por Marcos Marques
CCXP Awards e a importância de premiar a diversidade
A edição ficou marcada por sua diversidade. Na última sexta-feira aconteceu a CCXP Awards, primeira edição da premiação que celebra os grandes destaques da cultura pop do último ano. Tendo a Sala São Paulo como palco, a premiação foi apresentada por Tiago Leifert e mais um time de convidados, entre eles Rocco Pitanga, Thiago Abravanel, […]
A edição ficou marcada por sua diversidade.
Na última sexta-feira aconteceu a CCXP Awards, primeira edição da premiação que celebra os grandes destaques da cultura pop do último ano.
Tendo a Sala São Paulo como palco, a premiação foi apresentada por Tiago Leifert e mais um time de convidados, entre eles Rocco Pitanga, Thiago Abravanel, Gaulês e Livia Aragão, acompanhados da Orquestra Santa Marcelina. Com direito a cobertura do tapete vermelho e com transmissão ao vivo da premiação, os vencedores desta primeira edição chamaram bastante a atenção, principalmente pela diversidade.
Cristian Malheiros foi o primeiro vencedor na categoria de Melhor Ator em Série por Sintonia, um dos maiores sucessos da Netflix. O ator fez um discurso incrível agradecendo a família, principalmente a mãe, mulher preta nordestina que veio a São Paulo para ganhar a vida.
Um dos maiores pontos de atenção da premiação foi a quantidade de diversidade e tom político dos discursos, não é todos os dias que quatro pessoas trans com distintas carreiras são premiadas pelo seu trabalho. Sher Machado ganhou o prêmio na categoria de Melhor Streamer Feminina, Renata Carvalho ganhou o prêmio na categoria de Melhor Atriz em filme por Vento Seco, Liniker ganhou o prêmio na categoria Melhor Atriz pela série Manhãs de Setembro e Laerte ganhou o prêmio na categoria de Melhor Web Tira.
Mesmo sendo vitoriosas e reconhecidas por seus trabalhos, isso não foi o suficiente para que elas não recebessem uma onda de ataques transfóbicos na internet. Em um cenário onde grandes premiações excluem pessoas trans e travestis de suas categorias principais, a CCXP Awards fez questão de reconhecer que o Brasil é um país diverso e que as premiações não podem ignorar grandes talentos, principalmente em um país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo.
Anna Muylaert e Lô Politi ganharam o prêmio na categoria de Melhor Direção pelo documentário Alvorada, que conta sobre o dia a dia da Presidenta Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada, enquanto aguardava o veredito do Impeachment que acabou afastando a primeira mulher presidenta do Brasil.
Lô Politi, que recebeu o prêmio no palco, diz que ficou surpresa por um filme político ter ganhado uma premiação pop.
O destaque da noite foi o documentário A Última Floresta, que além de ter ganho o maior prêmio da noite, o Grand Pix, também ganhou como Melhor FIlme Nacional. Em discurso, Laís Bodanzky leu uma mensagem do diretor Laís Bodanzky:
Agradeço a honra desse prêmio e dedico aos Yanomami e aos povos indígenas que lutam para defender nossas florestas e rios. Chegou a hora de todos lutarmos contra os criminosos garimpeiros, grileiros, madeireiros ilegais e traficantes que tomaram conta da Amazônia com vista grossa e com o apoio do governo Bolsonaro. […] Viva os povos originários e fora Bolsonaro.
Não é a primeira vez que o tom político toma espaço em um evento, vale lembrar que a edição 2022 do Lollapalooza contou bastante com manifestações durante as apresentações. O que destaca essa primeira edição da CCXP Awards é a diversidade, mas muito além disso, a premiação desperta um novo momento que estamos vivendo atualmente. Por se tratar de uma premiação sobre cultura pop, é mais um sinal de que não tem como falar de audiovisual ou quadrinhos sem meter política no meio.
Estamos em um período em que é impossível não enxergar o cenário do Brasil, e através da forma de arte, é de extrema importância que pessoas como Sher Machado e filmes como A Última Floresta e Alvorada estejam em evidência, porque mostram a resistência do país em um cenário que precisa ser mudado.