
por Redação PerifaCon
Madeleine em Paris trabalha o artista queer baiano que conquistou a Europa
Documentário acompanha de perto seis anos os passos da vida do multiartista Robertinho Chaves na capital francesa.
Por Ester Raquel Silva Nascimento
O jeitinho brasileiro é algo que deveria ser patenteado como patrimônio imaterial há muito tempo, ainda mais quando o assunto é ser e fazer arte como é mostrado em Madeleine em Paris. O brasileiro andrógino, filho de santo no Candomble, imigrante de Santo Amaro da Purificação na Bahia está em território euroupeu há mais de 23 anos causando e impactando nas ruas paresenses com a sua autenticidade.
Robertinho Chaves é um dançarino de cabaré que se apresenta até hoje no Paradis Latin, antes mesmo de saber falar francês a expressão artística da dança já falava por si só para guiar os sonhos numa Paris idealizada (que nem sempre é tão acolhedora quanto imaginamos com quem é fora do padrão). Vemos uma história com muito glamour, onde as luzes, o palco, plumas e paetês não escondem a realidade.
Esse foi o único filme baiano dirigido por uma mulher na 48ª Mostra de Cinema Internacional de São Paulo e ele traz um olhar sensível que transmite toda a resistência de Robertinho para o mundo. Sendo celebrado por Carlinhos Brown, nesse encontro com Chico Buarque, Baden Powell e outros elementos simbólicos dessa afro-brasileira.
Tudo isto, é sintetizado pela idealização do artista de uma das mais importantes tradições afro-brasileiras na Europa, a Lavagem de Madeleine. Esse ato traz mais de 60 mil pessoas dançando aos sons de atabaques e músicas em Iorubá, seguindo um trio elétrico, nesse ritual que lava as escadarias da igreja católica Madeleine que nasceu inspirado na Lavagem do Senhor do Bonfim, de Salvador, que abre o calendário do verão europeu.
Essas raízes ancestrais são apresentadas por ângulos íntimos, que acompanham a fundo os passos e vivências entre os dois países, entre o masculino e o feminino, o sagrado e o profano, que fazem do filme um profundo mergulho em busca de identidade onde somos guiados pelo próprio artista ao seu próprio universo.