por Raphael Guimarães
Thor: Amor e Trovão – Muito barulho pra nada
Tinha tudo pra dar certo mas não deu – e ainda deu dor de cabeça! Quem olha para o material promocional de Thor: Amor e Trovão acaba tendo certeza de que o filme é bom. Afinal de contas, todos os elementos que compõem a premissa da nova aventura da Marvel são ideias há muito tempo […]
Tinha tudo pra dar certo mas não deu – e ainda deu dor de cabeça!
Quem olha para o material promocional de Thor: Amor e Trovão acaba tendo certeza de que o filme é bom. Afinal de contas, todos os elementos que compõem a premissa da nova aventura da Marvel são ideias há muito tempo desejadas pelos fãs e que, conforme iam sendo anunciadas pela Disney, foram celebradas e criaram um hype gigantesco para o filme.
Já começa pelo retorno de Natalie Portman para o MCU. Desde 2013, em Thor: O Mundo Sombrio, não tínhamos Portman participando de um filme do universo Marvel e ela retorna aqui quando sua personagem Jane Foster encontra uma forma de lutar contra um câncer ao se transformar na Poderosa Thor, uma adaptação de um dos arcos mais queridos pelos fãs dos quadrinhos. Além de Jane o filme acompanha Thor (interpretado por um Chris Hemsworth cada vez mais bonachão e com aura de astro de ação dos anos 80), Valquíria (a brilhante Tessa Thompson) e Korg (o alien de pedra com a voz do diretor Taika Waititi).
Juntos, os quatro combatem o vilão Gorr (interpretado pelo premiado Christian Bale, dando uma segunda chance para o cinema de super-heróis). Após uma decepção com o deus que seguia, Gorr se arma com a Necro-Espada e adota o título de Carniceiro dos Deuses para aniquilar todas as divindades cósmicas do universo – e isso inclui o nosso, ou melhor, os nossos Deuses do Trovão – Thor e Jane.
Não tinha como dar errado, né? Atores premiados, diretor com renome, arcos dos quadrinhos amados pelo público. Tudo isso nos dá a sensação de que é impossível um filme assim ser ruim. E talvez seja nessa pedra que o longa tenha tropeçado, a de valorizar tanto os seus potenciais a ponto de perder o capricho e acabar desperdiçando várias ideias boas com sequências vazias e sem peso emocional.
Thor: Amor e Trovão é um filme muito barulhento. Empenhado na missão de fazer com que Guns N Roses seja para o Thor o que o AC/DC era para os primeiros filmes do Homem de Ferro, as sequências com hard rock na trilha sonora tentam trazer estilo à ação frenética que o Taika dirige mas acabam criando uma desarmonia sonora e visual que mais atordoa o público do que diverte. Quando uma das primeiras cenas de ação, ao som de Welcome to The Jungle, acaba a sensação não é de “uau, isso foi intenso” mas sim de “ainda bem que acabou, isso foi cansativo”. E o barulho do filme não acaba no rock’n roll. Entre cabras gritalhonas, explosões de teto, lutas contra deuses e um troca-troca inacabável de armas (é machado, martelo, espada e até RAIO), a poluição sonora da obra impede até que as frases de efeito sejam engraçadas.
E sobre graça, é válido lembrar que a fórmula Marvel costuma sempre apostar em tiradas cômicas na construção de seus filmes e o próprio diretor Taika Waititi é conhecido por aplicar um tom de comédia em suas obras, sejam elas sobre guerra, deuses nórdicos, ou até vampiros. Infelizmente, em Thor: Amor e Trovão, faltou organização. Óbvio que o filme teria um tom cômico, e isso é muito bem-vindo, isso não foi surpresa.
O problema é que ao apresentar um vilão cujo conceito consiste em uma atuação de método do Bale unida a uma escolha criativa de trabalhar com a ausência de cor (outra ideia bem-vinda), a quantidade de piada vindo atrás de piada acaba atrapalhando essa construção. Em nenhum momento o filme pode respirar e se permitir não ter um instante engraçado ou irônico, e nenhuma emoção consegue ser levada a sério ou expressa de maneira profunda.
Não julgue quem pensou na história ou elaborou os acontecimentos do filme, os defeitos não estão nesses aspectos e sim nas entrelinhas. Se eu contar passo a passo o que acontece no filme, seja para explicar a motivação de Gorr ou o arco por qual Jane Foster passa, o filme até vai parecer algo bem feito mas não se engane!
A dificuldade de conciliar climas e dar tempo para a história crescer joga no lixo todo o potencial que Thor: Amor e Trovão tinha de ser um filme memorável para ser apenas mais uma coleção de boas atuações e boas ideias que não levam a lugar nenhum.