Por que os filmes de terror são esnobados no Oscar?

O terror é um dos gêneros mais populares dos cinemas, mas por qual motivo não domina as grandes premiações?

Com a sua primeira edição em 1927, A The Academy Awards (Oscar) se tornou a maior premiação do cinema no mundo, na qual todos os anos a bancada composta por votantes escolhem filmes que se destacaram naquele ano seja por direção, atuação, efeitos visuais, roteiro, entre outras categorias.

Apesar de premiar filmes de diversos gêneros ao longo dos anos, o Oscar sempre foi muito escasso em relação a filmes de terror, fazendo com que o público se questione os motivos de filmes que marcaram décadas terem sido tão esnobados pela premiação.

Primeiro de tudo precisamos ser honestos, ao longo dos anos diversos filmes de terror foram indicados ao Oscar, na sua grande maioria, os filmes foram indicados nas categorias técnicas como Mixagem de Som, Fotografia e Efeitos Visuais, ou nas categorias de atuação. Aliens (1986), teve Sigourney Weaver indicada como Melhor Atriz, assim como Psicose (1960) teve Janet Leigh concorrendo na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante. Outro exemplo é O Exorcista (1973), que teve Ellen Burstyn na categoria de Melhor Atriz e Linda Blair na de Melhor Atriz Coadjuvante. No entanto, nenhum desses indicados levou a estatueta. Apesar disso, muitos desses filmes se tornaram clássicos de terror e se destacaram bastante na época por terem moldado subgêneros do terror.

O Exorcista talvez tenha sido o filme mais injustiçado dessa lista: o filme foi indicado a 10 Oscars e ganhou apenas dois em categorias técnicas. O filme foi um verdadeiro choque na época, e muitas críticas especializadas indicavam o filme como o mais assustador de todos os tempos e mesmo após 47 anos desde o seu lançamento, o filme ainda é considerado bastante assustador e serviu de modelo para inspirar muitos outros que vieram depois. Não preciso mencionar o quão icônica é a performance de Linda Blair, que não apenas se tornou um símbolo da cultura pop, mas também mostrou uma versatilidade e atuação muito notável para uma atriz de apenas 14 anos.

Na mesma medida, Halloween (1979) foi um grande sucesso para o gênero Slasher: é um dos filmes mais clássicos de terror e que foi feito com uma produção de baixíssimo orçamento, mas que conta com uma direção impecável e com uma trilha sonora bastante marcante. O filme não teve nenhuma indicação ao Oscar. O Iluminado (1980) é um clássico, um filme de terror psicológico que é considerado o melhor filme de uma adaptação do Stephen King, mas não apenas isso, o filme se tornou um marco por suas atuações e fotografias, seja pela performance de Jack Nicholson como Jack Torrance ou até mesmo a fotografia do Hotel Overlook que possui uma das cenas mais memoráveis do cinema. O filme também não foi indicado ao Oscar e em nenhuma premiação grande.

Não é novidade que o Oscar sempre dá prioridades para filmes dramáticos, todo ano a premiação foca nesses filmes e muito raramente algum filme diferente é indicado nessa categoria. Não vou incluir aqui filmes de ação que ganharam destaque nos últimos anos e até mesmo filmes de super-heróis que chegaram a ser indicados, a questão aqui é que a Academia nunca faz questão de indicar filmes de terror que tiveram um grande destaque naquele ano, e quando indicam, os filmes ganham em categorias técnicas que acabam se tornando muito pequenas para o que o filme de fato é.

Algo que pode explicar este fenômeno é o fato de que a maioria dos filmes de terror podem ser produzidos com um baixo orçamento e, por conta disso, saem aos montes: muitas vezes com atuações, roteiros e produção questionáveis. E ainda assim, alguns deles se tornam gigantes de bilheteria. Dessa forma, o gênero deixa de ser levado a sério pelo grande público e, principalmente, pela crítica especializada, que vê no terror a fórmula básica repetida exaustivamente sem grande atenção ou cuidado por parte das produtoras. Por consequência disso, muitos críticos e, é claro, as premiações acabam ignorando excelentes filmes que surgiram de pequenas produções independentes somente por serem classificados terror como consequência da “má-fama” do gênero.

Dos filmes mais recentes, a lista de esnobados apenas cresce e mostra que o Oscar nem sequer tem interesse de cogitar uma indicação a esses filmes. A Bruxa (2016) foi bastante aclamado pela crítica e chegou a ser exibido em diversos festivais de cinema como Festival Sundance de Cinema (2015), Festival Internacional de Cinema de Toronto (2015) e Festival de Cinema de Melbourne (2016). O filme conta com uma fotografia muito bonita e atraente, que se tornou a marca principal da A24, além de trazer uma ótima trilha sonora e até mesmo uma boa atuação de Anya-Taylor Joy como Thomasin, a protagonista do filme.

Nós (2019) foi um filme que gerou bastante discussão quando não foi indicado ao Oscar 2020, e grande parte da reclamação foi pelo fato da Lupita Nyongo não ter sido indicada como Melhor Atriz. No filme, Lupita interpreta duas personagens e a performance dela é muito grande para um “simples filme de terror”. Se a Linda Blair entregou uma atuação incrível com apenas 14 anos, Lupita entrega sem dúvidas uma das maiores performances do terror de todos os tempos. Ao todo, Lupita ganhou 24 prêmios por sua atuação no filme, mas ficou totalmente de fora de grandes premiações como BAFTA, Globo de Ouro e Oscar.

Não serei desonesto e não citar Cisne Negro (2010) que rendeu um Oscar para Natalie Portman como Melhor Atriz e nem Corra (2018) que rendeu um Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Mas a quantidade ainda é pouca em relação a filmes de outros gêneros que muitas vezes são indicados por seguirem sempre a mesma história e que são filmes feitos para a temporada de premiações. 

Querendo ou não, o terror é um dos gêneros mais importantes do cinema e o que mais movimentou a cultura pop no último século, seja por filmes inovadores e novas técnicas de produção ou até mesmo de personagens que se tornaram icônicos. O Oscar vai começar mudar em relação a filmes de terror? Não sei, mas o terror vai continuar entregando grandes filmes e se inovando cada vez mais.