
por Pierre Augusto
“Acompanhante Perfeita” transforma relacionamento abusivo em Syfy
Em muitos casos, acredito que o material de divulgação de um filme faz parte de sua experiência, quase como a entrada para um prato principal. Ele é essencial para ditar ao público o sentimento que o longa irá transmitir e, às vezes, até enganá-lo (no bom sentido). Mas, em algumas ocasiões, trailers mal montados podem […]
Em muitos casos, acredito que o material de divulgação de um filme faz parte de sua experiência, quase como a entrada para um prato principal. Ele é essencial para ditar ao público o sentimento que o longa irá transmitir e, às vezes, até enganá-lo (no bom sentido). Mas, em algumas ocasiões, trailers mal montados podem frustrar a experiência por entregarem demais. A Acompanhante Perfeita (do diretor e roteirista Drew Hancock) sofre desse mal: uma divulgação que entrega de bandeja a surpresa mais interessante da produção.
Então, darei uma dica de amigo: assista ao filme antes de ler o restante da matéria ou continue por sua conta e risco.
O casal Iris (Sophie Thatcher, de O Herege) e Josh (Jack Quaid, de The Boys) viajam para uma cabana tão luxuosa quanto isolada para passar o fim de semana com alguns amigos. No entanto, uma morte “acidental” acaba trazendo revelações à tona.
O que começa com um casal loucamente apaixonado (pelo menos por uma das partes) logo se revela, aos poucos, como um relacionamento obsessivo e, em seguida, como uma grande relação tóxica. O filme evidencia a manipulação e a dependência emocional que podem acontecer em um relações problemáticas como essa. Mas o grande charme da trama é misturar essa dinâmica com o gênero sci-fi ao inserir uma robô na equação.
Iris é uma boneca de apoio emocional, criada para ser uma namorada obcecada por seu amor, porém ela só descobre isso em um momento de virada da história, sendo um plot twist muito bem montado para o público. Com isso, o roteiro de Drew Hancock reflete um tema já explorado em inúmeras ficções científicas: se uma máquina simula emoções, isso a torna tão humana quanto nós? Apesar de não ser inédito, o tema ganha aqui uma camada adicional ao abordar o abuso emocional, carregado de todo o suspense e terror que essa dinâmica exige.
Apesar da tensão e dos gatilhos que o longa pode trazer, o clima é aliviado pelo humor, que brinca com as máximas das comédias românticas em momentos muito bem dosados para não diminuir o impacto da opressão sobre a protagonista. Sophie Thatcher se destaca do começo ao fim do longa, tanto ao demonstrar sua devoção a Josh quanto em seus momentos de violência.
O acerto na escalação não se limita a Sophie; Jack Quaid e o restante do elenco de apoio também acertam em cheio no tom do longa, ridicularizando a personalidade de Josh e evidenciando seu vitimismo e senso de superioridade no relacionamento.
No mais, a produção de Hancock é bem básica em termos de direção e identidade visual, mas assertiva na manipulação das emoções do público. A Acompanhante Perfeita não vai mudar a vida de ninguém e é pouco provável que se torne o seu filme favorito, mas entretém ao abordar a emancipação de uma relação abusiva pelo olhar de Iris.
Disponível no streaming da MAX.