Banner 15 junho, 2022
por Rodrigo Bastos

‘Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo’ e o caos mais organizado que você verá em um filme

Chega aos cinemas no dia 16 de junho o mais novo filme da A24, um dos filmes mais esperados para quem gosta de filmes de fantasia e ficção científica. Com um roteiro que explora bastante o conceito de multiverso, o filme é, entre outras coisas, uma perfeita história sobre família. Desde a primeira vez que […]

 

Chega aos cinemas no dia 16 de junho o mais novo filme da A24, um dos filmes mais esperados para quem gosta de filmes de fantasia e ficção científica.

Com um roteiro que explora bastante o conceito de multiverso, o filme é, entre outras coisas, uma perfeita história sobre família.

Desde a primeira vez que eu vi a entrevista da Michelle Yeoh falando que esse filme era o filme que ela trabalhou a vida toda para poder finalmente fazer, eu confesso que fiquei muito ansioso, por ser fã de seus filmes desde muito cedo. Seja no lendário O Tigre e o Dragão (2000), Memórias de Uma Gueixa (2005) ou mesmo no mais recente Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis (2021) é nítido que ela é uma atriz extremamente capaz de entregar cenas de ação tanto quanto ela é capaz de nos entregar cenas dramáticas.

E valeu cada segundo de espera para poder ver esse filme na tela de um cinema.

Evelyn Wang é uma mulher simples, asiática-americana, casada a muito tempo com sua paixão de adolescência, Waymond (Ke Huy Quan), com uma filha crescida Joy (Stephanie Hsu), cuida de um pai já idoso (James Hong) e debilitado, trabalha com uma lavanderia de moedas e tem diversos problemas com impostos. Nada de especial é realmente tirado do seu personagem à primeira vista, ela é decepcionada com cada aspecto da sua vida, incluindo a filha que não a obedece em nada. Até que o dia que ela iria perder tudo na sua vida, vira o dia que ela tem a oportunidade de ganhar tudo que sempre quis, viver todas as infinitas possibilidades que ela não escolheu no passar dos seus anos.

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo tem um uso de multiverso de um jeito bastante inteligente, sem portais, grandes magias e sem explicar como exatamente funciona. Inclusive, essa é talvez uma das melhores decisões que o filme tem — não explicar exatamente como se viaja entre universos, pelo contrário, se simplifica para além de números. Em momento nenhum você se sente entediado vendo longas explicações cheias de números, máquinas, fórmulas, feitiços ou qualquer coisa assim.

E é quando esse conceito é introduzido que o ritmo do filme muda, e é tão natural que você não estranha ou se incomoda. A partir daquele momento todas as cenas de ação, e são muitas, fazem sentido, são bem colocadas e bem construídas, algumas com coreografias tiradas direto de filmes de Wuxia que fizeram a Michelle Yeoh tão famosa, outras de coreografias bem mais hollywoodianas. Tantas cenas de luta e de ação podem facilmente se tornar chatas e maçantes e iguais, e aí que o filme brilha, usando o absurdo pra nunca fazer uma cena de luta igual a outra. Como você coreografaria uma cena de luta se tivesse infinitas possibilidades de elementos para um mesmo personagem? É exatamente assim que está no filme, do início da ação ao fim do filme você tem lutas, das mais importantes à apenas lutas de corredor, que não se repetem e nunca deixam de te surpreender.

Durante todo o arco de entendimento e aceitação do conhecimento e da missão que lhe foi entregue, a gente tem a personagem da Michelle como uma mulher percebendo que ela poderia ter vivido mil vidas diferentes, se tivesse feito pequenas escolhas no seu passado. Nessa reflexão o filme desenvolve todo o seu final, um drama de aceitação de quem você é e do porquê você é assim. Que mesmo com todas as outras vidas parecendo encantadoras e irresistíveis, no fim do dia, você ainda é quem você é, a soma das suas escolhas, e talvez esse não seja um problema que envolve um multiverso inteiro, ou talvez envolva.

Em meio a uma busca por um conhecimento de mil realidades sobre si mesmo e sobre todos ao seu redor, (aqui um destaque especial pra brilhante participação da Jamie Lee Curtis, que está quase irreconhecível nesse filme, maquiagem que facilmente deveria render uma indicação ao Oscar) a gente é presenteado com um filme cheio de piadas sem nunca te cansar ou te fazer perder o fio do que acontece na tela. Diferente de filmes como os da Marvel que às vezes você não aguenta mais sentir o clima sendo cortado com piadas fora de lugar, em Tudo em todo lugar ao mesmo tempo as piadas sempre te adicionam emoção e um sorriso, seja de gargalhar ou apenas de sorrir por se relacionar com o que foi dito.

Sim, além de toda a ação, de todo o drama do ato final e de toda a fantasia de viagens entre universos, o filme é uma excelente comédia. Com momentos que tu espera que a comédia alcance aquele ponto onde a piada quebra e tu fica cansado vem a surpresa de esse lugar nunca chegar. E isso parece quase impossível em um filme que tem cenas de ação envolvendo consolos gigantes, plugs anais, dedos de salsicha e pedras com olhos de boneca, daqueles que se movem conforme você balança.

Em uma montanha-russa de emoções, você ri e chora assistindo um filme que fala sobre aceitação familiar, sobre gerações, sobre amor materno, sobre amor romântico e sobre entender o valor de momentos da sua vida. Tudo isso enquanto vê muita cor, muita ação e uma ou outra luta envolvendo consolos (e um dedo mindinho com bíceps).