por Redação PerifaCon
Os farofeiros 2 e o uso de Punch Down
“Farofeiros 2”carrega um humor problemático enquanto acompanha o grupo de amigos em uma viagem para um resort na Bahia.
Por: Marcos Vellasco
Alexandre (Antonio Fragoso), Lima (Maurício Manfrini), Rocha (Charles Paraventi) e Diguinho (Nilton Bicudo) e suas esposas Jussara (Cacau Protásio) Renata (Daniele Winits), Vanete (Elisa Pinheiro), Ellen (Aline Riscado) estão, assim como no filme anterior, querendo viajar, mas as coisas não saem como planejado e eles precisam enfrentar as dificuldades de um lugar que não era nada daquilo que eles imaginavam.
Assim que o filme começa, somos transportados para o início dos anos 2000 com uma estética que remete aos programas do Didi e “Zorra Total” e piadas repetidas ao infinito até para que arranquem alguma risada do público. Não me entenda mal, elas não são o problema nem a comédia pastelão, o humor físico. A questão é o teor e o que ela carrega.
Em inúmeros momentos do filme são feitas piadas gordofóbicas, machistas e até homofóbicas, um humor que há muito tempo vem sendo questionado e rechaçado.
Na comédia existe um termo chamado “Punch Up” e Punch Down”, em tradução livre significa socar para cima e socar para baixo, respectivamente. Esses conceitos são importantes para nós, nessa análise, porque nos ajudam a entender como a estrutura do filme foi construída.
O “Punch Up” é quando o comediante, faz piada com quem está acima da estrutura de poder vigente, quem tem mais dinheiro. Comediantes como João Pimenta, Thiago Santinele, Giovana Fagundes e Youri Marçal, usam o humor como uma arma contra a opressão e preconceito, evidenciando falhas na nossa sociedade, mas, ao mesmo tempo, entretendo e divertindo.
O filme, por sua vez, escolhe o caminho inverso, o “Punch Down”, que escolhe reforçar estereótipos que estamos lutando para não existirem mais. Reforça que o pobre é escandaloso mesmo, que a mulher é histérica e que corpos gordos não merecem tanta atenção assim, sendo sempre motivo de chacota e piada.
Durante a sessão várias pessoas riram, o que me deixa preocupado, porque mostra que ainda há quem queira rir de minorias.“Farofeiros 2” dá um passo para trás quando decide não entender em que momento está e não pensem que o diretor Roberto Santucci e o roteirista Paulo Cursino, não sabem disso.
Eles sabem que esse tipo de humor é escolhido porque em um momento do filme eles quebram a quarta parede e dizem que, “A comédia brasileira é assim mesmo e se você não gosta é porque não entende de comédia.” Uma cena jogada como desculpa para fazer uma propaganda que só serve para ofender e culpabiliza o espectador por não gostar daquilo que está vendo.
As personagens têm a profundidade de um pires, e mesmo se tratando de uma sequencia eles não se movem para frente.O roteiro ainda tenta dar mais brilho para alguns personagens, mas sempre envolto de preconceito e estereótipo, então toda vez que determinados personagens aparecem em tela, a vontade que tive foi que ele sumisse e mudassem de assunto, porque já era dado que uma piada inapropriada seria feita.
No final fica um saldo negativo e um gosto rançoso de um passado que deveria ser revisitado apenas para podermos saber o que não se fazer.