Banner 21 julho, 2024
por Redação PerifaCon

Partes: arte em prol de uma sociedade anticapacitista

Paloma Santos é ilustradora e assina com o nome artístico “Partes”.

 

Texto por: Milena Guimarães

Com o nome escolhido inicialmente por ser o dela misturado com a palavra “Arte”, ganhou um significado maior no processo de criação da artista. Ela conta que passou a ver e entender a arte como um pedaço muito grande de sua vivência e uma parte que deseja mostrar ao mundo.

Suas ilustrações trazem o protagonismo e diversidade das mulheres, além de abordar as vivências como pessoa com deficiência, principalmente criando representatividade em lugares que na infância não se enxergava. 

INÍCIO DA CARREIRA

Paloma nos conta que sua carreira como ilustradora começou ao acaso. Ela cursava técnico em comunicação visual e teve contato com matérias sobre estratégias de desenho. “Nesse curso foi onde eu comecei a ter interesse pela ilustração, pelos desenhos. Porque até então eu fazia uns desenhos mas não era nada muito ‘uau’, não era uma criança que a família olhava e falava: nossa essa criança aí tem talento. Todas as coisas que eu aprendi eu desenvolvi”, diz. 

A partir de então ela passou a ter mais interesse pela arte, mas a insegurança limitava a entender que poderia tomar essa paixão como profissão. Paloma trabalhou com outras coisas antes de finalmente encontrar o curso de artes visuais, onde inicialmente tinha interesse em licenciatura, mas no decorrer da faculdade foi se apegando à criação de ilustração. 

“Fui postando e as coisas foram acontecendo. Foi um caminho que foi me levando, não era um plano.”

INSPIRAÇÕES

No início de sua carreira, ela conta que se sentia muito perdida, principalmente pela questão da ausência de representatividade. “a gente estuda muito a história da arte, e não vê pessoas com deficiência, pessoas negras e ainda que elas existam não são apresentadas para a gente.”, conta a artista 

A sua primeira grande inspiração foi Frida Khalo:

Muita gente conhece como símbolo feminista, mas ela era uma mulher com deficiência e isso é muito invisibilizado, mas ela foi a minha primeira grande referência de estudar e de ver ‘caramba pessoas com deficiência ocuparam esse lugar na história da arte, né?’.”

Suas ilustrações também começaram como uma forma de revolta e da raiva que sentia por não se enxergar representada no mundo. Assim, surgiu o projeto: “Princesas com deficiência”, criada pela artista e que retrata princesas da Disney, como a branca de neve, com outra cor de pele e o braço amputado ou uma versão da Mulan e de Moana com prótese na perna. 

Essa indignação, agora vinda das atitudes de capacitismo e a invisibilidade das pessoas com deficiência, fez com que nascesse a série ‘PCD’s putos’, onde em suas ilustrações mostram que todos têm o direito de ser reclamões. 

“Eu tava com muita raiva porque quando você revisita o seu passado percebe que foi criada sem referência nenhuma, teu corpo não existia na TV, teu corpo não existia nos filmes, nos desenhos. E é um momento de raiva, porque todas as coisas começam a fazer sentido, né? Por que eu não construí uma autoestima até agora? Porque as princesas eram loiras, brancas, o corpo com deficiência não existia. Então, eu criei e foi mais esse sentido de afronte.”

TRABALHOS

Além das séries de ilustrações, ela também atua ilustrando livros, revistas, sites, cartazes e outros suportes, de acordo com a demanda do cliente. Participar de trabalhos como ‘Manual anticapacitista’ e ‘Ta todo mundo rindo’ foi uma experiência bem legal, e que abriu muitas portas:

“O ‘tá todo mundo rindo’ quem escreveu foi uma amiga minha, Desirée. Ele também é de um projeto chamado “Comédia Sentada” que é de um grupo de humoristas com deficiência que fazem shows, e também é um coletivo, né? Porque a gente tem um grupo de estudos. […]também foi muito importante porque ele fala de humor sem ser capacitista, é muito político, então foi muito legal de ilustrar”.

Paloma compartilhou que suas ilustrações favoritas são os desenhos infantis.Algo que 

gosta de fazer por ser lúdico e ao mesmo tempo consegue colocar a sua percepção de mundo e representatividade que faltaram para ela na infância.“Me cura em muitos lugares e me diverte”, diz ela

Ilustração para a série The Good doctor

Um dos trabalhos mais interessantes, segundo Paloma, foi ter ilustrado um banner para divulgação da série “The Good  Doctor” 

“Me chamaram para ilustrar um banner que ia ficar no meio do metrô consolação e eu fiz um desenho de uma mulher com deficiência, uma cadeirante, e ele ficou ali um mês no metrô e eu fiquei chocada e muito emocionada de ter ficado no lugar com tanta feminilidade e de ser um desenho que carrega representatividade.”

COLETIVO HELLEN KELLER

Perguntamos para Paloma como é fazer parte do coletivo Hellen Keller. A artista contou que entrou no coletivo há uns anos com a necessidade de estar reunida com outras mulheres que entendessem as ausências que ela também tinha. Buscando por um lugar de pertencimento, encontrou acolhimento no coletivo.

“Quando a gente fala em feminismo conhecia várias mulheres que estavam nesse rolê, só que ainda não me sentia ouvida e o coletivo feminino Hellen Keller é um coletivo só de mulheres com deficiência”

Paloma é uma artista incrível e que traz consigo as vivências importantes, combatendo diariamente o capacitismo estrutural com muito talento.

Ela estará nos dias 27 e 28 de julho no beco dos artistas da Perifacon 2024!