por Raphael Guimarães
26 anos sem Renato Russo: 05 letras potentes
Relembre algumas das letras mais marcantes do trovador solitário Hoje, dia 11 de outubro, completam-se vinte e seis anos do falecimento de Renato Russo, grande nome do rock brasileiro e da cena punk de Brasília nos anos 80. Goste ou não de Legião Urbana, é inegável que a banda marcou época sendo, até hoje, lembrada […]
Relembre algumas das letras mais marcantes do trovador solitário
Hoje, dia 11 de outubro, completam-se vinte e seis anos do falecimento de Renato Russo, grande nome do rock brasileiro e da cena punk de Brasília nos anos 80.
Goste ou não de Legião Urbana, é inegável que a banda marcou época sendo, até hoje, lembrada como um dos grandes acontecimentos do gênero de rock no país.
Acima de tudo, Renato Russo era um ícone LGBTQIA+ em uma época onde isso era ainda mais criticado pela grande mídia do que hoje. Ainda assim, era impossível fingir que não viam o sucesso iminente de Legião Urbana.
Embora músicas como Pais e Filhos, Faroeste Caboclo e Tempo Perdido ainda marquem presença em rodas de violão por todo o Brasil, algumas das músicas com letras mais potentes e significativas compostas por Renato são esquecidas por muitos. Por isso, resgatamos algumas que valem a pena ser celebradas.
Meninos e Meninas
Eu canto em português errado
Acho que o imperfeito não participa do passado
Troco as pessoas
Troco os pronomesPreciso de oxigênio, preciso ter amigos
Preciso ter dinheiro, preciso de carinho
Acho que te amava, agora acho que te odeio
São tudo pequenas coisas e tudo deve passarAcho que gosto de São Paulo
E gosto de São João
Gosto de São Francisco e São Sebastião
E eu gosto de meninos e meninas
Muitos achavam que Renato Russo era um homem gay. Em uma época onde a bissexualidade e a pansexualidade (Renato se declarava pan), cantar uma letra (de uma música até que popular) onde dizia gostar de meninos e meninas era um tanto quanto revolucionário.
Soldados
Nossas meninas estão longe daqui
Não temos com quem chorar e nem pra onde ir
Se lembra quando era só brincadeira
Fingir ser soldado a tarde inteira?Mas agora a coragem que temos no coração
Parece medo da morte mas não era então
Tenho medo de lhe dizer o que eu quero tanto
Tenho medo e eu sei porquê
Estamos esperandoQuem é o inimigo?
Ainda na temática LGBTQIA+, Soldados é uma história que emociona e trabalha o imaginário do ouvinte de um jeito que só Renato sabia fazer. Aqui, ele imagina um cenário em que um soldado se descobre atraído por um de seus colegas do exército e não sabe como reagir com a emoção. O questionamento de “quem é o inimigo?” acerta o peito de quem já questionou seus sentimentos.
Metal Contra as Nuvens
É a verdade o que assombra
O descaso que condena
A estupidez, o que destrói
Eu vejo tudo que se foi
E o que não existe maisTenho os sentidos já dormentes
O povo quer, a alma entende
Esta é a terra de ninguém
Sei que devo resistir
Eu quero a espada em minhas mãosEu sou metal, raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal, eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal, me sabe o sopro do dragão
A maior canção da Legião Urbana, com onze minutos, traz uma letra poética e que parece abstrata demais mas que devidamente analisada se mostra como uma crítica política contra o descaso dos poderosos para com o povo e o distanciamento que o povo tem das questões políticas do país. Metal Contra as Nuvens é praticamente um manifesto de um cidadão indignado que clama por uma participação mais intensa da população nas questões que a afeta diretamente.
Natália
É complicado estar só
Quem está sozinho que o diga
Quando a tristeza é sempre o ponto de partida
Quando tudo é solidão
É preciso acreditar num novo dia
Na nossa grande geração perdidaNos meninos e meninas
Nos trevos de quatro folhas
A escuridão ainda é pior que essa luz cinza
Mas estamos vivos aindaE quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você
Quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você
Composta para A Tempestade, último álbum da Legião composto por algumas das composições mais tristes e carregadas de luto de Renato, Natália resgata um peso de rock com guitarras do início da carreira de Russo e o mescla com a melancolia do seu fim de carreira. Surpreendentemente, a música tem um otimismo escondido. Enquanto lista tragédias, desastres e problemas sociais, Renato ainda insiste em pensar num “quem sabe” para o futuro, advertindo quem ouve que “é preciso acreditar” e que “a escuridão é ainda pior que essa luz cinza”.
Só Por Hoje
Só por hoje eu não vou me machucar
Só por hoje eu não quero me esquecer
Que há algumas pouco vinte quatro horas
Quase joguei a minha vida inteira foraNão não não não
Viver é uma dádiva fatal!
No fim das contas ninguém sai vivo daqui mas –
Vamos com calma!Só por hoje eu não quero mais chorar
Só por hoje eu não vou me destruir
Posso até ficar triste se eu quiser
É só por hoje, ao menos isso eu aprendi
A característica mais marcante das letras de Renato era o contraste gigante entre sua eterna e crescente melancolia e sua esperança e fé no futuro. Nenhuma de suas músicas expressa isso melhor que Só Por Hoje. Além de ser o mantra de meditação utilizado pelos Narcóticos Anônimos, “só por hoje” ensina a respeitar o processo e viver um dia de cada vez.
Vamos com calma. Força sempre.