Banner 24 junho, 2022
por Marcos Marques

Por que Beyoncé continua no auge com 20 anos de carreira solo?

Com o anúncio de Renaissance, Beyoncé mostrou que ainda é relevante para a música mundial.  Seja lá onde você esteve nos últimos dias, eu tenho certeza que você ouviu algo sobre a Beyoncé. Nas últimas semanas, a artista tem provocado os fãs com um possível anúncio, e no último dia 16, confirmou o lançamento de […]

 

Com o anúncio de Renaissance, Beyoncé mostrou que ainda é relevante para a música mundial. 

Seja lá onde você esteve nos últimos dias, eu tenho certeza que você ouviu algo sobre a Beyoncé. Nas últimas semanas, a artista tem provocado os fãs com um possível anúncio, e no último dia 16, confirmou o lançamento de seu novo álbum Renaissance, sucessor do Lemonade

Na última terça-feira (20), Beyoncé lançou o single Break My Soul, música que faz parte do novo álbum. Com uma pegada house dos anos 1990, a cantora trouxe muita sonoridade de um gênero criado e popularizado por pessoas negras e LGBTQIA+ nos Estados Unidos, e que hoje ainda é influência para diversos artistas. 

Não deu outra: a internet comemorou a chegada do novo lançamento da cantora e, além disso, a música foi bem recebida pelos críticos.

Acredite ou não, já faz quase 20 anos que Beyoncé segue em carreira solo desde o hiatus do grupo Destiny’s Child em 2002 que faz com que as integrantes focassem em trabalhos individuais. Mesmo com Kelly Rowland e Michelle Wiliams se dando bem em seus projetos, é inegável que dentre elas Beyoncé foi a que mais fez sucesso.

Prestes a fazer 41 anos, Beyoncé mostra que ainda domina o cenário musical de uma forma muito sólida.

Mas afinal, o que faz a negona estar no auge?

Aqui eu citei alguns momentos marcantes que fizeram com que Beyoncé seja uma das artistas mais relevantes da cultura mundial:

A estrela que se destacou 

Pra quem conhece bem a carreira da Beyoncé, sabe que a grande mente por trás de seus trabalhos foi seu pai, Mathew Knowles. Ele sempre gerenciou a carreira da Beyoncé e do Destiny’s Child. Quando o grupo terminou em 2006, Mathew continuou trabalhando com Beyoncé, que estava prestes a lançar seu segundo álbum, B’Day (2006), e tinha acabado de estrelar Dreamgirls, um passo importante na carreira dela. 

Mesmo estando no patamar de grandes artistas da época como Mariah Carey, Janet Jackson, Britney Spears, Christina Aguilera, Alicia Keys e Ciara, Beyoncé sempre esteve bem orientada sobre o que ela queria ser, principalmente por ter aprendido os macetes da indústria musical com seu pai. 

Em 2008, Beyoncé lançou o I Am… Sasha Fierce (2008), álbum que foi o maior sucesso de sua carreira até então e que entregou sucessos como Halo, Single Ladies e If I Were A Boy. Essa era foi recheada de promoções, divulgações, turnê mundial de sucesso e muitos prêmios. Apesar de todo o sucesso, foi em 2011 que a cantora fez a melhor decisão de sua carreira. 

Independência

No documentário Life Is But A Dream, lançado em 2013, Beyoncé explica que após o lançamento do I Am… Sasha Fierce ela se sentiu pressionada e cansada como artista. Apesar de todo o sucesso comercial, ela não desejava mais cantar músicas sobre a mesma coisa por mais 10 anos. Foi a partir daí que Beyoncé interrompeu suas relações profissionais com Matthew, seu pai e empresário. 

Quero poder cantar o quanto me odeio em um dia, se eu me sentir assim. Senti que era hora de arranjar o meu futuro. Então estabeleci meu objetivo: ser independente.

Cortar as relações com o próprio pai foi um momento muito frágil pra artista, afinal, Matthew sempre foi a pessoa que orquestrava cada passo da Beyoncé na indústria fonográfica. 

