Amber Heard quase perdeu o papel de Mera, mas o que está por trás disso?

Conclusão do julgamento envolvendo Amber Heard e Johnny Depp irá se encerrar amanhã (27).

Texto por Larissa Moreira.

Quem acompanhou o painel de Aquaman 2 no DCFandome em outubro do ano passado certamente reparou na ausência da co-estrela do primeiro filme, Mera, personagem de Amber Heard, que apareceu apenas por alguns segundos. Começaram a surgir algumas informações sobre o filme nos últimos meses e rumores que sugeriam a diminuição drástica de seu papel. Enquanto isso, a petição para retirá-la do filme crescia até a casa dos 4 milhões (com uma extensa participação de bots). 

Em seu testemunho no julgamento de difamação contra seu ex-marido, Johnny Depp, Heard revelou que seu papel como Mera foi reduzido, suas cenas de ação foram cortadas e ela não sabe o quanto estará no corte final. Recebeu diversas versões do roteiro e em cada versão seu papel era menor que a anterior. Ela afirmou que a Warner não a queria na continuação e não conseguiu renegociar seu contrato. Em seguida, o testemunho da consultora da indústria do entretenimento Kathryn Arnold confirmou que Heard foi cortada dos eventos e campanhas promocionais do filme e que só permaneceu no cast porque o diretor James Wan e Jason Momoa lutaram para que ela continuasse. Mas, o que está por trás disso?

Depois de perder no Reino Unido ao processar o tabloide The Sun por chamá-lo de Espancador de Esposa, em um julgamento no qual a Suprema Corte confirmou 12 das 14 agressões alegadas por Amber Heard, o ator Johnny Depp está processando a ex-esposa por difamação por causa de um editorial no Washington Post de 2018 onde ela escreveu “Eu me manifestei contra a violência sexual – e enfrentei a ira de nossa cultura.”. O julgamento, realizado no Condado de Fairfax na Virgínia, EUA, está na reta final.

Ainda em seu depoimento no tribunal, a atriz Amber Heard revelou que foi removida de papéis no cinema, de campanhas publicitárias e teve que lutar para manter seu contrato com a Warner. Tudo começou em 2016, período do seu divórcio, da ordem de restrição requerida após ter sofrido o episódio de agressão de Depp que ganhou as manchetes dos jornais e do primeiro julgamento.

“Lutei para manter meu emprego e a maior oportunidade de filme que tive até hoje foi Liga da Justiça e a opção de [estrelar] Aquaman.” 

Apesar da má-imprensa em torno do litígio, ela foi co-protagonista em Aquaman (2018) e teve um desempenho elogiado pelo diretor James Wan que disse “você elevou nossa audiência” em mensagem mostrada no tribunal. Aquaman é o filme mais rentável da DC, alcançou a marca de US$1,13 Bilhão em bilheteria mundial. A química entre os protagonistas Jason Momoa e Amber Heard virou um especial no blu-ray falando apenas do “match” perfeito que os dois formaram, além de ter testado muito bem com o público, segundo Arnold. 

Mas tudo piorou para Heard em 2020 quando o ex-advogado de Depp, Adam Waldman, deu declarações e vazou informações sigilosas do processo a jornais e a páginas da internet chamando as alegações de Heard de “farsa de abuso”, alegando que Depp estava sendo vítima de uma “emboscada”. Ele chegou a vazar áudios editados iniciando uma campanha de difamação coordenada contra Amber Heard. Waldman foi expulso do processo (e do Twitter) por sua conduta. 

Waldman é apenas a ponta desse iceberg, o que Heard chamou de “máquina de relações-públicas sofisticada” por trás da campanha de difamação. Uma reportagem da VICE revelou que o The Daily Wire de Ben Shapiro, ícone da extrema-direita, gastou cerca de 50 mil dólares em publicidade para promover uma campanha anti-Amber. Recentemente, o analista de dados Christopher Bouzy revelou ao documentário “Johnny vs Amber” da Discovery + a existência de cerca de 6.000 contas falsas ou inautênticas que visavam Heard.

Todas as marcas às quais Heard estava ligada, as páginas de seus amigos e, claro, suas redes sociais, passaram a sofrer um aumento significativo de assédio. Em uma mensagem trocada entre Johnny Depp e seu ex-agente Christian Careno o ator disse “ela está implorando por uma humilhação global e ela vai conseguir. ”. Já em uma mensagem para sua irmã, Christi Dembrowski, Depp disse “Quero que ela seja demitida da Warner. ” À época, Christi tinha contrato com a Warner e um certo poder de comando no estúdio. Tais mensagens constam como evidências no processo do Reino Unido e no atual. 

O presidente da DC, Walter Hamada, testemunhou no julgamento que considerou não trazê-la de volta em Aquaman 2 com a justificativa de falta de química entre Heard e Momoa e que a química que o público viu e aprovou foi “fabricada”. Hamada também se contradisse quando afirmou que nunca pensou em demiti-la, mas também respondeu ao advogado de Heard que pensou numa reformulação de Mera, o que atrasou o filme em algumas semanas. Sobre o fato de Heard não conseguir renegociar seu contrato, Hamada afirmou que a empresa não renegocia. Porém, Jason Momoa renegociou o seu. Por fim, Hamada disse que o roteiro sempre foi pensado como uma “comédia entre amigos” (me parece uma versão de Thor e Loki). Estranho pensar que a dinâmica entre Amber Heard e Jason Momoa, o que deu a Aquaman o sucesso que o filme teve, seja simplesmente descontinuada. Hamada é velho conhecido por colocar panos quentes. 

Vale lembrar que o filme Aquaman popularizou Mera. A personagem cativou o público e por causa do filme ganhou pela primeira vez uma HQ solo e uma graphic novel, além de inúmeros produtos comercializáveis. 

Embora Hamada negue, é muito claro que a campanha de difamação contra Heard afetou a presença de Mera em Aquaman e o Reino Perdido, assim como afetou outros setores de sua vida.  Mas vão culpar o que deu 1 bilhão ao filme, a química entre os dois, obviamente.