Banner 11 dezembro, 2024
por Redação PerifaCon

Calígula: The Ultimate Cut – A Visceral Reinterpretação de um Clássico Controverso

A nova versão de Calígula resgata a visão original de Tinto Brass, mas não abandona suas polêmicas.

 

Texto por: Pierre Augusto

O Império Romano desde sempre é tratado como um ponto histórico de muita obsessão, seja por suas conquistas ou polêmicas. Um dos imperadores que mais causou nesse sentido foi Calígula devido à sua crueldade, negligência e súbita mudança de humor. A coincidência está na semelhança do cruel Calígula com a abordagem de seu filme de mesmo nome.

Lançado originalmente em 1979, o longa do diretor Tinto Brass passou por uma grande controvérsia, sendo tão editado pelo produtor Bob Guccione que ganhou a fama de ser o “pornô mais caro da história”, fazendo com que vários nomes da produção pedissem para desvincular seus nomes do filme.

Quase 50 anos depois, o também produtor Thomas Negovan lança “Calígula: The Ultimate Cut”, uma versão que tenta descartar as polêmicas da versão anterior, com cenas inéditas que não haviam sido utilizadas no primeiro corte.

Na Roma antiga, Calígula (Malcolm McDowell, de Laranja Mecânica) ascende ao trono após seu tio abusivo Tiberius (Peter O’Toole, de Lawrence da Arábia) falecer. Assim, acompanhamos o enlouquecimento pela ambição, paranoia e luxúria do protagonista.

A tentativa de desfazer o épico pornográfico da versão anterior não funcionou tão bem quanto o produtor Thomas esperava. Digo isso não como um ponto negativo, pois retratar com tão pouco pudor um período tão conturbado sobre uma figura conhecida por suas orgias e abusos incestuosos é, no mínimo, corajoso. Mas onde fica o limite disso?

A escolha do explícito busca trazer visceralidade ao filme, mas um trecho em específico deixa gritante o motivo do corte original ter sido banido em grande parte da Europa. Nesta versão atual, foi mantida a polêmica cena de estupro protagonizada por Calígula. Já em seu conceito, a escolha de mostrar isso ao público é visivelmente controversa e acaba cruzando uma linha do que deve ou não ser mostrado. A cena é sim relevante para vermos o grau de corrupção do imperador, mas o explícito deixa claro uma covarde apelação para o choque.

Apesar da polêmica abordagem do filme, o elenco assustadoramente talentoso ainda conta com Helen Mirren, que está encantadora em sua maneira de manipular e se moldar à bipolaridade de Calígula. Malcolm McDowell é quase um Coringa nos surtos do romano, sendo teatral até nos constranger. Mas isso não é exceção: toda a linguagem visual do filme, entre atores e cenários, remete a uma peça de teatro, o que, ao meu ver, causa uma certa magia na produção, nos levando ao lúdico e nos deixando encantar pelas cores e pelo glamour da elite romana.

Tirar de “Calígula: The Ultimate Cut” a marca de um filme polêmico está fadado ao fracasso. Por isso, acredito que esse nunca foi o objetivo, mas sim dar ao longa a versão que Tinto Brass idealizou. Você pode não concordar com sua abordagem explícita da brutalidade romana, mas é inegável que você passará semanas com essa história na cabeça.