por Redação PerifaCon
Tartarugas Ninja: Quando o caos familiar assume forma mutante
Ao apresentar o quarteto como adolescentes que estão começando a sair de suas zonas de conforto e a passar pelo estágio inicial de amadurecimento, o filme 'As Tartarugas Ninja: Caos Mutante' consegue verdadeiramente capturar a essência mágica que torna toda a franquia tão envolvente e atemporal.
São raras as franquias que conseguem enfrentar com sucesso o teste do tempo, mantendo uma base sólida de fãs antigos, ao mesmo tempo em que conquistam novos admiradores com cada nova adaptação. No entanto, desde que foram criadas por Kevin Eastman e Peter Laird em 1984, as icônicas Tartarugas Ninja, Leonardo, Raphael, Michelangelo e Donatello treinadas pelo sábio Mestre Splinter, têm consistentemente demonstrado a notável capacidade de alcançar tal proeza, permanecendo eternamente enraizadas no imaginário popular.
Com a estreia de “As Tartarugas Ninja: Caos Mutante“, somos presenteados com um reboot espetacular que não apenas preserva a essência clássica do quarteto, mas também redefine os parâmetros para a revitalização das tartarugas para os próximos anos. A habilidosa direção de Jeff Rowe, aliada aos roteiros de Seth Rogen, cria uma simbiose perfeita entre a nostalgia e a aspiração de romper com as repetições narrativas das adaptações anteriores, tudo isso temperado com uma sutil crítica social enquanto mantem os personagens fiéis às suas características principais.
O tema do preconceito e da marginalização tem sido uma constante ao longo da trajetória da franquia. No entanto, nesta nova produção, esses elementos ganham ainda mais destaque, pois são entrelaçados à trama principal, sendo a principal motivação do quarteto para sair do seu esconderijo nos esgotos de Nova York. O que merece destaque é a forma como a narrativa se aprofunda nessas questões, trazendo à tona discussões pertinentes à sociedade atual.
A sensibilidade com que esses temas são tratados é verdadeiramente notável. Em vez de apenas usar esses temas como elementos superficiais, o filme mergulha fundo nas experiências dos personagens que enfrentam preconceito e marginalização em busca de aceitação. Isso permite que o público se conecte emocionalmente com suas lutas e desafios, tornando a mensagem muito mais impactante.
Além disso, a abordagem sensível suavizada com um tom de humor também evita a armadilha de cair em estereótipos ou simplificações. Em vez disso, os personagens são apresentados de maneira multidimensional, refletindo a complexidade das questões abordadas. Isso não apenas enriquece a história, mas também amplia a compreensão do público sobre esses problemas.
É digno de aplausos como o filme consegue equilibrar essa problemática com outros elementos da trama, mantendo o entretenimento e o ritmo. Ao fazer isso, ele consegue atingir tanto os fãs de longa data da franquia quanto atrair um novo público, que pode se interessar pela relevância e profundidade das mensagens exploradas.
A fluidez da animação se destaca de maneira notável, com cores vibrantes que evocam a sensação de murais grafitados, criando assim um estilo artístico único. Essa abordagem é complementada por um estilo de arte estilizado e cartunesco, que proporciona dinamismo aos movimentos rápidos e transições suaves entre as cenas.
As diversas expressões faciais e movimentos exagerados enriquece ainda mais a experiência, acentuada por cores vibrantes e texturas incríveis. Cada movimento ágil das tartarugas é retratado com uma maestria excepcional, criando a sensação envolvente de que os personagens saltaram diretamente das cenas de ação eletrizantes e impactantes do universo de John Wick.
Uma das características mais marcantes e positivas do filme é a transformação da personagem April O’Neil, essa evolução é comparável à abordagem da série “O Despertar das Tartarugas Ninja”, onde a personagem deixa de ocupar um papel secundário e passa a integrar de forma fundamental o grupo mutante de forma orgânica. Sua participação ganha um destaque especial à medida que ela se torna uma peça essencial nas reviravoltas da trama. É evidente que sua jornada de coadjuvante a peça crucial do quarteto é um dos elementos que contribuem significativamente para a profundidade e impacto emocional do filme.
Como um mosaico prestando homenagem a tudo que veio antes e com uma trama inteligente que se desenrola em um ritmo tão ágil quanto ao da sua própria animação. “Caos Mutante” demonstra sua eficácia ao reconstruir o universo das tartarugas, ao mesmo tempo em que aprofunda a caracterização dos personagens, tornando seus objetivos e princípios compreensíveis para o público.
A maneira como os antagonistas são retratados se destaca como um dos pontos mais marcantes do filme. Ao invés de cair na armadilha de recorrer a estereótipos simplistas e caricatos, a adaptação escolhe uma abordagem mais sofisticada, buscando identificar pontos de conexão entre as tartarugas e a turma do “Super Mosca”, esse elo é o desejo fundamental de serem aceitos por serem que são.
Ao traçar paralelos entre as jornadas e anseios das tartarugas e os membros da turma do “Super Mosca”, a narrativa adquire camadas de complexidade que permitem ao público enxergar além da superfície. Essa exploração mais aprofundada dos personagens não apenas enriquece, mas também amplia a compreensão dos espectadores sobre os conflitos internos e motivações de cada um.
Uma ilustração marcante dessa abordagem é evidenciada no arco de desenvolvimento pessoal do Mestre Splinter. Ao estabelecer um paralelo entre as suas próprias vivências e as experiências da turma do “Super Mosca” e das próprias tartarugas, o filme promove um notável crescimento por meio da Autocrítica, resultando em uma sabedoria que ressoa de maneira memorável na trajetória do Mestre Splinter. Esse aspecto não apenas contribui de forma significativa para a coesão da narrativa, mas também confere uma sensação de progresso contínuo, enriquecendo a jornada até o desfecho do filme.
Ao apresentar o quarteto como adolescentes que estão começando a sair de suas zonas de conforto e a passar pelo estágio inicial de amadurecimento, o filme ‘As Tartarugas Ninja: Caos Mutante’ consegue verdadeiramente capturar a essência mágica que torna toda a franquia tão envolvente e atemporal.
Texto por Hyader Epaminondas, colunista da Redação Coletiva do Portal PerifaCon