Banner 6 setembro, 2024
por Redação PerifaCon

Othelo, O Grande: O primeiro pagamento da dívida do cinema nacional

Produzido por Ailton Franco Jr e dirigido por Lucas H. Rossi dos Santos o documentário intimista mostra a visão do próprio artista sobre si além dos personagens

 

Por Ester Raquel Silva Nascimento

Com mais de 100 filmes no currículo, Sebastião Bernardes de Souza Prata, vulgo, o Grande Otelo, é um dos maiores atores e comediantes da história do Brasil, pioneiro pela luta de pessoas negras no cinema.  “Othelo, O Grande” é um retrato desse multiartista que tem o compromisso de apresentar ou reapresentar esse ícone para o grande público de todas as gerações, depois de participar de diversos festivais nacionais e internacionais com a participação especial de Zezé Motta. 

Trailer, na íntegra:

Ser a exceção a regra define muito bem como foi a carreira desse grande nome artístico, que estrelou em cartazes num momento político e histórico que o racismo era ainda mais fatal que nos dias de hoje. Não é coincidência que o material à disposição tem mais de 300 horas para dar conta de contar as muitas faces de Otelo, afinal ele trabalhou com Orson Welles, Joaquim Pedro de Andrade, Werner Herzog, Julio Bressane, Marcel Camus e Nelson Pereira dos Santos, entre tantos outros do ramo. 

Apesar de toda essa lista de façanhas impressionantes, não impediu que O Grande Otelo sempre tivesse salários menores que os colegas de set ou teatro, algo que se estendeu para os seus filhos, onde o racismo recortou toda a vida econômica dele. Mesmo que em paralelo fosse considerado um patrimônio pela mídia. 

Toda essa experiência junto da vivência de oito décadas e duas ditadura tornou inevitável a denúncia do racismo estrutural que continua sendo um fantasma, não importa a década. Com a missão impossível de ser fiel a sua própria narrativa, o filme documental é também narrado em primeira pessoa pelo próprio Grande Otelo por meio de imagens raras de arquivos, feitas em pesquisas na Cinemateca Brasileira e em vários outros arquivos.  

O longa se apossa do humor característico do seu grandioso personagem, retratando a realidade das dificuldades e alegrias em vida, seu lado musical, celebrando a potência e excelência sem se apoiar em misticismos ou exotismo para não descaracterizar esse legado. Participou de vários momentos importantes de transição do cinema no Brasil, como: O Chanchada, Cinema Novo Experimental e o de Resgate. 

Nas palavras do próprio Lucas H. Rossi, que selecionou, chegou, montou em seu corte final após minuciosa análise feita por seus realizadores “Eu gosto de imaginar Otelo como um Exu, um orixá que abriu os caminhos para que pessoas negras pudessem estar aqui hoje, trabalhando com arte e cultura no Brasil, inclusive eu. A partir disso, o papel dele é de extrema importância, pois ele conseguiu abrir essa trilha para nós e colaborou não só como artista, mas como um Griô (ancestral que tem por vocação preservar e transmitir as histórias e conhecimentos do seu povo)”, explica.

Seja referenciado numa música da Tasha e Tracie ou numa fala do Oswald de Andrade sobre seu sonho de ser brasileiro, Otelo segue sendo o pilar Negro, órfão e neto de escravizados,que abriu caminhos para as futuras gerações de artistas negros. 

O Vencedor do Prêmio de Melhor Documentário no Festival do Rio 2023 estreia no dia 5 de setembro em todos os cinemas brasileiros.