Banner 11 novembro, 2022
por Redação PerifaCon

Namor, Talocan e a representatividade latino-americana em Wakanda para Sempre

Novo filme do Pantera Negra reafirma a importância de protagonismo latino nas telas. Pantera Negra: Wakanda para Sempre está em exibição nos cinemas e conta com uma história muito bonita e simbólica, principalmente por conta da morte de Chadwick Boseman, ator que interpretava o Pantera Negra nos cinemas.  Abordando o luto como um dos temas […]

 

Novo filme do Pantera Negra reafirma a importância de protagonismo latino nas telas.

Pantera Negra: Wakanda para Sempre está em exibição nos cinemas e conta com uma história muito bonita e simbólica, principalmente por conta da morte de Chadwick Boseman, ator que interpretava o Pantera Negra nos cinemas. 

Abordando o luto como um dos temas centrais, um fator mais que importante no filme vem do antagonista Namor, que nos quadrinhos é considerado um anti-herói. Na sua versão do MCU, Namor é interpretado por Tenoch Huerta, que é retratado como o rei de Talocan, uma antiga civilização subaquática ligada aos maias. 

Conhecemos Wakanda em 2018 com o lançamento de Pantera Negra, filme que é considerado um marco não apenas para o gênero de super-heróis, mas também no cinema como um todo. Por ser um filme com pessoas pretas como protagonistas e que retrata a cultura africana na nação fictícia, o filme foi abraçado pelo público que se apaixonou pelo universo de Wakanda. 

E cá estamos em Wakanda para Sempre, que além de mostrar mais sobre Wakanda, um dos destaques do filme é o Namor e Talocan. Somos apresentados a um personagem diferente de suas versões nos quadrinhos, onde ele é Príncipe de Atlântida, que vem do conceito greco-romano de uma cidade afundada no mar. E obviamente porque repetiria uma história já vista anteriormente, como no caso do Aquaman, personagem da DC. 

Talocan é um lugar criado apenas para o filme, o reino não existe nos quadrinhos da Marvel Comics. Talocan foi inspirado em Tlālōcān, que tem origem asteca. Embora tenha diversas versões da cidade perdida de Tlālōcān, o local é tido como um dos paraísos cultuados pelos astecas na América Latina. 

Segundo histórias, era em Tlālōcān que as pessoas morriam afogadas ou eram vítimas de relâmpagos. O local faz parte dos treze céus reverenciados pelos povos astecas. Além disso, Tlālōcān também é o paraíso do Deus da Chuva, Tlalóc. 

Pintura asteca que representa o paraíso de Tlālōcān | Reprodução: Internet

É claro que a mudança de Namor em Wakanda para Sempre vem do próprio Ryan Coogler em trazer representatividade para o cinema, e aqui estamos falando principalmente sobre representação latino-americana e indígena. A introdução de uma nova cultura no filme faz todo sentido dentro do que é apresentado. 

Assim como os povos africanos que foram escravizados e colonizados, os povos originários da América Latina também sofreram o mesmo. É muito importante fazer esse resgate nas telas do cinema, porque são poucas produções de Hollywood que retratam de forma respeitosa a história de outras culturas. 

Em entrevista, Ryan Coogler diz que quis retratar a cultura maia de forma respeitosa e com muita pesquisa, para não dar a entender que a representação desta cultura fosse algo raso: 

Senti que era como se fizéssemos igual ao primeiro Pantera Negra, onde houvesse pesquisa e representação séria. Estávamos pegando referências de culturas reais e apresentando-as de uma maneira respeitosa.

Muito além de contar histórias na tela, é importante que a representatividade seja mostrada por trás também. 

Tenoch Huerta (Namor), Mabel Cadena (Namora) e Alex Livinalli (Attuma),.

Tenoch Huerta, que é mexicano, falou sobre o Namor ter uma origem diferente no filme, ressaltando que foi uma jogada fantástica de Ryan Coogler. O ator diz que no México muitas pessoas negam as raízes indígenas: 

Na América Latina, especialmente no México, negamos nossas raízes indígenas. Agora é o momento perfeito para falar sobre isso. 

O autor complementa dizendo que as pessoas foram ensinadas a ter vergonha de suas raízes e que filmes como Wakanda para Sempre serve como um resgate a identidade:

Pantera Negra: Wakanda Forever é a melhor maneira de falar sobre abraçar a cultura de alguém. Isso é emocionante.

Ryan Coogler também diz que a mudança do Namor não foi uma questão para Kevin Feige, que aceitou a proposta do diretor em trazer uma cultura e uma comunidade que não possui boas representações nas telas. 

O fato é que Wakanda para Sempre é um filme multicultural que tem como pilar a representatividade de culturas que são marginalizadas e literalmente apagadas da sociedade pelo colonialismo. O resgate que o filme faz em trazer culturas diferentes é uma quebra para o cinema blockbuster de Hollywood, que é carregado de estereótipos ao tratar pessoas latino-americanas.

Como indicação, deixo essa thread feita no Twitter onde é apontada algumas referências da cultura mesoamericana no filme.