Banner 13 setembro, 2024
por Redação PerifaCon

True Detective Terra Noturna: Entrega mistérios profundos e respostas superficiais

O clima hostil do Alasca e o suspense inicial não são suficientes para salvar uma temporada que abandona suas promessas.

 

Texto por: Pierre Augusto

Por vezes, tramas de investigação flertam com o gênero do horror, não havendo cenário mais fértil para misturar os mistérios de um caso e o medo do desconhecido. Esse é o caminho que True Detective sempre trilhou, em alguns momentos flertando levemente com o ocultismo, e em outros mergulhando de cabeça no sobrenatural. Essa parece ser a direção que esta temporada deveria ter tomado, mas a aparente relutância da showrunner Issa López em abraçar o gênero, deixa a produção com um gosto amargo.

Em uma pacata cidade do Alasca, um grupo de pesquisadores desaparece misteriosamente. A investigação do crime revela conexões com um caso não resolvido, forçando as investigadoras Liz Danvers (Jodie Foster, “O Silêncio dos Inocentes”) e Evangeline Navarro (Kali Reis, “Catch the Fair One”) a deixar suas antigas desavenças de lado para desvendar esse caso intrigante.

As nevascas e o clima hostil do Alasca contribuem para a construção das cenas mais memoráveis da produção, que brilham nos primeiros episódios com jumpscares e tensões clássicas do terror. No entanto, o sobrenatural que permeia os episódios iniciais é literalmente esquecido conforme a série avança, deixando tramas em aberto e ignorando os mistérios que tanto motivaram as protagonistas quanto os espectadores.

O maior exemplo desses mistérios abandonados são as referências a eventos, personagens e símbolos presentes na primeira temporada de True Detective, aqui reutilizados apenas para capturar brevemente a atenção dos fãs, sendo descartados no episódio seguinte ou simplesmente não justificando sua presença na narrativa.

O relacionamento entre as duas investigadoras é o maior destaque desde os primeiros episódios. Com diálogos realistas, o rancor e a amargura entre elas são palpáveis, sugerindo que algo deu muito errado em uma investigação anterior. Foster, como sempre, se destaca em sua atuação, elevando todos ao redor. No entanto, a verdadeira surpresa é Kali Reis, que traz profundidade à personagem Navarro, uma policial dura e reservada, marcada por traumas que carrega sozinha. Ainda assim, sua vulnerabilidade transparece no olhar, mostrando a confusão mental causada por suas antigas e novas cicatrizes.

Com um início excelente e um meio morno, os últimos episódios poderiam elevar novamente a série, resolvendo as pontas soltas deixadas ao longo dos capítulos. No entanto, o que recebemos no finale são tensões mal construídas, montagens incoerentes com flashbacks e gravações apresentadas anteriormente, além de uma justificativa inconsistente para o desenrolar do caso.

True Detective: Terra Noturna tenta resgatar as melhores características de sua primeira temporada, mas falha ao não dar substância à investigação e ao hesitar em abraçar o sobrenatural que tanto instiga. No final das contas, é mais um caso que fica à sombra de seu antecessor.

A série está disponível no streaming da MAX, e atualmente foi indicada a 19 categorias do Emmy.