Banner 30 setembro, 2022
por Redação PerifaCon

Blonde: Hollywood precisa deixar suas estrelas descansarem

Kim Kardashian ter usado o vestido da Marilyn Monroe é fichinha perto do desrespeito que é Blonde. Texto por Guilherme Araújo No dia 28 de setembro de 2022 a Netflix lançou Blonde, a sua versão da biografia de Marilyn Monroe pelos olhos de Andrew Dominik. Uma produção aguardada, principalmente pelos trailers que mostravam Ana de […]

 

Kim Kardashian ter usado o vestido da Marilyn Monroe é fichinha perto do desrespeito que é Blonde.

Texto por Guilherme Araújo

No dia 28 de setembro de 2022 a Netflix lançou Blonde, a sua versão da biografia de Marilyn Monroe pelos olhos de Andrew Dominik. Uma produção aguardada, principalmente pelos trailers que mostravam Ana de Armas, atriz que dá vida à Monroe no longa, caracterizada e chocava com o esmero dos detalhes. O longa é baseado no livro de mesmo nome da autora Joyce Carol Oates publicado em 2000 que é uma biografia, porém, uma biografia dramatizada. E o que isso quer dizer? Que a autora do livro tomou liberdade artística de “enfeitar” a vida de Marilyn Monroe (como se a realidade precisasse de mais fantasia) e, que sendo assim, alguns fatos podem ter sido um pouco (muito) diferentes.

Porém, o esmero para na fotografia e caracterização. Não me espantaria uma ou outra indicação no Oscars do próximo ano nessas categorias, Ana de fato em alguns momentos parece tanto Marilyn que não sabemos onde começa uma e termina a outra. Andrew Dominik é um diretor bastante controverso, e em Blonde isso fica bem claro. O filme é visceral e não dá 1 minuto completo de paz para a personagem. Uma coisa feliz acontece? Outras 5 tristes vão se desencadear disso, os traumas da vida real da estela? Estão lá supracitados, mas a impressão que se dá é que se ela fosse feliz por algum motivo, a vida faria de tudo para acabar com isso.

Reprodução: Netflix

Que Hollywood sempre gostou de fazer filmes sobre grandes estrelas não é novidade, nos últimos anos houve uma explosão no gênero. As adaptações sobre Freddie Mercury, Elton John, e mais recentemente, Elvis têm algo em comum que falta em Blonde: amor pela pessoa com a qual a história está sendo contada. Por mais que certa fantasia fosse colocada, é visível que os diretores das outras obras gostavam das estrelas retratadas. O filme de Dominik, por outro lado, parece o contrário, tira a humanidade de Marilyn (fazendo com que a personagem fizesse a separação de Norma e Marilyn a cada 5 minutos, para pontuar que Norma Jeane é uma pessoa e Marilyn uma persona) e basicamente reduz ela à um objeto sexual com problemas mentais. As passagens do filme são isso, passagens. Parece que não há um fio condutor que ligue de forma coesa uma coisa com outra, quando tenta, parece forçado (as cenas dos fetos são exemplos disso).

A Marilyn Monroe do filme é tudo aquilo de ruim que sempre se falou dela: Sem profundidade, apenas um rosto e corpo bonitos, instável, problemática com homens e principalmente, louca. Mais do que Marilyn, as pessoas em volta dela (muitas vezes sem nome) ou os 5 envolvidos nos 4 maiores casos de amor que deveriam ser o ponto alto, todos são personagens secundários para uma protagonista: a loucura. Marilyn passou a vida lutando com seus transtornos psicológicos (tanto os dela quanto os da mãe que deixaram marcas em sua vida), mas no filme não há uma construção gradativa disso, ela já começa louca e a partir daí temos que entender que todas as decisões que ela toma são baseadas nisso. E o uso de louca aqui não é pejorativo, pois você não entende o que Monroe tem, ela é só o que se pensa quando alguém fala “louca”.

Outro ponto, que decisões? Na vida real, Marilyn Monroe foi uma mulher à frente de seu tempo que soube usar a máquina do cinema assim como a máquina do cinema quis usá-la, sim, tanto com a sexualidade, quanto com o talento e inteligência. No filme ela é uma vítima dos fatos e principalmente, vítima do sexo e da hiper sexualização. Como ela conseguiu um papel no cinema? Transando com um diretor. Como ela foi se especializar na atuação? Transando com os professores. Problemas no casamento? Porque ela era “A” gostosa nos filmes. 

Ana de Armas é o ponto alto do filme, como foi citado, a caracterização perfeita e a atuação dela estão de tirar o fôlego. Mas de forma alguma conseguem levar o filme nas costas. Ela tirou leite de pedra, mas o leite azedou. Vários momentos em que a atriz brilhava eram quebrados ou por um momento de nudez que não fazia sentido (a cena dela e do John F. Kennedy foi uma das coisas mais desnecessárias, exploratórias e degradantes que já vi um filme não pornô tentar retratar) ou como já citado também, uma situação que basicamente diz “você nasceu para ser triste” que não conecta nada com nada.

Após assistir Blonde, que foi lançado 60 anos após a trágica (e misteriosa) morte de Marilyn Monroe, o gosto que fica é que Hollywood deveria deixar sua maior estrela descansar. Todos os anos sempre saem livros, vídeos ou artigos dizendo que algo novo sobre ela será lançado, produtos dos mais diversos segmentos com o rosto dela ou com uma cena são vendidos aos milhões, e mesmo depois da morte parece que ela não conseguiu aquilo que mais queria: ser respeitada. Ana de Armas disse que sentia que o espírito de Marilyn estava acompanhando o filme, eu não duvido. Eu também voltaria do além para puxar o pé de todos que me desrespeitarem dessa forma.