por Talita Lopes
Conhecendo Pedro Almodóvar: 6 filmes para se apaixonar pelo seu cinema
Pedro Almodóvar é um nome conhecido entre os amantes do cinema contemporâneo, principalmente pelos mais apaixonados em filmes com temáticas intensas, políticas e familiares. O ganhador de duas estatuetas do Oscar como Melhor Filme Internacional em 2000 por Tudo Sobre Minha Mãe, e em 2002, com Melhor Roteiro Original pelo filme Fale com Ela, é um […]
Pedro Almodóvar é um nome conhecido entre os amantes do cinema contemporâneo, principalmente pelos mais apaixonados em filmes com temáticas intensas, políticas e familiares.
O ganhador de duas estatuetas do Oscar como Melhor Filme Internacional em 2000 por Tudo Sobre Minha Mãe, e em 2002, com Melhor Roteiro Original pelo filme Fale com Ela, é um dos mais populares diretores da atualidade e aqui vamos deixar os motivos.
Sabemos que é muito difícil um diretor que não seja americano ter tamanho reconhecimento fora do seu nicho, apesar de ser um homem europeu e sabermos que a Europa importa filmes fantásticos sendo o berço do cinema, nem sempre esses filmes chegam às pessoas de fora, principalmente os que não são de língua inglesa.
Polêmico e irreverente, Almodóvar apresenta a estética kitsch em seus filmes e uma cinematografia espetacular com paleta de cores vibrantes e quentes. O visual das suas produções é incomparável. Tudo isso faz parte do seu cinema “exagerado” de contar histórias, artes e cenários coloridos propositalmente para transmitir uma mensagem especial em seus longas.
As tramas das histórias de Almodóvar também são cheias de reviravoltas e complexidades, envolvendo temática LGBT com muita naturalidade. Seus personagens são reais, sensíveis e convivem com dramas de pessoas que estão à margem da sociedade, como no submundo do sexo, do abuso sexual, drogas e doenças sexualmente transmissíveis. Personagens femininas, muito fortes, também são ponto alto das suas produções, uma vez que Almodóvar chega a ser conhecido como o diretor das mulheres. Visto que a maioria das suas produções são encabeçadas por uma artista feminina. Como as suas favoritas Carmem Moura e Penélope Cruz.
Além disso, temos um cineasta que consideramos como completo: Diretor, produtor e roteirista.
Na sua infância, foi enviado a um internato religioso por sua família tradicional, onde estudou para ser seminarista. Desde jovem, sempre foi apaixonado por filmes e ao fim do seu período escolar, ele se mudou para Madrid com o sonho de se tornar um grande cineasta. Sonho esse que quase foi frustrado pelo período Franquista e fechamento de escolas de cinema da Espanha.
Alguns dos pontos importantes das histórias dos seus filmes são semelhanças com a sua persona e relações de trabalho, assim como seu crescimento na área do cinema como um todo. Seus personagens são baseados em suas vivências, histórias pessoais e familiares, e também questões bem políticas e religiosas que marcaram conflitos em seu país de origem: Espanha.
Almodóvar já escreveu cartas, artigos, já participou de uma banda de punk, já foi professor, mas foi nos anos 80 que lançou o seu primeiro longa-metragem a nível comercial intitulado Pepi, Luci, Bom e outras Mulheres de Montão, em 1980. Antes disso, em meados dos anos 1970, começou a gravar vários curtas-metragens dando início a sua obra cinematográfica.
Levou-se mais ou menos oito anos para que o reconhecimento internacional e o status de um diretor de sucesso chegasse para ele. Foi em 1988 que premiações populares no mundo como o Oscar e o Globo de Ouro e Bafta notassem o seu trabalho com o filme Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, em 1988.
Hoje com seus mais de 30 anos de carreira e sucesso, ele ainda continua fazendo produções que vão além apenas do entretenimento. Almodóvar é um diretor que inventa e se reinventa em cada produção. Quando falamos sobre criar personagens reais, falamos da construção de personagens que tem desejos e anseios que transitam dentro do moralismo, com muitas falhas e até mesmo com ações questionáveis. São tópicos que nós muitas vezes rejeitamos e evitamos. Mas isso torna a mensagem altamente poderosa.
Sim, ele é um diretor bastante sexual, mas não cabe aqui retrata-lo como um diretor que apenas explorar um lado do sexo de forma “vulgar”. A sexualidade presente em toda sua produção busca por algo na construção dos personagens. A busca do prazer, da aceitação, do ser visto e da expressão dos sentimentos. Por muitos anos, inclusive pela igreja católica, o sexo as vezes pode ser retratado como pecado e como um simples prazer, deve ser retraído. Retratar isso nos filmes, vindo de uma família tradicional católica e de alguém que estudou em um internato católico, pode ser muito significativo em muitos pontos.
Nesse ponto de vista, dá para reconhecer Pedro Almodóvar como um grande diretor revolucionário que usa sua arte para retratar diversos aspectos sociais importantes dentro do cinema e da arte.
Abaixo deixo a indicação de 6 filmes que abordam diversos temas citados aqui e que são produções extremamente importantes na sua carreira.
La piel que habito (A Pele que Habito, 2011)
O doutor Robert Ledgard (Antonio Bandeiras) é um notável cirurgião plástico, alimentado pela obsessão de recriar em laboratório uma espécie de pele humana, desde que sua esposa sofrera graves queimaduras após um acidente de carro.
