
por Redação PerifaCon
Observadora: thriller com estética vintage e suspense meia boca
A promessa de um thriller psicológico impactante se perde em resultados simples, apesar de uma produção tecnicamente impecável.
Texto por: Pierre Augusto
Você já ouviu falar do cinema noir? As principais características desses filmes são o suspense, onde um investigador misterioso segue a trilha de um assassinato, as icônicas femme fatale, mulheres que se apresentam de maneira frágil, mas causam uma reviravolta na trama ao usar sua sedução contra o protagonista, e o clássico jazz, que auxilia no clima soturno e investigativo. Tais marcas desse gênero influenciaram tanto a cultura pop que, até hoje, vemos seus reflexos em lançamentos que usam e abusam desses arquétipos. Infelizmente, alguns se apoiam tanto neles que esquecem da originalidade.
O thriller “Observadora”, do diretor iniciante Ryan J. Sloan, tem como protagonista Frankie (Ariella Mastroianni, de Island Escape), uma jovem mãe que sofre de discronometria, uma condição que a impede de perceber com exatidão a passagem do tempo. Para driblar tal doença degenerativa, Frankie usa fitas cassete para ajudá-la a se orientar e focar no momento em que está.
Precisando juntar dinheiro para sua filha, depois de ter sido separada dela, Frankie se vê tentada a aceitar a proposta de uma mulher misteriosa, que conhece em um grupo de apoio, oferecendo-lhe um trabalho arriscado. Ela aceita, sem saber das consequências.
O principal diferencial dessa trama seria o distúrbio que a protagonista sofre. Acompanhar a investigação conduzida por alguém que está lidando com temas fora de seu controle, daria espaço para brincar com a narrativa no estilo de “Memento”, ou pelo menos render cenas que causassem aflição ao público. No entanto, essa característica acabou sendo subutilizada.
Isso não torna o longa de Ryan J. Sloan ruim, até porque a produção é impecável em aspectos técnicos, como trilha sonora, montagem, ambientação e textura da gravação (já que foi filmado com uma câmera 16mm) o que ajuda a dar aquela estética de um filme noir. Mas, mesmo com todos esses pontos, ainda é possível sentir que falta algo. Tantas características recicladas de outras referências podem tornar a obra um tanto esquecível.
No entanto, em momentos de delírio da nossa querida mãe solo, temos cenas de alucinações de Frankie, como uma espécie de pesadelo, relembrando o traumático evento do suicídio de seu marido. Tal momento, construído de maneira tão repentina e estranha, finalmente se destaca na produção, sendo o momento de maior criatividade nas quase duas horas de filme. Uma pena que Ryan não tenha reproduzido mais pesadelos como este.