Banner 6 setembro, 2024
por Redação PerifaCon

Primeiras impressões de Cidade de Deus: A Luta não Para

A série volta depois de 20 anos para contar uma nova história sobre as periferias brasileiras

 

Por: Gabriel Henrique dos Santos

Quando o filme Cidade de Deus estreou no Brasil em 2002, ele mudou a percepção de muita gente sobre a capacidade de produção do cinema nacional. Era uma história complexa com várias subtramas e personagens, se passando ao longo de vários anos e focando na periferia. Agora, em 2024, a história continua com Cidade de Deus: A Luta não Para, uma série que se passa 20 anos depois do fim do longa.

O primeiro episódio começa com cinco minutos de ação que emulam a fotografia e o ritmo do filme. Alexandre Rodrigues volta como Buscapé e narrador da trama. Vemos ele no meio de uma operação do BOPE na comunidade, tentando tirar boas fotos em meio a violência do confronto entre a polícia e os traficantes. É uma abertura forte. O episódio então vai para um ritmo mais tranquilo com foco em apresentar qual a situação atual de vários personagens da história original. Temos o retorno de Braddock, Cinthia, Berenice, Barbantinho, várias caras do filme e provavelmente haverá mais ao longo da temporada. 

 Buscapé/ Wilson agora é um fotógrafo com uma carreira já consolidada.  Wilson parece desconfortável quando retorna a CDD (Cidade de Deus) após vários anos morando na zona norte. Ele rejeita ser chamado pelo apelido de Buscapé quando encontra com outros moradores, preferindo ser chamado pelo nome. Tem dificuldade em se aproximar da filha e entender os gostos dela. Ele é relutante em se comprometer com o que acontece na favela. Uma subtrama que pode se desenvolver de forma interessante no decorrer da temporada.

Mas o grande evento que move toda a história é quando Braddock (Tiago Martins), recém-saído da cadeia, declara guerra a Curió (Marcos Palmeira), atual líder do tráfico na Cidade de Deus. A relação dos dois personagens, basicamente a de pai e filho, é com certeza um dos pontos altos desses dois primeiros episódios liberados até agora pelo Max.  Eles lutam para se firmarem como líderes no morro, mas o respeito mútuo e a história que compartilham ainda causa hesitação quando as decisões difíceis aparecem.

Aos poucos todos os moradores começam a ser puxados para esse conflito. Um ex-militar que se sente responsabilizado pelo bem estar da comunidade e pondera entrar nessa guerra, um policial morador da CDD que vê a favela além da violência e confronta seus superiores, uma coordenadora do centro comunitário que não quer ver mais sangue derramado. Os efeitos que a guerra entre facções criminosas causam nos habitantes de uma comunidade, assunto diário no jornal. Um tema que precisa ser tratado com urgência, ainda mais numa série como essa,  e que parece estar evoluindo aos poucos na trama. Vamos esperar que ele não fique só na conveniência para o roteiro e em umas frases soltas tipo “todo dia esse barulho de tiro”.

O estilo narrativo agitado e brutal do filme em relação a pobreza e a violência do dia a dia em comunidades fica um pouco de lado para, em contraste, termos uma fotografia mais colorida e um roteiro que destaca a diversidade das atividades que dão vida à Cidade de Deus, como um clube de judô ou um centro comunitário, o que é legal de ver.

É um bom começo, mas a série ainda falta mostrar a que veio. Agora é acompanhar onde as lentes de Buscapé como narrador vão nos levar. Os episódios de Cidade de Deus: A Luta não Para, são exibidos nos canais da HBO e estreiam todo domingo na plataforma de streaming Max.