Banner 24 agosto, 2022
por Redação PerifaCon

Não! Não Olhe!: Jordan Peele é viciado em acertar!

Em sua mais nova produção, o diretor mostra que dá aula e acerta mais uma vez. Com apenas três longas lançados, uma extensa carreira no humor e acumulando quatro indicações ao Oscar, o diretor retorna para a sua terceira produção cinematográfica carregando o peso de trabalhos aclamados anteriormente. Contudo, ele nem parece sentir a pressão […]

 

Em sua mais nova produção, o diretor mostra que dá aula e acerta mais uma vez.

Com apenas três longas lançados, uma extensa carreira no humor e acumulando quatro indicações ao Oscar, o diretor retorna para a sua terceira produção cinematográfica carregando o peso de trabalhos aclamados anteriormente. Contudo, ele nem parece sentir a pressão ao acrescentar mais uma vez frescor ao gênero do terror.

Nope (Não! Não Olhe!) chegará aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (25), mas nós já assistimos para analisar… Não! Para escrever essa carta de amor à mente brilhante de Jordan Peele.

Reprodução: Universal Pictures

Como roteirista e apaixonada por terror, identifico que uma das principais características do trabalho de Peele é conseguir nos aproximar das suas fantasias. Ao mesmo tempo que dá vazão às suas peripécias extremamente criativas, ele não deixa de desenvolver personagens e narrativas que nos envolve com questionamentos e diálogos mundanos.

Como pagar as contas? Como tirar férias? Como agir ao visitar os pais da minha namorada?

O caos pode derrubar o mundo ao redor, mas ele flui em te trazer para perto no conforto da identificação e do humor para então bagunçar suas impressões de realidade com um terror desconfortável e impressionante, sem precisar usar velhos artifícios como muleta. É um prazer ser absorvido pelo seu talento em criar ambientes inimagináveis e ainda assim particulares, íntimos.

Em Não! Não Olhe! ele usa este seu talento de despertar identificação sem repetir a fórmula de trabalhos anteriores. A produção nos leva para um outro lugar do terror ao explorar o medo do desconhecido, uma fobia universal e segundo um famoso autor, “o medo mais antigo e forte”. Aquele que provoca pavor e ansiedade, mas também curiosidade e atração. Nós desejamos saber mais sobre o que assistimos, acompanhar os personagens em sua jornada de ação e reação ao enfrentar um inimigo surreal. Porém, em momento algum surge o desejo de receber explicações. A história se constrói para que você possa degustar enquanto vive o momento. 

Reprodução: Universal Pictures

Garanto que dezenas de vídeos irão surgir nas redes sociais tentando explicar do que se trata. Mas não importa! A experiência que você vive nas duas horas de filme é um espetáculo que excede expectativas e nos lembra sobre tudo que é possível ser feito num gênero que tem tanto para oferecer, ainda que alguns de seus representantes tenham escorregado em oferecer potencial e muitas vezes o gênero não recebe os créditos que merece, principalmente pelo quanto consegue inovar em suas narrativas.

Esse não é o caso de Jordan Peele. Há cada passo que dá, ele nos dá aulas (cria) sobre como derrubar as barreiras invisíveis da criatividade, o que diretamente está ligado às nossas influências. Por exemplo, em Não! Não olhe!, o diretor admite inspiração em todos os grandes diretores de cinema, inclusive no filme Tubarão de Steven Spielberg, a quem ele considera “um divisor de águas absoluto”.  Nesse ponto ensina que ser criativo e original também é ter um olhar apurado para o passado, sabendo aplicá-lo em algo novo e inesperado.

Eu realmente olhei para todos os grandes. Peguei inspirações de todos os grandes diretores. Hitchcock, Stanley Kubrick, Paul Thomas Anderson. Todos esses diretores que mudaram a trajetória de como eu penso o cinema.

Jordan Peele em uma coletiva de imprensa em Los Angeles.
Reprodução: Universal Pictures

Porém, “Não! Não Olhe!” não se resume a uma direção excelente e um roteiro consistente, entregando mais do que a maioria dos blockbusters conseguem pensar em realizar. Ele também nos apresenta um elenco impecável, liderado pela química magnética de seus protagonistas interpretados por Daniel Kaluuya e Keke Palmer, na pele de dois irmãos de personalidades opostas, mas que superam suas divergências pela motivação que a primeira vista pode ser justificada como desejo de fama ou ganância, só que do meu ponto de vista, existe uma cumplicidade que só se desenvolve entre irmãos (biológicos ou não) que também são amigos e que irão compreender as suas loucuras, seus medos e desejos com um único olhar.

Não posso terminar esse texto sem citar três pontos imprescindíveis: A direção de fotografia nas mãos de Hoyte Van Hoytema (Interestelar, Dunkirk) é grandiosa e ao mesmo tempo envolvente, como se espera do tipo de espetáculo que Jordan Peele se propõe a contar. Alguns momentos foram eternizados na minha mente e posso defini-los como aterrorizantemente belos. Cito também o talento por trás da trilha sonora de Michael Abels (Corra, Nós), e a montagem de Nicholas Monsour (Colin em Preto e Branco, Além da Imaginação) que nos permitiram transitar por momentos de tensão e humor com tranquilidade.

Não! Não Olhe! é um filme para apreciar do início ao fim a mente brilhante de Jordan Peele que pelo visto vai continuar nos agraciando com a coragem de olhar o terror (e os milhões de dólares hollywoodianos) como a possibilidade de criar arte despertando nossos medos, adicionando metáforas as mazelas contemporâneas e aproximando-o do nosso cotidiano. Sucesso e vida longa ao novo mestre do terror.