Banner 6 junho, 2023
por Redação PerifaCon

Espacialrias: instrumental protagonista e as vivências como palavras

Com pegada experimental e som colaborativo Jow, Vitor e Isaac mostram que improviso e leveza podem ser bons motivadores na música independente.

 

Tem muito essa questão de combinar de como vai ser, mas na hora fazer algo diferente de tudo o que a gente já fez e tentar transformar a experiência em um show único. Às vezes dá, as vezes não dá, mas acho que o diferencial da nossa banda é esse. Se a pessoa for em 10 shows da Espacialrias vão ter 10 coisas diferentes, em cada show. Em cada show, apesar de músicas parecidas, vai ter algo diferente ali para ela ouvir.”

“Bagunça, despreocupação com a forma, amor, bom humor sempre e tentar se comunicar sem nenhuma palavra. Tentar se comunicar com a alma”, é assim que Jônatas, Vitor e Isaac tentam resumir o diferencial da Espacialrias, banda instrumental independente que junta as vontades e inspirações de três jovens de diferentes localidades em São Paulo.

Cada um de uma ponta: Isaac de Mauá, Vitor do Jardim Brasil e Jow, como Jônatas é mais bem conhecido, de Perus. Juntos se conectaram por um grupo de fãs e daí o vínculo de amizade e artístico só cresceu.

Mas nada como as vivências para contar de todos esses corres com detalhes e a potência braba de quem precisa tocar (falar). Por isso, entrevistamos os três que dão a cara e o tom da Espacialrias.

Identidade artística e a conexão com as vivências

A identidade artística da Espacialrias? Ela talvez passe por uma coisa que vem se tornando, assim, uma prática comum mesmo nos nossos shows que é o improviso, né? E aí a gente pode pensar no improviso como uma coisa que não foi ensaiada, que não foi planejada, mas também na forma com que a gente formou a banda, no improviso de fazer as coisas do jeito que dá, com as ferramentas que você tem, os equipamentos e instrumentos”, destaca Vitor.

Bom, a identidade da banda vai no sentido da vivência dos meninos, cada um vem de um pedaço diferente de São Paulo, da região metropolitana. Então, passando as coisas que passaram com as influências musicais bastante diferentes, eles foram criando uma sonoridade em que se propõem a ser algo diferente. “Muito de fazer o que você pode fazer naquele momento”, afirma Jow.

Reprodução: (Aria _ @a.aria51)

Como surgiram? Onde vivem?

A gente se conheceu por conta de um grupo, um grupo de fãs do Boogarins. Na época eu estava procurando voltar a tocar, porque eu tinha visto um show deles, e o processo de aceitar de novo a música na vida. Eu conheci o Jow, o baterista, nesse grupo, que tinha bastante gente que tocava. Fomos conversando, gostos em comum e a gente já tinha um grupo de amigos que estava se reunindo bastante e nesse grupo tinha o Vitor, mas a gente não sabia que ele tocava. O Jow e eu estávamos tentando marcar para tocar e fazer um ensaio, só que estávamos precisando de um baixista, e um dia que estávamos dando rolê comentamos isso e o Vitor falou “ah eu toco baixo, estou parado tem um tempo, mas eu topo” aí falei “que beleza, vamos marcar um ensaio e ver se rola””, conta Isaac.

E rolou demais, o ensaio foi muito bom, as coisas encaixaram e o Vitor também. A partir daí, começaram a compor algumas coisas, foi uma saga para definir o nome. A galera chama de especiarias, cada um fala de um jeito, mas enfim, foi assim que surgiu. Cada um de uma ponta: Isaac de Mauá, Vitor do Jardim Brasil e Jow de Perus.

Dores e delícias de uma banda independente, de periferia, em SP

Ser de periferia não sei se é uma delícia de fato, mas talvez nos deixe mais… a gente já tem a falta de estrutura, então talvez já estejamos mais preparados”, reflete Jow. “É realmente difícil aparecer um problema que seja maior do que estão acostumados na cidade onde vivem ou no bairro em específico em que moram, então estão hoje mais “cascudos” para enfrentar os perrengues e desbravar o centro e várias oportunidades em outros lugares.”

Inspirações que também contam a história da Espacialrias

Outra banda que Vitor, Jow e Isaac dizem que têm como referência principal é o Macaco Bong. É uma banda instrumental e tem uma atitude parecida. O primeiro álbum deles Artistas Igual a Pedreiro, tem essa ideia de “fazer você mesmo do jeito que você consegue”. Outras bandas que são contemporâneas também contam a história da Espacialrias, parecida com a das bandas de amigos(as). Tem a Projeto Porto, de Itaquaquecetuba, tem uma galera do ABC Paulista, de Santo André tem o Coletivo Coqueiro, tem várias bandas, vários artistas que as histórias se misturam e tem o mesmo contexto.

Desafios e sonhos

As dificuldades existem e os três tentam fazer do jeito que podem fazer no momento agora e tentam acreditar sempre na música deles e na verdade do grupo. “Isso é uma coisa que a gente sempre bate nessa tecla aí”, destaca Vitor.

Tocar fora do Brasil é um sonho em comum deles. Na China, na Europa, em um festival grande num país com uma língua diferente, conhecer um lugar muito diferente do que estão acostumados. “E tocar com pessoas que a gente admira, ás vezes nem precisa ser uma pessoa famosa, mas a gente quer construir um som com pessoas que fazem sentido para a gente e deixar registrado uma mensagem que o pai do Isaac deixou para a gente que é: Sonhar custa caro, mas desistir custa um sonho”.


Entrevista e Edição: Mike Farias

Transcrição: Guilherme de Araújo