por Redação PerifaCon
“Nosso Sonho”: de Buchecha para Claudinho
“Nosso sonho não vai terminar, desse jeito que você faz. E depois que o baile acabar, vamos nos encontrar logo mais”
Texto por Hyader Epaminondas
Sob a perspectiva de Buchecha e ao som envolvente de “Nosso sonho”, a música que empresta seu nome ao filme, com seu inesquecível refrão “Tchururu-tchutchu-tchu”, somos instantaneamente imersos em um turbilhão de emoções.
A jornada tem seu início momentos antes do trágico acidente que separaria Buchecha de Claudinho, criando um ponto de partida dramático e comovente para a narrativa ao voltar para à infância dos protagonistas no Rio De Janeiro. É a partir desse ponto que embarcamos em uma montanha-russa de emoções que nos conduz pelos bastidores da música brasileira.
Somos brindados com uma biografia profundamente emocional e irresistivelmente envolvente, que não apenas celebra a vida dos músicos, mas também nos convida a mergulhar na paixão, na luta e na conexão que moldaram suas trajetórias e sua música. Essa narrativa nos transporta para os anos 90 em uma jornada que vai além do sucesso artístico, permitindo-nos sentir a profundidade da amizade e do legado deixado pela dupla Claudinho e Buchecha.
O elenco, por sua vez, entrega performances verdadeiramente excepcionais, capturando com maestria a essência da icônica dupla de funk brasileira. O resultado é uma obra cinematográfica que não apenas celebra a música, mas também os laços profundos e a incrível jornada de Claudinho e Buchecha, proporcionando uma experiência envolvente e emocional que ressoa no coração do público.
A produção com uma ambientação belíssima e focada nos detalhes da cena dos anos 90 se destaca por sua capacidade de evocar a nostalgia e relembrar eventos históricos significativos. No entanto, seus pontos fortes são significativamente superados pelos seus pontos fracos, que se tornam evidentes devido à inexperiência do diretor.
Este problema é especialmente notável nos cortes abruptos que perturbam a fluidez da narrativa emocional dos personagens e comprometem a empatia do público. Quando os atores estão no auge de sua expressão emocional, suas performances transcendem a tela, apenas para serem interrompidas bruscamente por uma transição abrupta, muitas vezes acompanhada por um corte prolongado em tela preta, que marca uma transição para a cena subsequente. Esse descompasso técnico não apenas prejudica a entrega emocional dos atores, mas também desafia a compreensão e a imersão do público, minando a coesão e a continuidade cinematográfica.
A carência de um aprofundamento substancial em determinados aspectos da vida de Claudinho e Buchecha representa um ponto de crítica importante no desenvolvimento do filme. Esta omissão deixa pouco espaço para que ambos os protagonistas brilhem plenamente em cena, sem que a dependência excessiva da nostalgia seja necessária para ancorar suas performances. Além disso, o filme negligencia a exploração das influências culturais mais amplas do funk melody, uma escolha que poderia ter enriquecido significativamente a narrativa ao contextualizar o gênero musical em sua época.
A sensação que fica no subir de créditos é de que a história está sendo apressadamente contada, com transições rápidas entre eventos, contribui para uma confusão temporal que poderia ter sido evitada com uma abordagem mais meticulosa e focada na construção da ficção, permitindo que os detalhes da história se desdobrassem de forma mais satisfatória e coerente.
Para uma biografia de uma banda cujo foco sempre foi sobre suas melodias marcantes e atemporais, era esperado do diretor Eduardo Albergaria uma abordagem mais poética e sensível na narrativa. Infelizmente, a impressão que permanece ao término do filme é a de que a história foi contada de forma apressada, com transições abruptas entre eventos que criam uma desconcertante confusão temporal. Esta falta de atenção aos detalhes e à costura cuidadosa dos elementos narrativos poderia ter sido suavizada por uma abordagem mais minuciosa e centrada na criação de uma história mais orgânica e redondinha.
A ausência dessa sensibilidade poética se torna ainda mais evidente ao considerar que se trata de uma biografia musical, onde a música desempenha um papel fundamental na vida e na carreira dos protagonistas, a falta de poesia e cuidado na construção do roteiro deixa um vazio que não faz jus à grandeza da dupla e de sua música, resultando em uma narrativa que poderia ter sido muito mais gratificante e coesa.
A dupla de protagonistas interpretados por Lucas Penteado e Juan Paiva brilha nos pontos altos do filme, retratando com uma fidelidade impressionante a essência de seus personagens. Contudo, uma surpresa digna de destaque é a atuação magistral de Nando Cunha, que assume o papel complexo do pai de Buchecha de forma verdadeiramente excepcional. Sempre que a narrativa o convoca ao centro do palco, ele rouba a cena com uma presença magnética.
O olhar firme e carregado de emoção de Nando Cunha é um espelho surpreendente da complexidade emocional que habita em seu personagem, Claudino de Souza, quase o colocando como um antagonista em relação a seu filho. Suas falas contundentes são vocalizadas com uma profundidade emocional e impacto que transcende as palavras, muitas vezes, é apenas através de seu olhar que ele revela as profundezas do relacionamento entre pai e filho.
A interpretação magistral de Nando Cunha não apenas catapulta o filme a um nível superior, mas também enriquece significativamente a narrativa, conferindo-lhe uma profundidade emocional palpável. O desempenho dele deixa uma impressão profunda e duradoura na audiência, demonstrando a habilidade de um ator talentoso em elevar o material cinematográfico e torná-lo memorável.
Nosso Sonho é muito mais do que uma mera homenagem; é uma celebração tocante da trajetória inigualável dos músicos, que são reverenciados por sua impactante contribuição à música brasileira. É como se, por meio dessa obra cinematográfica, Buchecha encontrasse um espaço para honrar a memória de Claudinho e reviver a chama da parceria que moldou sua carreira e a música brasileira como um todo.
O filme se desdobra como uma jornada profunda de cura e reconexão para Buchecha, proporcionando a oportunidade de compartilhar com o público a riqueza da amizade, legado e do sonho inspirador deixado pela icônica dupla de funk.