Banner 29 outubro, 2024
por Redação PerifaCon

Sabores do Iraque entrega uma degustação de sensações

A animação, que também é uma espécie de documentário, foi exibido no Festival francês de Cinema de Animação de Annecy.

 

Por Ester Raquel Silva Nascimento

A animação é um gênero de filmes que até hoje é comum atribuírem a crianças no cinema, mas sabemos que, na prática, nunca foi assim “Sabores do Iraque” é um exemplo disso. O filme mostra como “desenhos” podem explorar outras formas de representar assuntos que normalmente são mais delicados, como a violência, podendo ser vistos em tela sobre outra perspectiva através desses recursos artísticos. 

O longa conta, ao mesmo tempo, a história de pai e filho a respeito da sua relação com o seu país de origem: O IRAQUE. Longe de estereótipos, temos aqui uma experiência real da vivência de Amir Alani (pai), contada pelo Feurat (filho) por meio de memórias palpáveis de familiares e amigos que tecem a tradição diante dos nossos olhos. Assim como na famosa frase “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver, dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas”, começamos pelo fim numa cerimônia chamada Al-Fatilha que homenageia aos mortos, da mesma forma, que é o primeiro capítulo do Alcorão (livro sagrado do Islã). 

Conhecer uma cultura a partir da visão de alguém que faz parte dela é outra coisa, do que estamos acostumados a ver na grande mídia. O desenho retrata momentos históricos como a ditadura de Saddam Hussein, guerras, repressão, conflitos políticos, disputas religiosas, até a interferência dos Estados Unidos da América e como o país ficou depois de tudo isso.

Por isso, o uso de datas de transição é tão marcante e bem pontuadas, para nos guiar durante esse trajeto entre idas e voltas.   

A animação com cara de cartão postal vai escalonando conforme o enredo vai se desenvolvendo, onde as cores primárias cumprem um papel principal de transição de locais geográficos, pessoas, espaço e tempo que trazem um impacto visual. Num misto de composições de traços e da realidade, usando recortes de jornais e declarações de reportagens que nos tiram da imersão do universo animado para se lembrar da dura realidade de que o filme se trata.  

Com uma forte proposta de identidade pela busca de entender o passado para compreender o presente, na intenção de projetar a esperança de um futuro melhor nesta obra, ela demonstra a forma que as animações feitas para o público adulto, valem a pena na, 48° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.