Banner 15 julho, 2024
por Redação PerifaCon

Gabú Brito traz a memória da zona leste para os quadrinhos

O quadrinista revela como sua infância em São Miguel e suas experiências teatrais moldaram seus desenhos.

 

Texto por: Pierre Augusto

Atualmente morando na zona oeste de São Paulo, Gabriel Brito, mais conhecido como Gabú Brito, sempre esteve em um ambiente que dava suporte ao seu lado artístico. Mas, foi em São Miguel, local onde cresceu, que suas primeiras memórias artísticas foram moldadas. 

Desde cedo, Gabú demonstrava uma aptidão para o desenho, uma habilidade que foi encorajada por sua mãe, também artista. “Ela sempre me apoiou, nunca podou meu sonho de trabalhar com arte”, relembra Gabú, reconhecendo a influência positiva de sua família em sua carreira.

De maneira descontraída o artista nos conta como em alguns momentos de sua infância, chegou até mesmo a desenhar nos móveis e parede de casa.

E ainda assim sem a censura dos familiares “Bom… a casa não era nossa então quando nos mudamos, eu tive que limpar passando borrachinha em tudo lá. Mas no tempo que a gente ficou, não tinha problema. me compravam até aqueles livro lá de como Desenhar Mangá, aí eu desenhava”.

Falando sobre a antiga morada de infância, Gabu recorda que graças ao trabalho do pai como zelador, foi cedido um apartamento de empregado para a família. E com ele era liberado também o acesso a TV a cabo, onde teve contato com uma infinidade de desenhos animados.

O teatro e outros meios de se contar uma história 

Uma transição marcante em sua trajetória foi sua entrada ao teatro lá para seus 18 anos, uma experiência que abriu novas perspectivas e técnicas que ele ainda aplica em seus quadrinhos. “O teatro mudou minha maneira de pensar e criar histórias. Aprendi muito sobre storytelling e desenvolvimento de personagens”, explica Gabú, mencionando autores que inspiram seu modo de escrever até hoje, como Anton Tchekhov. 

Indicações ao prêmio HQ Mix no primeiro quadrinho publicado

Publicado pela editora Mino, “Crianças Selvagens”, conta a história de Ariel  que foge de seu lar abusivo e se junta a outros meninos de rua numa gangue e juntos descobrem a amizade, ao mesmo tempo em que lidam com a brutalidade da vida marginal. 

“Eu trabalhava perto do MASP na época e sempre via muita desigualdade social ali, crianças e idosos sem rumo, e isso me inspirou a criar essa história”, revela Gabú 

O quadrinho foi a primeira história desenhada e roteirizada publicada pelo autor, e já conquistou indicações ao prêmio de Novo Talento Desenhista pelo HQ Mix e Novo Talento Roteirista. Essa obra não só marcou seu nome no cenário dos quadrinhos brasileiros, mas também destacou seu compromisso em abordar temas sociais através de sua arte.

Início no grafite de rua

Atualmente Gabú está se aventurando no mundo do grafite, iniciando um novo projeto focado em desenhar objetos que representam o ganha-pão de trabalhadores na cidade, como a máquina de costura, feita em homenagem a mãe que sempre o apoiou, e a Kombi de um senhor que trabalha na penha. “Estou tentando fazer essa disputa pela memória da cidade”, explica.

Imagem retirada do Instagram do Gabú Brito – Mural realizado em homenagem a mãe, que usou da costura para sustenta-lo.

A arte do grafite não é apenas pintura; é uma forma de resistência, reflexão e homenagem. É uma jornada de auto reflexão tanto para o artista quanto para quem a observa.

É uma arte que não quer te fazer consumir nada, só quer te fazer refletir”, reflete o artista. Acreditando que questionar a presença do grafite e da pichação é fundamental para entender seu significado e importância.