por Redação PerifaCon
‘Histórias Impossíveis’ terá episódio focado em casal formado por mulher cis e mulher trans
Com metáforas, delicadeza e reflexões, o terceiro episódio da antologia Histórias Impossíveis será apresentado no Falas de Orgulho
Previsto para ir ao ar dia 26 de junho na TV Globo, na semana em que se celebra o Dia do Orgulho LGBTQIAPN+. Única história de amor da série de ficção criada por Renata Martins, Jaqueline Souza e Grace Passô, o episódio ‘Sísmicas’ tem como ponto focal o casal Lena (Ana Flavia Cavalcanti), mulher cis, e sua namorada Kátia (Kika Sena), mulher trans, que, depois de decidirem morar juntas na casa que Lena herdou da avó, vão enfrentar ameaças que põem o relacionamento em cheque.
‘Histórias Impossíveis’ exibe narrativas ficcionais que abordam medos femininos a partir de diferentes perspectivas de mulheres contemporâneas, sempre ligadas às efemérides do ano. Nesta trama focada nas questões LGBTQIAPN+, ao iniciarem uma etapa mais sólida em sua trajetória juntas, Lena e Kátia vão ter que lidar com “fantasmas” internos e externos que abalam a estrutura do que estão construindo.
“Cada episódio da série tem um tom diferente, um jeito próprio de tratar um assunto fundamental do nosso realismo social a partir do gênero. Quisemos trazer o assunto de uma relação entre duas mulheres de um jeito que aproxime o público, mostrando os movimentos comuns, universais, a uma história de amor com seus encontros, desencontros, medos, desavenças, reconciliações, onde todos podemos nos reconhecer e sentir empatia”, conceitua a diretora artística Luisa Lima, que assina a direção do episódio com Thereza de Medicis e Graciela Guarani.
Tema frequente entre o grupo identitário, a ausência de um lar ou possibilidade de perdê-lo, em função de conflitos que costumam surgir a partir de cada realidade familiar, é abordada em paralelo à crescente especulação imobiliária nas grandes cidades. A construtora que comprou várias residências no bairro de Lena faz uma oferta pela casa que era da avó dela, o que mexe com Kátia. Rememorando episódios de violência e intolerância, a personagem traz o desejo de ter seu lugar no mundo enquanto ameaças reais se misturam à fantasia e invadem o espaço privado da casa. Juntas, Kátia e Lena tentam descobrir como enfrentar as dificuldades e superar toda essa turbulência do mundo de fora, que insiste em invadir o espaço privado da casa e estremecer a relação das duas. Mas, a partir do encontro com uma figura desconhecida (vivida por Nena Inoue), as duas vislumbram a sustentação necessária para seguirem em frente.
“O episódio traz atrizes que protagonizam pela primeira vez uma história na TV. Kika Sena e Nena Inoue foram indicações da preparadora de elenco Letícia Naveira. Pirei com a Kika em ‘Paloma’, do Marcelo Gomes. Já a Ana Flávia Cavalcanti estava escalada para essa personagem desde a escrita do roteiro. Ela foi uma atriz colaboradora do projeto desde a gênese”, apresenta Luísa.
“Lena é uma mulher muito íntegra, que ama através das mãos. Ela cozinha quentinhas e faz as entregas, uma mulher que vive no subúrbio e que batalha pela sobrevivência de um jeito muito digno. Ela ama a Kátia e está muito feliz com a chegada dela em sua casa. Eu aprendi com Lena a delicadeza nos gestos, na fala, ela é bem mais paciente que eu”, analisa a atriz Ana Flavia Cavalcanti.
“Kátia tem muito de mim e eu dela, na medida em que somos atravessadas por um relacionamento lésbico afrocentrado e estamos sempre lidando com as opressões que nos atravessam. Durante as gravações, um momento bem marcante foi quando me encantei com a atriz Nena Inoue interpretando a Xica numa cena em que ela conta uma memória sobre como foi pedida em casamento. ‘Sísmicas’ é também sobre as rachaduras que uma cultura LGBTfóbica pode causar dentro de nós e nas nossas relações, mas, para além disso, nos ensina sobre como as relações afetivas lgbtqiapn+ são fortalecidas pelas lutas e conquistas ancestrais a nós”, pondera Kika Sena, que faz sua estreia na TV.
Em sua primeira realização no audiovisual, a roteirista Hela Santana, recorda que o estranhamento sentido por Kátia é uma constante entre pessoas trans. “A série toda traz situações que poderiam ilustrar algo que passou na TV, horas antes, sabe? São coisas muito atuais. Quando pensamos em mulheres trans negras então, são os corpos mais vulneráveis dentro da comunidade. Mais de 80% dos casos de violência e assassinato, e que geralmente contam com requintes de tortura, que a gente tem no Brasil, são entre mulheres trans e travestis negras. E os trans masculinos são os que mais suicidam”, pontua. “Colocar esse olhar sobre esses terrores femininos em sua multiplicidade e essa possibilidade de explorar a diversidade em outro lugar, para quem consome séries e filmes não é muito estranho, mas, na TV aberta, é inovador”, celebra.
Para as criadoras e também roteiristas da antologia, o episódio deixa uma mensagem especial. Jaqueline Souza expressa sua expectativa: “Esperamos que pessoas da comunidade lgbtqiap+ se sintam representadas de diversas formas pelas questões dessa história e que o grande público se sinta inspirado pelo relacionamento de Lena e Kátia. Entre todo terror do mundo lá fora, essa é uma história sobre o mundo de dentro e como o amor e o afeto são fundantes em nossas vidas. É nosso episódio mais melodramático, rasgado, vibrante, assim como é amar”.
“A comunidade lgbtqiapn+ tem muito a ensinar nossa sociedade sobre o amor. Como amamos tanto diante de tantos desafios?”, questiona Grace Passô.
Renata Martins vai além: “Segundo a filósofa bell hooks, “para amar verdadeiramente, devemos aprender a misturar vários ingredientes – carinho, afeição, reconhecimento, respeito, compromisso e confiança, assim como honestidade e comunicação aberta”. ‘Sísmicas’ é um convite das personagens para o público refletir sobre sua própria construção amorosa: os desafios, ou mesmo a ausência desse amor ao longo da vida. Qual ingrediente da quentinha de Lena está faltando na sua vida, para fortalecer uma relação amorosa saudável e duradoura?”.
A antologia ‘Histórias Impossíveis’, apresentada nos especiais ‘Falas’ deste ano, foi criada e escrita por Renata Martins, Grace Passô e Jaqueline Souza, escrita com Thais Fujinaga, Hela Santana, Graciela Guarani e Renata Tupinambá. A direção artística é de Luísa Lima e direção de Thereza Médicis, Everlane Moraes, Graciela Guarani e Fábio Rodrigo e produção de Leilanie Silva. Alinhado à jornada ESG da Globo, o projeto tem direção executiva de produção de Simone Lamosa, e a direção de gênero, de José Luiz Villamarim.