
por Redação PerifaCon
Até que A Música Pare traz relato sensível do sul do país
O filme estreou em 03 de outubro e exibe Bilinguismo cultural chamado talian dialeto reconhecido como língua pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Por Ester Raquel Silva Nascimento
O retrato de uma família de descendentes italianos no interior da serra gaúcha tem tudo para ser um completo clichê, mas esse não é o caso de “Até que a Música Pare”. O filme conta a história sobre o ponto de vista que muitos têm a tendência de ignorar ou evitar: A terceira idade; para representar essa relação do passado com o presente através da personagem principal Chiara interpretada por Cibele Tedesco de forma tocante.
O drama é resultado da parceria colaborativa de uma coprodução brasileira e italiana na direção de Cristiane Oliveira, que chegou até ser selecionado para o Festival do Rio em 2023. A história surgiu por causa de uma família que o avô vendia baralhos sem nota fiscal (assim como no longa-metragem) onde a colaboração multicultural também revelou o talian, uma variação do idioma comum no sul do Brasil onde se passa o relato dessa família.
A matriarca desses familiares é mais que uma nona estereotipada, que depois que o último dos seus filhos sai de casa num clima de briga, precisa ainda lidar com o luto da perda de outro filho num acidente na estrada enquanto está passando por situações complicadas de confiança no seu casamento de 50 anos. Ao acompanhar o marido Alfredo, interpretado caracteristicamente por Hugo Lorensatti, um homem com problemas de saúde que trabalha apesar da idade como fornecedor pelos bares da serra Gaúcha, que tem um outro lado desconhecido para os negócios.
Juntos na estrada embalados por músicas da rádio do carro, essas atitudes corruptas consideradas “jeitinho brasileiro” botam a prova essa relação, que está fragilizada pelas perdas que também afetaram esse matrimônio. A religião também tem um papel presente na trama, e não apenas o convencional cristianismo por meio da protagonista podemos explorar noções de budismo da vida após a morte e reencarnação que envolvem até uma simpática tartaruga que traz um contraste de humor comparado ao clima e fotografia melancólicas que acompanhamos.
Além disso, os conflitos de geração e rompimentos familiares vão dando o tom agridoce ao filme onde vamos nos emocionando junto com a Chiara, que mostra a realidade do que é envelhecer num país como o nosso que falha em acolher pessoas mais velhas em todos os sentidos. Detalhes como esses são o que fazem o filme ser tão singular, que não estamos acostumados a ver nos cinemas com frequência.