A vida é imprevisível, mas senti que deveria seguir em frente e não trabalhar com meu pai. Não ligo se não vender mais nenhum disco.

E não é que deu certo? Com o lançamento do 4 (2011), Beyoncé havia alcançado um novo patamar em sua carreira, explorando novos gêneros musicais e vivendo uma nova fase de sua vida, principalmente por conta de sua primeira gravidez.

13 de dezembro de 2013

Às 03:00 da manhã, sem aviso prévio, Beyoncé simplesmente lança o auto intitulado BEYONCÉ (2013), álbum visual que conta com clipes para todas as faixas. Nesse dia, podemos dizer que Beyoncé quebrou a internet.

Ela havia quebrado todos os recordes possíveis, seja de 1º lugar em álbuns mais vendidos do mundo ao mesmo tempo, como qualquer outro recorde que não havia sido superado. Beyoncé simplesmente estava no topo, tendo seu nome sendo aclamado em todos os sites especializados, que nomearam o álbum como um dos mais importantes do ano e um dos mais relevantes de todos os tempos. 

Foi a partir daí que o mundo começou a olhar para Beyoncé como uma artista fora da curva, dando créditos não só ao seu talento, mas também à sua visão de como enxergar o mundo e dominar as ferramentas necessárias para fazer um grande sucesso. 

Nessa altura, ela já estava tomando as rédeas de sua carreira e inovou ao ir contra o que a indústria fonográfica fazia naquele momento.

Vale lembrar que na época os lançamentos eram feitos nas terças-feiras, e devido ao impacto surpresa do álbum, a Billboard definiu que lançamentos deveriam ser feitos às sextas. Isso se mantém até hoje. 

O mundo descobriu que Beyoncé é uma mulher negra 

Se você nunca viu a sátira The Day Beyoncé Turned Black, do SNL, eu recomendo você ir assistir agora. O vídeo de humor é uma provocação às pessoas que atacaram Beyoncé após o lançamento de Formation, que além de ser um sucesso na carreira dela, também é uma música na qual Beyoncé falou abertamente sobre a população negra nos Estados Unidos, apontando a violência e o racismo. 

Claro que essa foi apenas a ponta do iceberg, porque na mesma semana de lançamento do single, Beyoncé se apresentou novamente no Super Bowl e invocou a ira dos republicanos que tentaram de todas as formas boicotar a maioral. 

Com o lançamento do Lemonade, mais uma vez ela teve um disco aclamado pela crítica que considera o melhor álbum da carreira da Queen B. O álbum é considerado o mais pessoal de sua carreira por enquanto e que além de ser um álbum visual, conta com muitas nuances: desde desabafos sobre a traição de seu marido, Jay-Z, até gritos de socorro e de justiça para a comunidade negra nos Estados Unidos. 

As imagens acima faz parte da música Foward: nas fotos, temos as mães Lesley McSpadden e Sybrina Fultonas segurando os retratos de seus filhos que foram mortos pela policia. Trayvon Martin, filho de Sybrina Fultonas, foi assassinado aos 17 anos pelo segurança George Zimmerman, em 2012. Já Mike Brown, filho de Lesley, foi morto a tiros por um policial em Ferguson, no Missouri, em 2014.

No álbum, Beyoncé exalta a comunidade negra com cenas gravadas em Louisiana, sul dos Estados Unidos. No entanto, a cantora se tornou bastante ativa nas pautas voltadas a pessoas negras nos Estados Unidos não apenas dando voz através da música, mas também contribuindo financeiramente em diversas causas. Tanto Beyoncé como Jay-Z já ajudaram financeiramente jovens ativistas que foram presos em protestos que lutavam contra a violência policial, assim como deram assistência a mães negras que tiveram filhos mortos pela polícia.

Muito além disso, Lemonade é usado até hoje nas faculdades dos Estados Unidos como material educacional. 

