Banner 12 março, 2022
por Andreza Delgado

Por que Comic Con na favela?

A cultura POP fala com todo mundo sim, mas seu acesso ainda fica restrito a grupos seletos, condição cultural  reproduzida até mesmo, ou principalmente, no setor do entretenimento. O POP é desejo de consumo de todos, mas realidade de poucos, ora pelos obstáculos na mobilidade urbana, ora por seus valores exorbitantes, ou por desafios comportamentais […]

 

A cultura POP fala com todo mundo sim, mas seu acesso ainda fica restrito a grupos seletos, condição cultural  reproduzida até mesmo, ou principalmente, no setor do entretenimento.

O POP é desejo de consumo de todos, mas realidade de poucos, ora pelos obstáculos na mobilidade urbana, ora por seus valores exorbitantes, ou por desafios comportamentais em uma sociedade ainda resistente à diversidade.

O projeto PerifaCon 2019,  um evento comercial de entretenimento, que aposta na diversidade e na periferia como a essência de seu negócio, surgiu para pesar nessa balança das desigualdades que se estende até na hora de pensar em diversão.  

Sim, negócio: a  pequena produtora que nasceu com a ideia de dividir a paixão pelo universo nerd com outras pessoas e aproximar a periferia da possibilidade de consumo, criação e experiência em seus próprios territórios, sem necessidade de se deslocar, vem investindo na democratização  do acesso à cultura pop e na geração de oportunidades para empreender dentro da quebrada.

Reprodução: PerifaCon

O que nos traz ao ponto: por que não consumir e empreender na quebrada?  A aposta no morador de favela como consumidor e empreendedor só poderia vir de quem vive a carência de ter que se deslocar para o centro para conseguir acessar comércio & entretenimento & renda. A economia criativa também é uma  grande aposta e oportunidade para moradores de periferia.

É preciso quebrar com a ideia atrasada de que os baile funk acontecem por falta de alternativa para os jovens moradores. Na verdade, estamos falando de um lugar onde as pessoas promovem intercâmbios culturais e de lazer. Em 2017 na matéria o “Fluxo do Fluxo” do Uol TAB o repórter Jeferson Delgado trouxe histórias de moradores de Paraisópolis que tiveram impacto nos seus negócios locais por conta dos bailes funk, as festas nas ruas que demarcam o encontro da juventude periférica nos finais de semana, que comunicam da periferia para a periferia.

Por isso, mais do que nunca, a primeira Comic Con da Favela não é só uma necessidade, é um movimento irreversível de mudança social e da lógica de modelos econômicos de mercado.

Quer dizer, o entretenimento na periferia não é só uma chance para alívio individual, mas também oportunidade de transformação econômica e de expectativa de vida, principalmente para juventude favelada brasileira.