por Raphael Guimarães
‘Sorria’: Assustador porém esquecível
Entre tantos filmes de terror, o novo da Paramount infelizmente é um dos mais fracos O cinema de 2022 não cansa de tentar nos assustar. Muitos esperavam o “retorno dos cinemas” em 2022 por se tratar do primeiro ano “depois da pandemia”, aqui com muitas aspas. O que ninguém previu é que esse retorno seria […]
Entre tantos filmes de terror, o novo da Paramount infelizmente é um dos mais fracos
O cinema de 2022 não cansa de tentar nos assustar.
Muitos esperavam o “retorno dos cinemas” em 2022 por se tratar do primeiro ano “depois da pandemia”, aqui com muitas aspas. O que ninguém previu é que esse retorno seria protagonizado não pelos blockbusters de ação e aventura, mas sim pelo terror.
Vários dos filmes mais marcantes do ano são de terror. Tivemos os filmes slashers e de horror psicológico da A24 (como Bodies Bodies Bodies, X – A Marca da Morte e Men), filmes de grandes cineastas (como o Não! Não Olhe! de Jordan Peele ou O Telefone Preto de Scott Derrickson), novos capítulos de franquias já conhecidas (como Órfã: A Origem, Pânico 5 e Halloween Ends) e até mesmo Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, um dos filmes da Marvel desse ano, veio recheado de elementos de horror colocados cuidadosamente lá por Sam Raimi, um dos gênios do gênero no cinema.
Assim sendo, ‘Sorria’, o novo terror da Paramount, é mais um capítulo na história de 2022 com os filmes do gênero e, infelizmente, um dos mais fracos.
Na história, a protagonista Rose (trazida a nós pela performance genérica de final girl de Sosie Bacon) começa a ter visões de pessoas (conhecidas ou não) a encarando com um sorriso macabro no rosto, além de ouvir seu nome sendo chamado diversas vezes. As supostas visões passam a ocorrer depois que a terapeuta presencia o suicídio de sua paciente Laura (curiosamente interpretada por Catlin Stassey, que protagonizou o curta Laura Hasn’t Slept, também do diretor Parker Finn), que citou estar passando pelas mesmas coisas que Rose.
Conforme a história se desenvolve, vemos Rose investigar suas visões e supostas alucinações em uma progressão de medo e desespero que ameaça ser interessante mas não se aprofunda em nada além da sensação de medo iminente. Ou de susto iminente, já que o filme é recheado de jump scares. O jump scare não é necessariamente um artifício ruim mas aqui são apenas rupturas para lembrar o espectador de que o filme é de terror, de forma que nenhum susto rompe a tranquilidade/silêncio das cenas de suspense para introduzir um ritmo novo. As cenas de susto ficam repetindo uma fórmula de “tranquilidade – susto – tranquilidade”, o que nas primeiras vezes funciona mas logo depois faz com que o filme perca seriedade.
Talvez você tenha ficado interessado no filme por aquela cena do trailer em que um sustão é dado dentro de um carro….mas saiba que aquilo vem de lugar nenhum e vá pra lugar nenhum. É criativo e assusta, mas não tem função nenhuma.
Outro elemento interessante mas que é arruinado pela simplicidade e indisposição do filme de ousar é que a protagonista é uma psicóloga, alguém que entende de alucinações, que sabe como a mente funciona, que auxilia os outros a lidar com seus tramas e, entretanto, se vê presa dentro de um ciclo de traumas, sustos e medos. O medo do desconhecido é de fato aterrorizante mas Sorria apresenta um cenário em que Rose está sofrendo justamente porque o que ela jurava dominar está a enganando. Porém, não faz diferença nenhuma.
O filme usa o fato de Rose trabalhar em um hospital psiquiátrico só como uma forma de manter a personagem em constante contato com pacientes do hospital mas não aproveita o prévio conhecimento dela em psicologia em nenhum momento. Não faria diferença alguma caso Rose fosse faxineira do hospital, ou parente de algum paciente. É uma conveniência pelo cenário que não resulta em nenhum desdobramento interessante.
Por fim, o próprio conceito dos sorrisos (algo muito trabalhado no terror através do contraste que transforma a felicidade em algo assustador e perturbador) é pouco presente no longa. Sorria é o tipo de filme que deveria compensar esteticamente pela falta de criatividade e inspiração em seu terror, mas os sorrisos são poucos e nem ao mesmo conversam com alguns dos temas levantados durante a história, como traumas, cura e ciclos.
No fim, se você quiser um filme de terror íntimo e que trabalhe a questão de traumas, deveria assistir Babadook, de. Ele, inclusive, tem um belo sorriso.