Banner 12 setembro, 2023
por Redação PerifaCon

Igualdade de gênero e carreira no eSports

O bate papo rolou no Espaço Teia na PerifaCon com Bryanna Nasck e Vitorí Helena.

 

O mundo do eSports ainda é composto, em sua maioria, por homens brancos, cisgêneros e heterossexuais, o que leva a muita resistência às minorias nesses espaços.

Isso não é um assunto novo. Muitas meninas crescem ouvindo que videogames “não é coisa de menina!” As que se aventuram nesse universo, muitas vezes, precisam se camuflar com nicknames de homens para serem respeitadas. É um fato que, com a tecnologia em plena expansão e acesso, cada vez mais se inclui a diversidade de gênero. 

Mas, será que em 2023 o cenário dos Games é mais acolhedor para todos os gêneros? Será que o gênero deixou de ser uma questão para os gamers? É sobre esses e outros pontos que houve o bate-papo na PerifaCon com Bryanna Nasck e Vitorí Helena.

Bryanna é uma pessoa potente, de presença forte. Ao chegar, ela se destaca no ambiente com sua voz firme e confiante. Fã de Lady Gaga, Bryanna desde cedo foi superando os obstáculos que a vida tenta lhe impor. É Youtuber, Influencer, Podcaster… ou, como ela mesma gosta de se identificar: Comunicadora. Ela é a voz de muitas pessoas que a sociedade calou por muitos anos.

Bryanna é trans, não binária e fez lives streamings por muito tempo. Bryanna já sofreu muito com ataques dentro da comunidade gamer. 

“As minhas lives batiam 60k curtidas. Muita gente comentando, muita gente fazendo piadas, cometendo transfobia…” – relata Bryanna

Mesmo assim, Bryanna encara tudo de cabeça erguida e com muita coragem de ser a referência. Relata que não teve referências em quem se inspirar antes dela, mas que ela sabe que é a referência de possibilidade para muitas pessoas. 

Vitorí nasceu e cresceu no interior de Santa Catarina. Já era “famosinha” no Tumblr. É Trend Forecaster (o que ela diz que é uma carreira do futuro), organizadora do TEDx, jogadora de LOL, palestrante sobre o mundo online.

Vitorí é mais discreta, fala mansa. Mas não se engane, ela tem uma grande fibra e força em sua presença. Dona de um currículo admirável para alguém tão jovem, Vitorí transborda em ideais e sonhos. Analítica e centrada. A menina dos dados. Ela sabe usar a tecnologia a seu favor e lutar por uma sociedade mais igualitária e inclusiva. 

Duas vozes de diferentes origens lutando para abrir caminhos para as próximas gerações.

Acolhimento atual na comunidade gamer para a diversidade

Perguntei para a Vitorí se ela acha que a comunidade gamer está mais acolhedora: Ela respondeu:

“Eu acho que depende. Eu acho que temos bolhas, como é a internet, né? Normal. Mas eu acho que pelo fato de a gente começar a existir e levantar algumas bandeiras, fazer muitos lugares se constrangerem mais e alguns lugares te acolherem mais… a gente não pode parar de aparecer, mostrar que a gente também gosta de jogar, de aprender, e que a gente pode se sentar aqui. Eu acho que existem comunidades mais acolhedoras que outras, não vou negar, mas é um caminho que a gente está e com certeza, a gente já partiu. O começo já foi mais difícil. Temos que continuar nos espaços com a representatividade que precisa.”

Bryanna respondeu: “Eu acho que hoje em dia as pessoas têm mais acesso a informações que fazem com que elas consigam ter um pouco mais de compreensão sobre a realidade das pessoas trans e de pessoas não binárias. Mas quem quer fazer mal, vai fazer. Isso sempre vai acontecer, mas acho que estamos nos fortalecendo e dando oportunidade para outras pessoas se inspirarem e resistirem.”

Acessando espaços de games sendo da periferia 

Como lidar com a falta de acesso do jovem da periferia a equipamentos para trilhar uma carreira do eSports?

Bryanna: 

Gente, equipamento não é algo que vá impossibilitar você de realizar seu sonho de começar uma carreira no eSports. Comece com o que você puder. Seu próprio celular, você pode usar como câmera. Você pode, inclusive, usar seu celular para fazer lives. Tem muitas possibilidades. Pesquise na internet com os equipamentos que você tem e comece! A melhor coisa é começar logo e aos pouquinhos você trazer sua comunidade para acompanhar seu crescimento.”

Vitorí: 

Hoje em dia a gente sabe que é uma limitação, realmente. É um empecilho… Seria massa encontrar alguma organização que normalmente distribua esse equipamento e que tem uma comunidade preparada para acolher e preparar. Nem sempre a gente vai começar do melhor. Eu sei que a gente vai querer o setup mais maravilhoso, rosa, branco enfim… mas isso é uma vaidade que podemos conquistar no futuro. Eu acho que a gente pode tirar coisas um pouco mais pé no chão. Contar com uma comunidade, uma organização que fortaleça esse corre e começar de onde a gente conseguir. Não desistir. E se for recurso mais de conteúdo, eu acho que seria massa aproveitar tudo o que o YouTube tem de melhor. Mesmo que sejam alguns conteúdos em inglês, tem a opção de legendas, tradução. Então, bora! Não desiste no começo, não!” 

É fundamental trazer questões de gênero para a pauta dos games. Quanto mais nos posicionarmos e cobrarmos mudanças, mais avanços iremos conseguir para a comunidade de games e no eSports. Que possamos trilhar um caminho onde ter uma carreira no eSports seja uma opção aos jovens brasileiros. Que medo do ódio e do preconceito sejam cada vez menores. E por mais gente da periferia nesses espaços! 


Texto por Gabriela Paula, redatora do Portal PerifaCon