Notícias: Filmes e Séries 9 setembro, 2025
por Redação PerifaCon

Cinemateca Brasileira apresenta a Mostra Resistências Cinematográfica em São Paulo

A Cinemateca irá revisita memórias da ditadura em mostra inédita

 
Filme: Greve | Imagem: divulgação

Em 2023, a Cinemateca Brasileira organizou sua primeira edição da mostra itinerante A CINEMATECA É BRASILEIRA. A programação percorreu o país levando filmes que perpassam diferentes momentos históricos e propostas estéticas ao longo de mais de 120 anos de história.

Diante do sucesso do projeto e do aumento crescente de interessados em receber a programação, a Cinemateca realiza sua segunda edição, A CINEMATECA É BRASILEIRA – RESISTÊNCIAS CINEMATOGRÁFICAS. A curadoria inclui longas e curtas-metragens que demonstram a riqueza do cinema brasileiro e múltiplas abordagens da sua vocação democrática e resistência a retrocessos autoritários, em especial a ditadura militar que teve início há 60 anos. 

Após percorrer 25 cidades e atingir um público de cerca 20 mil pessoas em suas duas edições, a mostra A CINEMATECA É BRASILEIRA fará também uma passagem pela sede da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, entre os dias 10 e 14 de setembro de 2025. 

“O Instituto Cultural Vale está ao lado da Cinemateca por entender a importância da casa da produção audiovisual brasileira, uma das maiores instituições do gênero no mundo, que preserva, também, um retrato da nossa própria identidade. Por isso, atuamos, juntos, em iniciativas pela sustentabilidade e modernização do espaço e pela salvaguarda de seu acervo, em especial, a coleção de filmes em nitrato de celulose, de valor inestimável”, diz Hugo Barreto, diretor-presidente do Instituto Cultural Vale, que é patrocinador estratégico da Cinemateca Brasileira.

As ações de itinerância da Cinemateca pelo Brasil fazem parte do Projeto Viva Cinemateca, lançado em 2023, que reúne os grandes projetos da instituição voltados à recuperação de importantes acervos, além da modernização de sua sede e infraestrutura técnica. 

“Apoiamos o Viva Cinemateca, pois acreditamos que a instituição tem um papel fundamental na construção, conservação e difusão da nossa herança cultural, com ações que promovem o desenvolvimento humano e geram valores para toda nossa sociedade. Juntos, preservamos o cinema nacional e as obras audiovisuais em geral, tão importantes para a preservação de nossa identidade”, comenta Glauco Paiva, gerente executivo de Comunicação e Responsabilidade Social da Shell Brasil, patrocinadora estratégica do projeto Viva Cinemateca.
 

As ficções, documentários e animações selecionadas para esta edição abordam direta e indiretamente os períodos de repressão tão recorrentes na história do país. Diversos episódios da ditadura militar e o golpe de 1964 são tema da maioria dos títulos. O filme de abertura, Ainda estou aqui (2024), de Walter Salles, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, aborda o desaparecimento forçado do deputado Rubens Paiva e a luta que se seguiu, por parte de sua esposa, Eunice Paiva, por respostas e justiça. As torturas praticadas pela ditadura são evidentes na versão não censurada de Jardim de guerra (1968), de Neville d’Almeida, e nos importantes relatos presentes nos filmes Libertação de Inês Etienne Romeu (1979), de Norma Bengell, Torre (2017), de Nádia Mangolini, e Vala comum (1994), de João Godoy. Por sua vez, os horrores praticados contra os povos indígenas, ainda pouco conhecidos, são denunciados no filme Arara: um filme sobre um filme sobrevivente (2017), de Lipe Canêdo. 

Já a atmosfera de tensão e a mentalidade dessa época são contextualizadas nas entrelinhas do documentário de Arnaldo Jabor, A opinião pública (1966), e na ironia de Pra frente Brasil (1982), de Roberto Farias. Já a luta do movimento operário por melhores condições de trabalho e pela redemocratização do país é ficcionalizada por Leon Hirszman em Eles não usam black tie (1981). 

A mostra oferece também alegorias políticas que examinam a complexidade das estruturas de poder e a opressão. Na fictícia nação latino-americana de Eldorado, Glauber Rocha reflete as tensões políticas, sociais e culturais da época em seu clássico Terra em transe (1967). Também ambientado em um país fictício na América Latina, o curta, baseado no conto homônimo de Olney São Paulo, Manhã cinzenta (1969), critica o autoritarismo com imagens impressionantes das manifestações de rua de 1968.   

As sessões são gratuitas e os ingressos são distribuídos uma hora antes de cada sessão


Cinemateca Brasileira

10 a 14 de setembro 

Largo Senador Raul Cardoso, 207. Vila Mariana – SP

Entrada gratuita


10 DE SETEMBRO, QUARTA-FEIRA

20h AINDA ESTOU AQUI 

Brasil (RJ), 2024, Cor, 135 min, 14 anos

Direção: Walter Salles

Elenco: Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, Selton Mello, Marjorie Estiano, Antônio Saboia, Maeve Jinkings, Humberto Carrão, Dan Stulbach, Valentina Herszage, Olívia Torres

Sinopse: Após o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, sequestrado pela Ditadura Militar, Eunice — inicialmente dona de casa — transforma-se em ativista dos direitos humanos, criando os cinco filhos e lutando por justiça e pela memória do marido desaparecido

11 DE SETEMBRO, QUINTA-FEIRA

19h30 TERRA EM TRANSE

Brasil (RJ), 1967, P&B, 107 min, 14 anos

Direção: Glauber Rocha

Elenco: Jardel Filho, Glauce Rocha, José Lewgoy, Paulo Autran, Paulo Gracindo

Sinopse: Eldorado, país fictício da América Latina, encontra-se entre o golpe de Estado e o populismo, entre a crise e a transformação. Paulo, poeta e jornalista tenta provocar mudanças políticas, influenciando homens poderosos.

