por Redação PerifaCon
Painel da Kenner fala sobre o impacto de Pantera Negra
Com direito a pocket show e entrevista das gêmeas Tasha e Tracie
Um dos momentos mais aguardados do evento, o Painel da Kenner levou um time de peso para abordar o impacto do filme Pantera Negra na cultura e na vida de jovens negros, além de apresentar sua nova campanha inspirada no mesmo tema: a “tecnologia ancestral e a estética afrofuturista de Wakanda”.
A banca convidada contou com a participação do mediador Luiz Gustavo Queiroga (Jornalista e Especialista em Mídias Sociais da Redbull), do Co-Host Wellington Lima (Gerente Key Account da Kenner e Redley), do Diretor Criativo e Multiartista “Zamba” (Rodrigo Zambelli – BA), do Artista Digital Gean Guilherme (CEO do Laboratório @2050___ – RJ) e das expoentes do rap nacional, as irmãs Tasha e Tracie.
“É bonito de você ver a criança preta podendo saber que hoje em dia ela tem o super herói preto pra ela se inspirar né?”, afirma Wellington Lima sobre o ícone dessa nova coleção. Wellington também nos contou que a princípio essa ideia surgiu “na conversa de duas mulheres pretas, a Mari que trabalha com a gente no marketing e o nosso contato da Disney, então dali começou esse papo”.
Dali para frente foram se somando mais parcerias alinhadas com essa ideia do afrofuturismo, como explica melhor Zamba “é importante falar que eu sou de Salvador, Bahia, né? Acho que pra muita gente Salvador é visto muito como esse lugar da capoeira, do rudimentar e tal. Salvador nunca é visto como um lugar futurista, nunca é visto como lugar de polo de tecnologia, nada disso, sabe? E lá tem muito nerd assim, está ligado? Tem gente nerd que tá tipo estudando pra c***, tecnologia como eu fui, tá ligado? Eu fui um garoto que nerdiava…”.
Zambelli já carregava essa vontade de apresentar Salvador com outro ponto de vista e após uma parceria de trabalho com a banda Àttooxxá, começou a ilustrar a galera preta que frequentava os bailes com uma versão futurista, o que a banda traduziu de afrofuturismo em suas músicas, Zamba imprimiu em suas artes visuais.
Para ele “Salvador tá nesse momento fervilhante, que eu acho que o mundo também está nesse momento né? E o Pantera Negra é um sintoma disso, né? De que o mundo está olhando mais para as narrativas pretas“. Zamba tem formação em design e é responsável por criar todas as fotos still e humanizadas que a Kenner irá usar na sua nova campanha construída com inteligência artificial.
Tendo como referência o universo de Wakanda, a Kenner em parceria com Gean (artista digital) e Rabisco (@rxbisco.rx – ilustrador), criou para essa coleção o filtro de realidade aumentada. Um QR Code acompanha a caixa das sandálias e ao escanear os consumidores terão acesso a esse filtro construído em conjunto.
Gean e Rabisco fazem parte do coletivo e laboratório 2050, um polo tecnológico localizado no Morro de Santo Amaro (RJ) que trabalha com realidade virtual. Para Gean “pensar tecnologia, pensar inovação dentro de um território periférico é sempre um desafio muito grande. Comprar equipamento, comprar uma mesa digitalizadora, comprar um computador… então acho que a gente começa a inovar quando a gente bota a cara, e a nossa maior arte é a tecnologia no caso, então é isso“.
Complementando a fala de Gean, Tracie afirma “a inovação muitas vezes vem de uma falta, e a gente junta a da riqueza da ancestralidade com a da falta dos dias de hoje, e o nosso povo ele é inovador, ele só não recebe os créditos devidos todas as vezes“.
Queiroga ressalta a importância de entender que “essa conversa é uma conversa muito densa e tem várias camadas porque a gente está falando de tecnologia né. Mas estamos falando de um país que infelizmente 40 milhões de pessoas não tem acesso à internet. E às vezes a gente fala da tecnologia, mas tem lugares que não tem nem esgoto, então imagina falar sobre acesso à internet. Ao passo que é muito importante isso né, porque estamos reafirmando narrativas que a favela tem como potência“.
Já no final da conversa desse Painel Zamba arremata “é histórica a resistência do povo preto, essa resistência que a gente tem essa inventividade vem da escassez né. Tipo buscar nosso lugar e tal e através disso você vê como a gente extravasa e acaba criando coisas incríveis. Acho que hoje a gente está criando formas, se juntando, se aquilombando. Então eu acho que é isso, a gente só precisa se fortalecer para poder mostrar algo, a inventividade, a genialidade que a gente já tem“.
Em entrevista as gêmeas escolheram qual personagem elas seriam caso fossem interpretar o filme Pantera Negra. Tasha nos disse que seria a Nakia (Lupita Nyongoó) “porque ela é a guerreira, a linha de frente de tudo. E ela é linda, né?“. Já Tracie escolheu a Ramonda (Angela Basset) “porque ela é a matriarca e eu acho ela muito pesada“.
As irmãs também deram conselhos para a galera periférica que está em transição de trabalho ou que estão iniciando sua carreira artística. Tracie ressaltou a importância de perder o medo de ser iniciante e inexperiente “e de às vezes fazer uma coisa que a gente considera de forma medíocre, porque tem muita gente com condições e faz as coisas de forma medíocre”. Tasha relembra “não é preciso ter um medo de fazer uma festa e só ir cinco pessoas. É um começo, a gente cansou de fazer e a gente viu muitos amigos, muitas pessoas próximas, que tinham medo de começar e passar vergonha, porque as pessoas riram da gente muitas vezes…”.
Tracie reforça “então é isso, não tenha medo dessa fase da inexperiência e de tentar fazer com o pouco que você tem, porque às vezes o que a gente considera medíocre é muito e é muito melhor do que muita gente que tem condição. E uma coisa que a gente aprendeu vendo os playboy é que eles não tem medo de ser medíocre no que eles fazem. E eles começam e só fazem. E é isso, é botar a cara sempre que possível e perder esse medo bobo porque a gente é muito melhor em muita coisa e a gente fica esperando aí a hora ideal, a situação ideal e ela não vai chegar”.
Para concluir o incentivo Tasha afirma “eu acho que a gente tem que fazer e não é fácil né? A gente sempre fala isso porque senão a gente cai às vezes num bagulho de meritocracia, mas a gente sempre fala pra você fazer o mínimo nem que seja o mínimo possível pra tá no caminho do seu sonho. Tipo por mais que tudo custa caro, mas o que é acessível pra você? Nem que seja ler uma parada, tá em contato, faça o mínimo possível porque o tempo vai passar de qualquer jeito“.
Texto por Danielle Lopes Nishimura, da Redação Coletiva do Portal PerifaCon.