O maior show da carreira e Black Is King, o filme que exalta a beleza negra

Beyoncé já fez milhares de shows ao longo de sua carreira, desde grandes turnês mundiais até performances em premiações importantes. Mesmo sendo destaque na maioria, foi no Coachella em 2018 que Beyoncé realizou o maior show da cultura pop de todos os tempos.

O LA Times elegeu o show da Beyoncé no Coachella como o maior e melhor momento da cultura pop no século XXI.

Apelidado de Beychella, o show da Beyoncé no festival foi um marco histórico. Além de Beyoncé ser a primeira mulher negra a cantar no palco principal do festival, o show conta com uma orquestra completa e formada totalmente por pessoas negras. Todo o conceito do show tem como referência o Homecoming, uma comemoração que acontece nas universidades e faculdades historicamente negras (Historically Black Colleges and Universities – HBCUs).

O registro do show está disponível na Netflix, e além de mostrar a preparação e bastidores, o material conta com muita bagagem cultural através das explicações do conceito do show pela cantora.

Outro grande passo na carreira de Beyoncé foi o Black is King, filme lançado no Disney+ que faz parte da trilha sonora The Gift, baseado no filme live-action de O Rei Leão, no qual Beyoncé deu voz a leoa Nala. Black Is King é dirigido por Beyoncé em colaboração com cineastas de diversos países africanos. O filme conta com cenas gravadas nos Estados Unidos e em países como Gana e Nigéria.

Vale lembrar que grande parte do conteúdo foi gravado por cineastas locais, e apesar de Beyoncé assinar o projeto como diretora, todos os cineastas são creditados como diretores ou co-diretores.

O filme foi lançado no auge da pandemia e fez bastante barulho, principalmente pelo fato de Beyoncé falar sobre ancestralidade, amor, afeto e representatividade. O filme faz uma releitura de O Rei Leão aos olhos da artista, que entrega um verdadeiro álbum visual protagonizado por artistas negros, como dançarinos, modelos e cantores que colaboraram no álbum.

O filme foi bem aclamado em todos os veículos de mídia, e causou um barulho aqui no Brasil, principalmente após um artigo da Folha no qual dizia que Beyoncé errou ao glamourizar a negritude com estampas de oncinha. Tal artigo recebeu muitas respostas negativas.

Renascimento

Voltando à 2022, Beyoncé anunciou o álbum Renaissance para o dia 29 de julho e já conta com a primeira música lançada. Apesar de estar sempre quieta sobre seus lançamentos, a faixa Break My Soul deu um gostinho sobre o que pode vir neste próximo trabalho.

Quando falamos de Beyoncé, sempre temos em mente a imagem daquela mulher que sabe fazer um grande show e que sempre esta no auge por seu trabalho. Ela veio de uma época onde o R&B, Hip-Hop e Rap estavam no auge, bem ali na metade dos anos 2000, onde o música negra nos Estados Unidos tomava conta das rádios.

Quando pensamos em artistas como Ciara, Leona Lewis, Ashanti, Brandy e Monica, muitas não conseguiram alcançar o mesmo status atual no qual Beyoncé se mantém. De forma alguma quero dizer que elas não mereciam estar, inclusive, acredito que a indústria da música ainda tem dificuldade de abraçar outras mulheres negras.

Até poucos anos, quando se falava de cantoras negras dos anos 2000, somente Beyoncé e Rihanna permaneciam em foco. Além de Nicki Minaj, que surgiu nos anos 2010, hoje temos Cardi B, Doja Cat, Lizzo e talentos mais recentes como Normani e a dupla Chloe x Halle.

O fato de Beyoncé estar no auge com 20 anos de carreira solo mostra seu amadurecimento como artista, além de deixar muito claro que ela é o tipo de artista que acompanha a sociedade conforme ela se desenvolve, principalmente quando usa sua voz para inspirar e dar visibilidade para pessoas negras.

Beyoncé é uma caixinha de surpresas, e sempre que dá indícios de retorno, o mundo para para observar e ver quais serão os próximos passos da rainha. Seja lá o que venha por ai, Beyoncé vai me dar mais parágrafos para um futuro texto.