por Redação PerifaCon
“Os Enforcados” poder e paranoias dão corda para o próprio pescoço
Fernando Coimbra entrega o melhor filme de sua carreira na 48ª Mostra Internacional de Cinema
Texto por: Pierre Augusto
No início deste ano, assisti ao filme O Lobo Atrás da Porta, primeiro longa-metragem do diretor Fernando Coimbra, estrelado por Leandra Leal e Milhem Cortaz. A história conta o caso real de um sequestro ocorrido no Rio de Janeiro, em meados dos anos 60. Logo na primeira produção, já era possível perceber que Fernando se destacava pelo modo de contar histórias, com uma identidade visual muito marcante e uma composição que remete ao estilo hollywoodiano.
Neste ano, graças à 48ª Mostra Internacional de Cinema, tive a oportunidade de assistir a Os Enforcados, seu novo filme, que posso afirmar com facilidade ser um dos melhores do festival.
Valério (Irandhir Santos) e Regina (Leandra Leal) formam um casal endividado na Zona Oeste do Rio de Janeiro, apesar de fazerem parte do império do jogo do bicho, construído pelo pai e pelo tio de Valério. Mas tudo muda quando Regina convence o marido a sujar as mãos, assassinando e tomando o lugar do tio no império. A partir daí, acompanhamos a corrupção e a paranoia tomando conta de suas vidas.
Desde as primeiras cenas, o casal demonstra a relação que mantém com o poder. Irandhir simula ser um assaltante com intenções de se aproveitar de Regina em sua própria casa. Essa abertura impactante causa certa confusão em quem está assistindo, mas, acima de tudo, já revela que a relação deles com a violência não é algo repentino.
Não demora muito para vermos as mudanças que cada um sofre com a chegada ao poder: Valério se transforma em um poderoso “mafioso”, tomando medidas extremas e absurdas. Enquanto isso, Leandra Leal entrega uma atuação que vai do cômico ao surto paranoico em segundos, com cenas que são uma aula de como construir tensão e alívio cômico em momentos repentinos.
Além da excelente parceria entre Coimbra e Leal, a história não se limita a isso. Essa máfia carioca, trágica e cômica, se sustenta como um thriller assustador em alguns trechos, com uma fotografia sombria e uma trilha sonora tensa, dando à mansão do casal um ambiente digno de assombração.
Esse cenário, em seu terceiro ato, ganha um tom ainda mais catártico: a cena mais importante do longa entrega um final shakespeariano, escalonando as mentiras e tensões que acompanhamos ao longo das duas horas de filme (que passam voando).
O longa chega aos cinemas brasileiros no dia 21 de novembro.