por Redação PerifaCon
O Bastardo: está entre a ânsia de ter e o tédio de possuir
O longa leva a responsabilidade de representar a Dinamarca para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Internacional.
Por Ester Raquel Silva Nascimento
Filmes históricos tem o desafio de manter o espectador entretido ao longo da história, entretanto em “O Bastardo” de Nikolaj Arcel (“O Amante da Rainha” e “A Royal Affair”) não vemos esse problema, por assumir um estilo de direção mais pessoal. Baseado em fatos reais somos apresentados ao protagonista e responsável pelo título, o Capitão Ludvig Kahlen (Mads Mikkelsen / “Hannibal e Drunk – Mais uma Rodada”) que levou 25 anos para conquistar o cargo após a guerra e agora encara uma nova batalha para fundar uma colônia enquanto explora e cultiva a selvagem Jutlândia da Dinamarca do século XVIII (18), que por curiosidade ainda hoje forma a maior parte do país.
Trailer, na íntegra:
Sob a controversa proteção do rei (por causa do conselho burocrático) o antigo heroi de guerra vai lutar contra as forças da natureza, que por meio de planos de câmera abertos contemplativos, momentos de puro silêncio e uma trilha sonora num estilo épico tornam esse elemento natural o verdadeiro personagem antagonista da trama. Além da terra estar contra ele, o nobre Frederik De Schinkel (Simon Bennebjerg / “O Pacto” e “The man”) também cumpre esse papel no arquétipo detestável de homem de época.
Esse retrato sobre a ambição e destino podem estar fadadas ao fracasso se forem as únicas motivações de alguém, ainda mais lidando com tantas dificuldades nesse contexto como bandidos locais, crenças preconceituosas e desejo de vingança numa disputa de poder e status que parece não ter fim. Não é atoa que o ditado popular “Fazemos planos e Deus ri” marca presença em todo o roteiro do filme para todos os personagens, sem exceção.
Essa constância entre a ânsia de ter e o tédio de possuir se estende por todo o enredo, como por exemplo a personagem Edel Helene (Kristine Kujath Thorp / “Doente de mim mesma” e “Mar do Norte”) com a sua sagacidade política, que também se torna um ponto de motivação nessa rivalidade de Ludvig Kahlen Vs Frederik De Schinkel. O que pode deixar esse arco meio que a desejar, tendo que ser recompensado pelo caso da personagem Ann Barbara (Amanda Collin / “Criado por Lobos” e “Fathers and Mothers”) que merece atenção e destaque por ter um desenvolvimento crescente e convincente, além de entregar uma das cenas mais satisfatórias em todo o filme, em especial para o público feminino.
O drama épico-histórico chega aos cinemas nacionais em 12 de setembro, nessa proposta existencial e atuação marcante que circulou festivais internacionais nesse trajeto até aqui.