Banner 31 outubro, 2024
por Redação PerifaCon

Serra das Almas subverte gênero com tensão, humor e carisma

Filme vencedor do Prêmio Netflix aborda o crime de forma descontraída, ao focar nos sequestradores.

 

Texto por: Pierre Augusto

Quando assistimos a um filme de sequestro, temos a tendência de simpatizar com as vítimas, temer pela vida delas cria uma tensão na ambientação do longa, mas, em Serra das Almas, ela é ofuscada pelo carisma e humor dos sequestradores.

Após um roubo de joias dar errado, o grupo de assaltantes foge do local levando duas repórteres e um homem aleatório como refém, que passam a ser mantidos na casa de um amigo distante no interior de Pernambuco. Mas o confinamento acaba trazendo atritos entre os amigos desajustados.

O diretor Lírio Ferreira optou por contar essa história de maneira não linear, e, por isso, somos jogados no enredo sem saber ao certo o que está acontecendo, tão perdidos quanto as repórteres sequestradas (interpretadas por Julia Stockler e Pally Siqueira). Essa falta de informações causa apreensão no começo, devido ao clima hostil e às conversas passivo-agressivas entre os bandidos. No entanto, quanto mais a trama é revelada, mais esse medo se dissipa.

A escolha de aprofundar o “refém aleatório”, os “sequestradores” e o “amigo dono da residência” (interpretados por Vertin Moura, Ravel Andrade, David Santos e Jorge Neto) gerou empatia imediata, muito pelo mérito dos atores e da direção. O tom de humor dado ao grupo resulta em diálogos cotidianos (mesmo que a situação seja absurda), que quebram a tensão de discussões e revelam o passado dos personagens com toques ácidos, no melhor estilo Tarantino.

A humanização dos personagens não elimina a opressão sentida pelas reféns, incluindo Mari Oliveira, moradora da casa onde elas estão escondidas, criando um senso de revolta em relação a como ela se sente ao ver mulheres sendo oprimidas dessa forma. O problema está na profundidade das personagens femininas, que é tão rasa e entediante que contribui para o desfoque das vítimas na trama.

A “barriga” em alguns flashbacks ofusca outros momentos que poderiam dar mais peso à trama, mas a química entre os atores e o plot twist final entregam uma história satisfatória, desde que você não espere o sequestro mais tenso do cinema.

O longa venceu o Prêmio Netflix na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e, em breve, estará disponível no streaming.