12 DE SETEMBRO, SEXTA-FEIRA

19h30 PRA FRENTE BRASIL

Brasil (RJ), 1982, Cor, 110 min, 16 anos

Direção: Roberto Farias

Elenco: Reginaldo Farias, Antônio Fagundes, Natália do Vale, Elizabeth Savalla, Carlos Zara, Paulo Porto, Jorge Couri

Sinopse: Em 1970, enquanto o país inteiro se empolga com a seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo no México, prisioneiros políticos são submetidos a torturas nos porões da ditadura militar. Esses acontecimentos são vistos através da ótica de uma família, quando um de seus membros, um tranquilo trabalhador de classe média, é erroneamente identificado como ativista político e “desaparece”.

13 DE SETEMBRO, SÁBADO

19h30 ELES NÃO USAM BLACK TIE

Brasil (RJ), 1981, 123 min, cor, 14 anos

Direção: Leon Hirszman

Elenco: Carlos Alberto Riccelli, Gianfrancesco Guarnieri, Bete Mendes, Fernanda Montenegro, Milton Gonçalves, Francisco Milani.

Sinopse: Otávio é um militante sindical que organiza um movimento grevista para resistir às práticas exploradoras de uma metalúrgica, na qual seu filho Tião também trabalha. Mas, com a namorada grávida, o jovem resiste à greve para não perder o emprego.

14 DE SETEMBRO, DOMINGO

16h – SESSÃO DE CURTAS (1h33)

MANHÃ CINZENTA

Brasil (RJ), 1969, 18 min, p&b

Direção: Olney São Paulo

Elenco: Sonélio Costa, Janete Chermont, Maria Helena Saldanha, Jorge Dias, Nestor Noya

Sinopse: Um casal de estudante segue para uma passeata onde o rapaz, um militante, lidera um comício. Eles são presos durante a manifestação, torturados na prisão e sofrem um inquérito absurdo dirigido por um robô e um cérebro eletrônico.

LIBERTAÇÃO DE INÊS ETIENNE ROMEU

Brasil (RJ), 1979, Cor, 11 min, Livre

Direção: Norma Bengell

Elenco: Inês Etienne Romeu, Maria Romeu, Lúcia Romeu, Elisabeth Romeu, Anita Romeu, Geralda Romeu, Cristina Oliveira Lira, Norma Bengell, Sônia Nercessian

Sinopse: 29 de agosto de 1979, Instituto Penal Talavera Bruce, Bangu, Rio de Janeiro. Após cumprir oito anos de pena, Inês Etienne Romeu, única sobrevivente da “Casa da Morte” de Petrópolis e primeira presa política condenada à prisão perpétua no Brasil, deixava o cárcere beneficiada pela Anistia. Norma Bengell filmou esse momento: da porta da cadeia à residência com a família, Inês foi recebida por familiares, amigos e membros do Comitê Brasileiro de Anistia, no que marcou o primeiro ato da denúncia histórica que Inês levaria adiante contra os seus algozes e o Regime Militar.

VALA COMUM

Brasil (SP), 1994, Cor/P&B, 32 min, 10 anos

Direção: João Godoy

Elenco: Antonio Ruete

Sinopse: O filme traça a história recente do país tendo como ponto de partida a localização de uma vala comum, clandestina, com mais de mil ossadas em Perús (SP). Através do depoimento de diversos familiares de mortos e desaparecidos políticos do Brasil, é recontada a triste história da repressão vivida no país após o golpe militar de 1964.

TORRE 

Brasil (SP), 2017, 19 min, cor, 12 anos

Direção: Nádia Mangolini

Elenco: Isabel Gomes da Silva, Gregório Gomes da Silva, Virgílio Gomes da Silva Filho, Vlademir Gomes da Silva, Ilda Martins da Silva

Sinopse: Quatro irmãos, filhos de Virgílio Gomes da Silva, o primeiro desaparecido político da ditadura militar brasileira, relatam suas infâncias durante o regime.

ARARA: UM FILME SOBRE UM FILME SOBREVIVENTE

Brasil (MG), 2017, Cor, 13 min, 12 anos

Direção: Lipe Canêdo

Elenco: Sueli Maxacali, Isael Maxacali, Paula Berbert, Edmundo Antônio Dias, Rodrigo Piquet, Marcelo Zelic

Sinopse: Em 2012, Rodrigo Piquet, do Museu do Índio, mostrou a Marcelo Zelic, do grupo Tortura Nunca Mais, um filme que encontrara, chamado “Arara”. O título não se referia ao animal, nem ao povo conhecido por esse nome. Zelic o aponta como importante registro probatório sobre o ensino de tortura durante a ditadura militar. Eram imagens da formatura da Guarda Rural Indígena, em Belo Horizonte, produzidas pelo antropólogo Jesco Von Puttkamer (1919-1994) em 1970.

19h30 A OPINIÃO PÚBLICA

Brasil (RJ), 1966, 72 min, P&B, Livre

Direção: Arnaldo Jabor

Elenco: Jerry Adriani, Yoná Magalhães, Curandeira Isaltina, Fernando Garcia

Sinopse: Por meio de depoimentos de estudantes, a classe média carioca é retratada de maneira a salientar seus gestos, seus gostos, e sobretudo sua distância frente à realidade brasileira.