por Redação PerifaCon
O Homem do Norte: Quando a técnica se sobrepõe à emoção
Novo filme de Robert Eggers estreia nos cinemas nesta quinta-feira (12). Quando lançou A Bruxa em 2015, Robert Eggers era um nome desconhecido, mas que chamou a atenção da crítica e de boa parte do público interessado em horror. Nos últimos anos a sua carreira só cresceu e após ser premiado no cenário independente com […]
Novo filme de Robert Eggers estreia nos cinemas nesta quinta-feira (12).
Quando lançou A Bruxa em 2015, Robert Eggers era um nome desconhecido, mas que chamou a atenção da crítica e de boa parte do público interessado em horror. Nos últimos anos a sua carreira só cresceu e após ser premiado no cenário independente com O Farol ele volta às telas dos cinemas com seu mais recente longa-metragem: O Homem do Norte.
Diferente dos seus filmes anteriores, o diretor largou a bem sucedida produtora independente A24 e agora lança seu primeiro longa com a Universal, com um orçamento de 90 milhões de dólares. E definitivamente O Homem do Norte parece uma obra que soube utilizar de cada centavo do seu orçamento.
Mesmo com tudo para ser um blockbuster clássico, o diretor consegue manter a produção com suas características mais marcantes desde sua extensa pesquisa histórica para base da construção do enredo até a maneira singular que utiliza as câmeras fugindo de ângulos e enquadramentos comuns a filmes de grande orçamento.
Com toda essa liberdade de construção e com um elenco premiadíssimo o Robert Eggers tentou bastante manter sua visão de filme e marca de direção e mesmo isso sendo muito bom, pode, como no caso foi, ser demais em alguns momentos. Durante boa parte do filme parece que o Eggers quer mostrar o quanto ele sabe do seu ofício. Como ele é capaz de escolher bem o posicionamento e a movimentação de câmera. Um destaque são as exaustivas cenas de luta em plano sequência, que quando mostradas a primeira vez se consegue apreciar e até vibrar com uma cena tão bem feita quanto aquela, mas que no decorrer de um filme de duas horas se torna massante quando todas as cenas de lutas, que são muito ou pouco impactantes pra história, são mostradas de maneira tão devagar, travada e alongada.
Inspirado na história escandinava Amleth ou Amleto, que foi a inspiração para a peça de Shakespeare, Hamlet, o filme conta a história de vingança do jovem Amleth que quando criança viu seu pai, o rei Horvendill, ser assassinado pelo seu tio, Fjolnir, que tomou sua mãe como prisioneira e o lugar de seu pai como rei. Anos depois, já adulto, uma bruxa o lembra de sua promessa de vingar o pai, salvar a mãe e recuperar o reino.
Em um filme que explora o misticismo das religiões nortenhas a gente acompanha toda construção de seus deuses e seus povos a partir de elementos de horror sobrenatural com bruxas e entidades que vigiam e acompanham sua história esperando o momento certo de fazer o chamado para lembrá-lo quem é e o destino que o aguarda. Destino esse moldado enquanto ainda criança em um ritual de passagem que, ele logo descobre, não pode ser ignorado.
O Homem do Norte poderia ser um filme com um protagonista que tem grande conexão com o público, mas a verdade é que, apesar de ter uma boa interpretação do Aleksander Skarsgård, falta complexidade emocional na construção do Amleth. O personagem é apenas um arquétipo, como muitos existentes na mitologia grega, romana e nórdica. E ele poderia passar por todos os passos da clássica jornada do herói, mas sempre que ele está em um estágio de evolução emocional ou transformação pessoal, isso é ignorado. E isso acontece com todos os personagens do filme e as suas relações. Nenhum evolui nem constrói nada, o que dificulta a conexão emocional do público. Somos meros espectadores da história na tela.
Toda a construção da história do personagem usando o horror acaba sendo deixada de lado no final para dar espaço ao épico de grandes duelos e grandes discursos. E isso acaba nos entregando um filme longo e previsível com um final bonito como era esperado, e sem grandes novidades. É um filme de profecia e de como ela foi cumprida.
Se você conhece o trabalho do Robert Eggers pode ir esperando um grande trabalho de direção, já que ele é bastante competente no que faz. Só que se você espera um filme marcante, isso ele fez em A Bruxa, não em O Homem do Norte.