Banner 1 setembro, 2024
por Redação PerifaCon

Hellboy e o Homem Torto: Quando a fidelidade se torna um pecado

As péssimas escolhas de Brian Taylor e o desejo de Mignola de replicar os quadrinhos, transformam Hellboy em uma trágica adaptação.

 

Por Pierre Augusto

O processo de adaptação de qualquer mídia para os cinemas é delicado, pois agradar fãs, produtores e atingir um público novo sempre foi trabalhoso em adaptações. O diretor Guillermo Del Toro não teve esse problema, sua versão de Hellboy fez imenso sucesso, e marcou a infância de uma geração, mas os fãs renegam sua adaptação do personagem pela pouca fidelidade, que descarta as principais características do vermelhão e a tão querida ambientação terror/investigativo. O sonho de um hellboy assustador e macabro, como os quadrinhos, estava prestes a se realizar, mas Mignola e Brian Taylor a transformaram num pesadelo.

Mike Mignola (Criador das HQs de Hellboy) e Brian Taylor (Diretor de “Adrenalina” e “Motoqueiro Fantasma”  2) basearam toda a divulgação de “Hellboy e o Homem Torto” em sua semelhança com os quadrinhos, o que realmente se mostra verdade. Com diálogos idênticos ao material original (Hellboy Histórias Curtas Vol 1, O Vigarista) e uma atmosfera de terror folk, essa fidelidade mostrou explicitamente que, para fazer uma adaptação, não basta copiar, mas conceber uma obra que transmita a essência do trabalho original.

O longa se inicia nos anos de 1950, quando Hellboy (Jack Kesy de “Deadpool 2”) recebe a missão de transportar uma aranha amaldiçoada juntamente com sua equipe do Bureau de Pesquisa e Defesa Paranormal. Mas rapidamente as coisas dão errado e eles se vêem em uma vila um tanto quanto macabra, tendo que receber ajuda de Tom Farrell (Jefferson White de “Yellowstone”) para encontrar bruxas e o “temido” homem torto.

Se essa breve sinopse deu a entender que o objetivo de transportar a aranha ficará esquecido, está certíssima. A missão dos personagens é rapidamente abandonada pela sensação de perigo sentida pela parceira de missão da Bureau de Pesquisa, Jo Song (Adeline Rudolph de “Resident Evil: A Série”) que entrega uma atuação e profundidade que beiram o cômico de tão ruins. Mas esse mérito não é somente dela, já que todos parecem estar em um FanFilme.

A jornada que os três embarcam para encontrar com a bruxa se inicia com um toque de esperança para quem esperava um bom filme. A atmosfera de terror e suspense é criada, mas não se sustentam por mais de 30 minutos. As quebras de tensão se iniciam pela falta de timing do diretor em tratar os jumpscare, e principalmente por mostrar demais o CGI digno de playstation 2.

Ser um “filme B” significa lidar com baixo orçamento, o que implica em usar técnicas para disfarçar os pontos duvidosos do longa, algo que Brian Taylor deixou claro não saber fazer ao mostrar todos os seus monstros de CGI em plena luz do dia. Sua experiência em filmes de ação pouco ajudou nas cenas que envolviam algum tipo de conflito, que quase sempre se resumiam ao Hellboy disparando sua arma ou sendo jogado contra as paredes por forças invisíveis.

Tão assustadora quanto a direção de Brian, só o grande antagonista dessa história, o Homem Torto (Martin Bassindale de Holmes e Watson) que, em grande parte das suas cenas, parece ser um youtuber com uma máscara de borracha. A ideia de fazer uma figura assustadora poderia dar certo se seguisse o princípio de menos é mais, por poucas vezes ele é mostrado em vultos enquanto atormenta os demais personagens, artimanha que poderia ter ajudado a disfarçar a produção tosca do vilão, mas foi trocada por planos fechados onde é visivelmente uma máscara de idoso com torcicolo.

Hellboy e o Homem Torto é uma nítida tentativa de homenagem há uma série de quadrinhos repleta de fãs e riquíssima ao tratar culturas folclóricas. Mas dirigida de maneira precária por alguém que não faz ideia de como contar uma história de terror, e um autor desesperado por ter sua obra transportada para as telas de forma digna.

O longa estará disponível nos cinemas a partir do dia 5 de setembro.