo de suas vidas. É um momento que encapsula a angústia e a resignação diante das consequências de suas decisões.

Essa frase emblemática se torna um ponto focal da narrativa, evocando uma sensação de desencanto e desesperança que permeia a história. É um grito silencioso que revela a intensidade das lutas pessoais enfrentadas por cada personagem, além de ser um reflexo da carga emocional que permeia toda a série como um lembrete do peso das experiências vividas por esses personagens e suas dolorosas jornadas em direção ao inevitável “Fim“.

A série é como uma crônica poderosa que acompanha a jornada visceral dos personagens ao longo da vida, revelando com sinceridade os aspectos maravilhosos e os terríveis, enquanto eles encaram suas existências imersas em álcool e drogas, numa tentativa de amortecer a angustiante verdade de que o fim se aproxima.

Fim” reflete de forma póstuma as escolhas inevitáveis da vida e suas consequências, sejam elas positivas ou negativas. Essa obra se revela como um espelho das decisões que todos somos compelidos a fazer, capturando a complexidade da existência humana em suas múltiplas facetas com perfeição.