Banner 15 junho, 2023
por Marcos Marques

Versão Brasileira Vol. 1: Novo EP do Coruja BC1 vai fazer você andar pelas quebradas de Osasco

Novo EP do Coruja BC1 conta a perspectiva de um jovem paulista nas periferias de São Paulo

 

Brasil Futurista foi o último projeto do Coruja BC1 e foi lançado em 2021. O disco foi bem recebido pelos fãs e também trouxe uma mistura de gêneros musicais para o Hip-Hop. 

Depois desse lançamento, Coruja lançou alguns singles, mas agora retorna com o lançamento do EP Versão Brasileira Vol.1. De acordo com Coruja, o EP o trouxe de volta a vontade de fazer o que ele sempre gostou: 

O Versão Brasileira Vol. 1 é um EP que me trouxe de novo a liberdade de rimar do jeito que eu gosto, da estética suja e de rua, que eu me apaixonei. Eu amo estar no estúdio, gosto de criar discos e de todo o processo. 

Coruja diz que estava produzindo um novo álbum e em algum momento ele sentiu que não estava pronto para fazer o álbum agora. Ele aponta que existe muita pressão para se produzir um álbum, principalmente após o sucesso de Brasil Futurista. 

Sobre as inspirações do álbum, Coruja fala que após assistir o documentário ‘Sujo’, do grupo Funk Fuckers. O vídeo dança mostra o grupo se apresentando em um lixão, onde a ideia é questionar o consumismo e o descarte de resíduos no meio ambiente. 

Isso me impactou. Eu quero voltar a ter isso, o que fiz no Brasil Futurista. Eu quero fazer os raps sujos, o funk, e também trazer essa estética de sujeira, de rua e mostrar a sofisticação. Esse EP tem que ser uma viagem das pessoas dentro de Osasco. Retornar com esse disco não é só ter um projeto na pista, significa o retorno da minha essência, o meu berço e o que me motivou a fazer hip-hop. É sair um pouco do Coruja BC1 e imprimir o Gustavo, sem máscara

Créditos: Gabriel Florêncio

Coruja reflete e fala que existe um peso em relação ao álbum e EP, principalmente por contar uma história contínua. Ele diz que é um projeto mais trabalhoso, e que as pessoas destacam mais os álbuns do artista do que EP e Mixtapes. Sobre a criação do EP, o rapper diz que entendia o que queria com o projeto: 

Eu busco mostrar o Brasil de onde venho, na perspectiva de um jovem paulista. Com isso foi fácil trazer o que eu queria pro disco, misturar sons que pra as pessoas que escutem saibam que é de São Paulo.

Sobre as inspirações do álbum, Coruja diz que existe o cenário do rap brasileiro se inspira bastante no cenário estadunidense, dizendo que muitos ignoram o que o Brasil tem a oferecer quando se fala de hip-hop, principalmente assuntos a serem destrinchados: 

Eu não preciso falar de Compton, quem é do lugar é o Kendrick Lamar, eu preciso falar de Osasco. Preciso imprimir minha quebrada no mapa, ver beleza onde as pessoas não estão vendo. Minha inspiração é a pixação, os trabalhadores, os moleques do corre, as tiazinhas que trabalham, os bailes, o cara que infelizmente tá na vida do crime. A realidade me inspira, não preciso falar o que está na gringa para os brasileiros.

Coruja lembra que nos anos 1990 cada MC das quebras de São Paulo tinha um jeito de cantar, de falar e se comportar. 

A gíria que usava na Zona Leste, Tiradentes, não é a mesma de Osasco, que não era a mesma do Capão Redondo ou da Brasilândia. Cada lugar tinha a sua diferente.

O rapper diz que quis trazer isso para o EP, principalmente para as pessoas que são de fora de São Paulo e vem morar na cidade. Coruja levanta uma questão muito importante de como as pessoas enxergam a cidade de São Paulo, visando o centro e bairros nobres e ignorando as periferias: 

A galera está acostumada a dar role na Vila Madalena e acha que todo mundo em São Paulo é playboy. São Paulo tem muita favela, e é essa cidade que a galera não dá atenção. Existe uma cidade muito louca, é uma São Paulo invisível, a cidade que eu quero mostrar.

Coruja afirma que essa São Paulo não mudou, é a mesma que os Racionais MC’s e o Dexter cantaram, uma cidade que as pessoas se recusam a aceitar, mas que ela existe e é gigantesca. 

Sobre as participações especiais de Rincon Sapiência, MC Luanna, Febem, Akira e Neguinho da Caxeta, Coruja diz que se sente inspirado por eles. 

A Luanna é uma mina muito foda. Pra mim ela é a maior revelação do rap, ela é incrível no que faz. Me dá orgulho ver pessoas de onde eu venho sendo fodas. O Rincon tem muito tempo de estrada, é um cara que representa a Zona Leste. Akira é um cara que fala do Rio de Janeiro de uma forma muito bonita, ele te leva para as ruas do Rio. O Neguinho da Caxeta tinha que estar, ele é uma referência em São Paulo e me inspira.

Coruja relembra sobre o movimento que surgiu em 2017, quando o rap não tinha espaço para pessoas periféricas e pretas, sendo dominadas por pessoas brancas. 

A gente começou o movimento. Eu, Djonga, BK… a gente colhe frutos até hoje. Quando vi a Luanna, Tasha & Tracie, Julia Costa e Nina do Porte chegando eu pensei “que foda esse movimento que elas estão fazendo”. É uma rebeldia e também uma maturidade de saber o lugar que elas merecem estar e que inspira.

Versão Brasileira Vol. 1 já está disponível nas plataformas digitais.