por Redação PerifaCon
“Intervenção” mostra a realidade da vivência de periferias da Zona Oeste
Filmado por 4 anos, o documentário teve sua estreia no último final de semana na 48° Mostra Internacional de Cinema São Paulo
Por Ester Raquel Silva Nascimento
O famoso “Corre”, vivido nas diversas quebradas da capital paulista, tem muitas coisas em comum, mas colocar o holofote sobre as diferenças também tem total importância para dar visibilidade a singularidade e necessidades de cada zona, é isso que o longa “Intervenção” se propõe. Aqui acompanhamos de perto o dia a dia dos moradores da comunidade formada pela favela da Linha, da favela do Nove e conjunto habitacional Cingapura Madeirite.
Essa região está passando pela luta de ser urbanizada, numa disputa com a corporação de construção Votorantim, que está passando por planos de intervenção urbana com os vizinhos para valorizar a área só para o lado nobre da área (mesmo que seja às custas dos vizinhos). Por conta de toda essa dinâmica movimentada de reuniões, mobilizações e agitações, a câmera filma em movimento de forma mais fluída para acompanhar o ritmo, inclusive fazendo uso de imagens simbólicas de drone.
A intenção aqui é que as pessoas se sintam bem representadas na tela, longe de estereótipos, por isso os desafios de conquistar as pessoas, entrar nas casas, conhecer de verdade as famílias envolvidas nesse processo que renderam muitas horas de material. E colocar tudo isso em apenas duas horas, torna o filme muito bem sucedido nesse aspecto, por estar estruturado nesse projeto especial.
Até hoje grande parte da população ainda não tem acesso ao básico como dignidade e estrutura, essa reflexão necessária surge na coletividade de uma ideia de Elisa Bracher, que tem uma relação de duas décadas com a comunidade onde o filme foi rodado, por conta do Acaia, que é uma escola que atende às crianças carentes da região desde 1997.
Dirigido e roteirizado por Gustavo Ribeiro, conta que foi chamado por Elisa para participar desse processo por ele já se interessar por direitos humanos e ser algo que tinha relação direta com ele, de corpo e alma, com as gravações que aconteceram durante a pandemia, enchentes entre outras dificuldades.
“ eu queria que esse filme fosse visto pelo maior número de pessoas possível, é um filme que fala de assunto muito fundamental num país como o nosso, porque a gente está falando de uma população de MILHÕES, que mesmo assim não moram direito por não ter água encanada, eletricidade, escola para as crianças, um desamparo alimentar. Então, eu gostaria que isso ajudasse as pessoas a refletirem sobre a importância que é lutar e conseguir uma moradia digna.”
A Intervenção tem um trabalho de fotografia que vale todo o destaque, por filmagens em condições variadas de luz, em alguns casos até sem nenhuma iluminação extra. Sem dúvidas o cinema de guerrilha, mostra aqui ao que veio com uma proposta tão provocativa que marca com força a 48° Mostra Internacional de Cinema São Paulo.