Banner 16 maio, 2024
por Redação PerifaCon

“ARGYLLE – O SUPERESPIÃO”: TRAZ MUITA LEVEZA E ADRENALINA

A mais nova produção da Apple TV+, distribuída pela Universal Pictures, promete, com seus exageros e absurdos, uma experiência de adrenalina desenfreada, repleta de momentos de tirar o fôlego

 

Texto por: Hyader Epaminondas

Argylle“, sob a direção de Matthew Vaughn, proporciona uma experiência vibrante e eletrizante. O filme combina os elementos cativantes da trama com a direção ágil e envolvente do cineasta. No entanto, tropeça quando se trata do roteiro de Jason Fuchs, que apresenta um excesso de explicações e flashbacks desnecessários, tornando as ações do filme ainda mais mastigadas e maçantes quando o foco se direciona para a história ou invés da ação.

Vaughn, reconhecido por seus filmes de ação e espionagem, mais uma vez exibe sua destreza em conduzir essas tramas dinâmicas e cheias de reviravoltas. Ele assegura que o público permaneça à beira do assento ao longo de toda a duração do filme com enquadramentos e posicionamentos criativos buscando sempre transformar o exagero em um momento de conforto. Dessa vez fazendo uma paródia do gênero de espionagem com um toque exagerado e cheio de explosões coloridas, algo que apenas Vaughn consegue realizar de maneira tão única diversas vezes sem parecer brega.

QUANDO UM ROTEIRO ATRAPALHA A VISÃO DO DIRETOR?

Apesar de algumas falhas no roteiro, a destreza de Vaughn em criar narrativas envolventes e repletas de adrenalina permanece como uma característica distintiva de suas obras. “Argylle” promete envolver com sua energia contagiante e estilo peculiar, seguindo a tradição de Vaughn de reinventar o gênero de espionagem de maneira inusitada. Sua abordagem com foco na paródia guarda semelhanças notáveis com a do Agente “Bond” Cama, Austin Powers.

No entanto, ao transportar esse estilo para a década de 20, Vaughn atualiza os momentos cômicos, adicionando uma pitada de romance agradável à trama. Dessa forma, ele não apenas brinca com os clichês do gênero, mas também infunde frescor e modernidade à narrativa, proporcionando uma experiência divertida que sempre é interrompida por uma cena desnecessária de diálogos expositivos, explicando obviedades.

A trama do filme gira em torno de Elly Conway, interpretada de forma cômica por Bryce Dallas Howard, uma autora reclusa cujos romances de espionagem se transformam inesperadamente em realidade. A tradução literal do nome dela, revelado no meio do filme, acrescenta um intrigante elemento de significado, funcionando como um easter egg que enriquece a experiência. Sua atuação passa por fases, altos e baixos que às vezes funcionam, mas na grande maioria das vezes ela acaba sendo o elo mais fraco do trio protagonista.

A premissa é executada de forma fluida ao focar ininterruptamente na ação, com acontecimentos acelerados no início, proporcionando uma imersão rápida devido à simplicidade inicial da história. A narrativa mescla os limites entre o mundo fictício de Elly e a realidade através do jogo de câmeras, resultando em reviravoltas surpreendentes de perspectiva e de quebra estereótipos ao mesmo tempo em que exalta eles.

A direção de Vaughn e a atuação orgânica dos atores são cruciais para o sucesso dessa proposta, pois o roteiro deixa a desejar em diversos momentos, com diálogos engessados e explicações desnecessárias. Vaughn demonstra habilidade ao manejar com destreza a transição entre os elementos fictícios e reais, criando uma atmosfera que sustenta o tom de imprevisibilidade diante de todos os absurdos e coincidências apresentados nessa comédia.

O DESPERDÍCIO DE UM ELENCO DE OURO

O trabalho de Vaughn se destaca também na escolha cuidadosa do elenco. A química entre os protagonistas, especialmente entre Elly e Aiden, o espião alérgico a gatos, é palpável e adiciona uma camada adicional de carisma à narrativa. A presença constante de Alfie, o gato de Elly, oferece momentos de alívio cômico, equilibrando perfeitamente a tensão crescente da trama principalmente se você for apaixonado pelos felinos.

Henry Cavill e Sam Rockwell combinam perfeitamente seus momentos de destaque ao atuar em paralelo. Cavill utiliza seu charme para transcender a artificialidade proposital do estilo artístico de Vaughn, enquanto Rockwell preenche a cena com seu humor áspero, repleto de respostas ácidas, contribuindo para a dinâmica apresentada enquanto mantém Elly perdida nos mistérios da trama.

A paródia possui aqueles casos raros de apesar de contar com uma história simples e um tanto quanto genérica consegue se manter em alta a todo momento devido a sinergia do elenco que reage quase que por instinto aos desejos e projeções surreais do diretor com uma naturalidade esteticamente prazerosa.

MAS E AÍ, VALE A PENA?

A cinematografia de “Argylle” é visualmente impressionante, destacada pelas cenas de ação coreografadas de maneira brilhante, com enquadramentos sempre focados no horizonte para expor toda a beleza das paisagens estilizadas, com cortes rápidos porém precisos e energeticamente frenéticos escolhidos para ilustrar essa comédia de espiões.

A trilha sonora, outro elemento característico dos filmes de Vaughn, contribui para a intensidade e atmosfera do filme com excelentes escolhas que fazem sentido dentro do universo de Elly Conway quanto para exaltar os sentimentos dos personagens. A escolha de músicas dinâmicas e envolventes amplifica a emoção das cenas, consolidando a visão única do diretor para o gênero de espionagem.

Argylle” se destaca como uma paródia que entrelaça comédia que funciona com momentos intensos de ação e uma abordagem moderna ao universo da espionagem, impulsionada pela experiência icônica e propositalmente exagerada de Matthew Vaughn. A união entre os temas envolventes da trama e a direção ágil culmina em um filme que vale a pena ser assistido. Na ambientação certa, ele cativa e surpreende aqueles que buscam uma experiência que entrega o mais puro suco de entretenimento.