
por Redação PerifaCon
Beau tem medo e quem não tem?
Beau Tem Medo é a mais nova comédia dramática do estúdio queridinho do momento, a A24.
Dirigido por Ari Aster (Midsommar e Hereditário), é estrelado por Joaquin Phoenix e ainda conta com nomes como Patti LuPone (Conduzindo Miss Daisy) e Nathan Lane (Os Produtores) no elenco.
Nesta produção acompanhamos o paranoico, inseguro e ansioso Beau (Phoenix) em sua jornada de volta para a casa de sua mãe, enquanto ele encontra perigos, violência, dissociação e outras surpresas pelo caminho.
O personagem, protagonizado pelo excelente Joaquin Phoenix, é uma enxurrada de temores causados por uma mãe narcisista que o transforma num adulto tão atormentado, quanto patologicamente covarde (e isso vai além da insegurança), incapaz de tomar decisões por si próprio, de realizar seus sonhos, de errar e se responsabilizar pelas suas vontades.
Beau tem medo de viver e por tanto, seus devaneios são reflexos da vida que gostaria de ter, mas também das lacunas da sua falta de compreensão sobre si mesmo. Afinal foi criado para orbitar ao redor da própria mãe, como alguém que já nasceu com uma dívida incalculável, paga apenas com subserviência, o que afeta diretamente sua relação com outras mulheres ou qualquer ser que imponha uma relação de poder ou situações que exijam seu posicionamento. Sem essa compreensão, tudo faz parte de um longo sonho, ora pesadelo. Tudo é uma constante fantasia que se entrelaça tão bem com a realidade que é impossível distingui-las nas quase 3 horas de filme.

É com essa carga que Ari Aster constrói uma história cheia de metáforas e que de forma criativa adiciona diversas linguagens. Não há comedimento nessa produção. O cineasta joga na mesa inúmeros artifícios para nos convencer ao mesmo tempo que procura nos provocar. Assim como o protagonista, entramos em uma batalha para entender que caminho tortuoso é esse que estamos seguindo?
Há pontos altíssimos de humor que arranca risada até a contragosto, quando ela nasce do desconforto, do inesperado. Mas não se engane. Saber utilizar todo o seu conhecimento sobre audiovisual e linguagem com eficiência, não é garantia de um bom resultado no geral. O conjunto da obra às vezes se sobrepõe à criatividade do indivíduo, sabe?
Ao contrário das suas produções anteriores, aqui encontramos uma história que pretende ousar em outra direção, menos linear, difícil de engolir em alguns momentos. Definitivamente não é um filme para todo mundo. Não por ser complexo e (num discurso elitista) não dialogar com as massas. Simplesmente ele é cansativo, se esforça demais em querer dar ao espectador um pouco de tudo. O que poderia ser um benefício pôr nos causar o incômodo e ansiedade presentes na figura do protagonista, mas em termos narrativos perde essa batalha para si mesmo.
A gente se compadece do Beau, entende seus medos, seus anseios e incapacidade. Até compreendemos que a relação com nossos pais ou a falta dela, o que eles projetam em nós, são como armadilhas impossíveis de escapar. Que às vezes, nem o melhor dos terapeutas nos livra dos traumas causados por uma infância anormal. E que em muitos casos a criatividade é a única válvula de escape de uma realidade horrorosa. E nesse ponto, na criatividade, que Ari Aster alcança a sua criação e tenta das mais variadas formas dialogar com a gente sobre como viver é inerentemente medonho