Atormentado pela morte da mulher, Ledgard se mostra um homem inescrupuloso e não medirá esforços para colocar em prática seus experimentos para criar uma pele artificial para seres humanos. Posteriormente, acontece a morte da sua única filha, enferma mental aparentemente estuprada por um rapaz que acabara de conhecer, o que o faz buscar vingança, aprisionando-o em sua casa e fazendo dele sua cobaia.
La mala educación (Má Educação, 2004)
Dois meninos, Ignacio e Enrique, conhecem o amor, o cinema e o medo num colégio religioso no início dos anos 60. O padre Manolo, diretor do colégio e seu professor de literatura, é testemunha e parte dos descobrimentos. Os três personagens voltam a se encontrar outras vezes mais, ao final dos anos 70 e 80. O reencontro marcará a vida e a morte de algum deles.
Esse é um dos filmes do Almodóvar que marca muito no viés crítico e na forma de tratamento da igreja católica e suas moralidades. É um filme que também retrata muito a sexualidade, o descobrimento e ligação da própria repressão sexual através de dogmas impostos.
Volver (2005)
O filme fala de duas irmãs, Raimunda e Sole, que retornam à casa da família depois que um incêndio fatal mata os pais. Mais tarde, em um outro reencontro, as irmãs conversam com a Tia Paula, já muito doente e um tanto ensandecida, que jura que é a mãe delas quem cuida da casa e dela mesma. A história absurda é desconsiderada e as irmãs voltam ao que seria vida normal.
Penélope Cruz é Raimunda. Um dia, chega em casa e encontra a filha Paula paralisada: vítima de abuso sexual, Paula se protege matando o pai a facadas. Mãe protetora que é, Raimunda toma as rédeas da situação e decide dar um jeito no corpo do marido. Nesta mesma noite, sua tia também havia falecido. Sole vai ao enterro sozinha e lá se encontra com o fantasma da sua mãe, interpretado por Carmem Maura. Ou melhor: o fantasma da mãe, Irene, é que se encontra com ela, fugindo escondido no porta-malas do carro.
Mujeres al borde de un ataque de nervios (Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, 1998)
O filme é baseado na peça francesa A Voz Humana (1930), de Jean Cocteau, na qual uma mulher desesperada tenta evitar ser abandonada por seu amante através de uma série de ligações telefônicas. Em Madri, Pepa Marcos (Carmen Maura), uma dubladora que está grávida embora ninguém o saiba, é abandonada pelo também dublador Ivan (Fernando Guillén), seu amante, e se desespera tentando encontrá-lo, pois deseja que ele lhe explique por qual motivo a deixou.
Enquanto Pepa tenta falar com Ivan, recebe a visita de Candela (María Barranco), uma amiga que se apaixonou por um desconhecido e que, agora que descobriu que ele é um terrorista xiita, teme ser presa. Mais tarde, chega, ao apartamento, Carlos (Antonio Banderas), o filho de Ivan. Ele está acompanhado de Marisa (Rossy de Palma), sua noiva, pois os dois estão procurando um imóvel para alugar. Marisa, sem saber, bebe um gaspacho cheio de soníferos, que Pepa tinha preparado para Ivan. Mas uma confusão realmente acontece quando fica claro que Ivan vai para Estocolmo com Paulina Morales (Kiti Manver), e Lucía (Julieta Serrano), a ex-mulher de Ivan, que estava internada em um hospital psiquiátrico, planeja matá-lo. Apesar de ter sido preterida, Pepa quer fazer de tudo para salvar a vida de Ivan.
Hable con Ella (Fale com Ela, 2002)
Em Madri vive Benigno Martin (Javier Cámara), um enfermeiro cujo apartamento fica diante da academia de balé comandada por Katerina Bilova (Geraldine Chaplin). Ele fica na janela da sua casa vendo com especial atenção uma das estudantes de Katerina, Alicia Roncero (Leonor Watling). Quando Alicia é ferida em um acidente de carro, acaba internada no hospital onde ele trabalha. Benigno cuida dela, em coma, com um cuidado acima do normal. Ele acaba amigo de Marco Zuluaga (Darío Grandinetti), um jornalista que visita rotineiramente a namorada toureira em estado crítico.
Fale com Ela deu a Almodóvar o Oscar de Melhor Roteiro Original. Esse é um filme em que certamente foi feito para chocar e até mesmo criar camadas conflituosas em relação ao que pensamos com o protagonista. Até onde o querer pode levar a atitudes controversas e ser justificado?!
Todo sobre mi madre (Tudo Sobre a Minha Mãe, 1999)
Uma mãe solteira em Madri, Manuela vê seu único filho morrer no seu 17º aniversário quando corre para pegar um autógrafo de uma atriz. Ela vai a Barcelona à procura do pai de seu filho, uma travesti chamada Lola, que não sabe que tem um filho. Primeiro ela encontra sua amiga, Agrado, também travesti; através dela ela conhece Rosa, uma jovem freira que está de partida para El Salvador. Quase que por acaso, torna-se assistente de Huma Rojo, a atriz que seu filho admirava.
Esse é um dos filmes com múltiplas abordagens importantes para a época. Prostituição, consumo de drogas, sexualidade através do olhar de personagens cis e trans. Além de que, o filme também não deixa de envolver assuntos políticos e religiosos de forma que podemos entender alguns dos problemas da época, como a discriminação de pessoas LGBTQIA+ e soropositivas.
Na Netflix estão disponíveis 12 filmes do diretor para assistir, assim como no MUBI.